22/04/2009 - 7:00
Do óleo ao caixa
“ Não tenho R$ 15 bilhões, tenho flexibilidade “
José sérgio gabrielli, presidente
A Petrobras esticou um cabo por cinco mil metros de profundidade na Bacia de Santos para confirmar a existência de mais uma área com óleo leve para exploração. O novo poço foi chamado de Iguaçu e está a cerca de 300 quilômetros da costa do Estado de São Paulo. “Essa descoberta foi importante, mas já estava precificada no papel”, diz Luiz Otávio Broad, analista da Ágora. “Para afetar positivamente a ação será preciso saber a qualidade do óleo”, afirma. O anúncio na terça-feira 14, de fato, foi ignorado pelos investidores. A ação preferencial da companhia estava em queda de 2,5% na semana, até a quinta- feira 16. Mas a redução do superávit primário (a economia da receita para o pagamento de juros e encargos da dívida) de 3,8% para 2,5% acerta em cheio a Petrobras. Isso porque a empresa de capital misto foi excluída das estatísticas do setor público, tanto nas despesas quanto nas receitas. O impacto no caixa é de cerca de R$ 15,5 bilhões já neste ano. “A medida pode destravar a roda dos investimentos e ajudar na recuperação dos índices econômicos”, analisa Marcelo Xandó, diretor da Verax Serviços Financeiros. O presidente José Sérgio Gabrielli, porém, preferiu conter o otimismo. Ele ressaltou que esse dinheiro será importante para a administração das contas da empresa. “Não tenho mais R$ 15 bilhões. Tenho flexibilidade para fazer uma captação ou um programa de desembolso mais rápido”, disse no Fórum Econômico Mundial, no Rio de Janeiro. É bom lembrar que a Petrobras precisou se socorrer no mercado bancário, no ano passado, com um empréstimo de US$ 6,5 bilhões – cerca de R$ 14,3 bilhões.
DESTAQUE NO PREGÃO
Adeus, dividendos!
A marca registrada das elétricas é a generosa distribuição de dividendos. Na última semana, a CTEEP distribuiu a última leva referente a 2008. Foram R$ 105 milhões, totalizando R$ 0,70 por ação. No ano passado inteiro, o pedaço do bolo repartido somou R$ 735 milhões. Somente no primeiro semestre de 2008, a Eletropaulo distribuiu R$ 395,5 milhões. E, após anunciar seu lucro do ano passado (R$ 1,02 bilhão), a empresa afirmou que distribuirá aos acionistas R$ 683 milhões deste valor em forma de dividendos complementares, o que significa um ganho de R$ 4,24 por ação. Mas essa não é a regra para todas em 2009. Com gastos pesados em investimentos e nos leilões, as elétricas apertarão os cintos e o investidor deve se preparar para ver sua fatia diminuída. |
PALAVRA DE ANALISTA
A Eletropaulo será uma das únicas elétricas com caixa suficiente para manter os altos dividendos em 2009. Quem afirma é o analista Vicente Koki, da Banif Corretora. Segundo ele, a empresa não terá altos gastos com investimentos e nem participou recentemente de leilões, podendo assim manter o mesmo nível de distribuição dos últimos anos. “Os gastos da Eletropaulo são apenas com manutenção. Ao contrário da grande maioria das elétricas que participaram de leilões e terão que fazer investimentos pesados na construção de novas usinas e instalações”, afirma Koki. A diminuição de dividendos é, segundo o analista, uma das únicas armas das elétricas no corte de gastos.
Serviços
Ponto final para a Net
A quinta-feira 16 foi ponto-chave para a Net. A empresa comandada por José Felix nem se importou com a queda de 6,4% de sua ação preferencial no pregão, embora o Ibovespa tenha subido 1,6%. As atenções estavam voltadas para Brasília. O destino da companhia estava nas mãos da Anatel, que decidiria sobre a cobrança do ponto extra das tevês por assinatura. E a agência proibiu as empresas de tevê a cabo de cobrar mensalmente pelo serviço. “A Net calcula um impacto máximo de 5% na receita e 20% no Ebtida”, diz Beatriz Batelli, analista da Brascan. Com a decisão, as ações da empresa devem sofrer, pois a queda da receita já deverá ser informada na conferência do primeiro trimestre na terça-feira 28. No ano, a Net PN está em alta de 15,2%.
