05/01/2023 - 9:59
Por Philip Pullella e Crispian Balmer
CIDADE DO VATICANO (Reuters) – O papa Francisco presidiu o funeral do ex-papa Bento 16 nesta quinta-feira, proferindo uma homilia que comparou seu predecessor a Jesus, diante de dezenas de milhares de enlutados, incluindo alguns que gritavam que ele deveria ser santificado.
A morte de Bento 16 no sábado pôs fim a uma década em que o antigo e o atual papa viveram lado a lado no Vaticano e foi a primeira vez em mais de 200 anos que um pontífice conduziu o funeral de seu antecessor.
Sua morte foi uma perda para os conservadores, que ansiavam por um retorno a uma Igreja mais tradicional simbolizada por Bento, que chocou o mundo em 2013, ao se tornar o primeiro papa em 600 anos a renunciar em vez de comandar a Igreja até o final de sua vida.
No final do funeral na Praça de São Pedro, algumas pessoas gritaram em italiano “Santo Subito!” (Faça dele um santo agora!). Foi a mesma frase usada no funeral do Papa João Paulo 2º em 2005, embora por muito mais pessoas na época.
Embora três dos últimos cinco papas tenham sido santificados, apenas cerca de um terço de todos os pontífices foram canonizados nos 2.000 anos de história da Igreja.
Francisco, que passou a maior parte do culto sentado por conta de uma condição no joelho, levantou-se no final enquanto o caixão de Bento estava sendo levado. Segurando-se com uma bengala, ele o tocou enquanto inclinava a cabeça em oração silenciosa.
Aos 86 anos, Francisco, que usa uma cadeira de rodas, mas não mostra sinais de desaceleração, com viagens planejadas para a África e Portugal nos próximos meses, é hoje um ano mais velho do que Bento 16 quando se aposentou.
O próprio Francisco deixou claro que não hesitaria em renunciar algum dia se sua saúde mental ou física o impedisse de cumprir suas funções, mas as autoridades do Vaticano sempre duvidaram que ele pudesse fazer isso enquanto Bento ainda estivesse vivo.
O culto começou cerca de duas horas antes, quando, ao som de sinos, 12 carregadores carregaram o caixão de madeira com o corpo de Bento 16 para fora da Basílica de São Pedro e o colocaram no chão diante da maior igreja da cristandade.
A última vez que um papa no cargo presidiu o funeral de um antecessor foi em 1802, quando Pio 12 presidiu o culto a Pio 11, cujo corpo retornou ao Vaticano depois que ele morreu em 1799 no exílio.
Em sua homilia lida sentado diante do altar, Francisco usou mais de uma dúzia de referências bíblicas e escritos da Igreja nos quais parecia comparar Bento 16 a Jesus, incluindo suas últimas palavras antes de morrer na cruz: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.
Durante a missa co-celebrada por 125 cardeais, 200 bispos e cerca de 3.700 sacerdotes, Francisco falou da “sabedoria, ternura e devoção que nos concedeu ao longo dos anos”.
Ele mencionou Bento pelo nome apenas uma vez, na última linha, dizendo: “Bento, amigo fiel do Noivo, (Jesus) que sua alegria seja completa ao ouvir sua voz, agora e sempre!”
Clérigos de todo o mundo, um punhado de chefes de Estado e milhares de fiéis compareceram à cerimônia enquanto o sol irrompia lentamente pela névoa.
Mais de 1.000 seguranças italianos foram convocados para ajudar a proteger o evento, e o espaço aéreo ao redor da pequena Santa Sé foi fechado durante o dia. A Itália ordenou que as bandeiras em todo o país fossem hasteadas a meio mastro.
A polícia italiana disse que cerca de 50 mil pessoas estavam na praça.
Após a cerimônia fúnebre, o caixão foi levado de volta para dentro da basílica para ser envolto em zinco antes de ser selado em um segundo caixão de madeira.
A seu pedido, Bento 16 será enterrado ainda na quinta-feira nas grutas subterrâneas do Vaticano, no nicho onde primeiro o Papa João 23 e depois João Paulo 2º foram enterrados antes de seus restos mortais serem transferidos para lugares mais proeminentes na basílica acima.