QUEM VEM LÁ
Eles voltaram para ficar?
Eles correram quando a crise apertou. Saíram com tanta pressa que derrubaram a BM&FBovespa. Os R$ 25,9 bilhões em saques, desde agosto do ano passado, fizeram algumas ações valerem menos do que seus valores patrimoniais e colocaram uma interrogação na cabeça do investidor local: será que o mercado acionário estava acabado? Não, não estava. Era apenas a liquidez dos papéis brasileiros que os ajudava a tapar os buracos no quintal de suas casas. Agora, com o cenário mais estável, eles estão de volta. Sim, estamos falando dos investidores estrangeiros. De 1º a 9 de abril, eles foram os maiores compradores da Bolsa, ficando com 19,9% do volume total movimentado no período (R$ 13,2 bilhões). Melhor que isso, o saldo está R$ 2,3 bilhões positivo. Esse retorno está contribuindo com a alta do Ibovespa e aumentando o volume de negócios diários do pregão. Resta torcer para que eles fiquem de vez.
FIQUE DE OLHO: Os estrangeiros são um bom termômetro para o investidor local saber se o apetite mundial por ações está de volta.
TOURO X URSO
A semana começa agitada na BM&FBovespa com o vencimento da série D de opções de ações, na segunda-feira 20. A expectativa é que os volumes movimentados pela Bolsa aumentem gradativamente com a volta dos investidores estrangeiros (ver Quem vem lá). Essa entrada de novos recursos já será suficiente para provocar uma valorização nos papéis das principais empresas brasileiras.
O urso, símbolo de baixa na Bolsa, está sonolento e parece preparado para hibernar. Porém, é preciso atenção aos dados econômicos que podem despertá-lo e provocar sua fúria. No Brasil, o Banco Central divulga os dados das operações de crédito e da política monetária relativos a março, na quinta-feira 23. Os índices de inflação também devem ser monitorados semanalmente. Nos EUA, cuidado com os pedidos de refinanciamento de hipoteca e auxílio desemprego.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
O guia “Investin-do em Ações no Longo Prazo” (Campus Else-vier), de Jeremy Siegel, está na quarta edição com alguns capítulos extras que falam sobre globalização, diversificação internacional e finanças comportamentais. Um dos pontos fortes é o argumento de que o mercado é um todo, e não um universo dividido por empresas.
MERCADO EM NÚMEROS
VALE
R$ 2,7 bilhões
É o valor total dos dividendos que a Vale distribuirá para seus acionistas, o que corresponde a R$ 0,52 por ação. Desde 16 de abril os papéis são negociados como EX.
ALL LOGÍSTICA
150%
É o crescimento esperado pela AL no segmento de contêineres. Está prevista para julho a inauguração de um terminal em Mato Grosso, em parceria com a Standard.
AMBEV
R$ 0,34
É o valor do juro sobre capital próprio que a Ambev destinará às ações ordinárias. O papel preferencial receberá R$ 0,38. A partir de 23 de abril, as ações passam a ser negociadas como EX.
ITA USA
R$ 2,5 bilhões
Será o aumento de capital da Itausa, que passaria de R$ 10 bilhões para R$ 12,5 bilhões. O aumento acontecerá com a proposta do Conselho, que quer bonificar os acionistas com uma ação para cada dez papéis.
CEMIG
R$ 491 milhões
Será o investimento da Cemig na ampliação da rede de energia elétrica. Devem ser realizadas 55 mil ligações até o final de 2010.
RANDON
R$ 6 milhões
É a proposta de aumento de capital da Randon com a incorporação das reservas e do capital de giro. Atualmente, o capital social da empresa é de R$ 400 milhões.
PERSONAGEM
Remédio contra a crise
A Profarma entrega produtos farmacêuticos em 91% do território nacional, através dos seus 12 centros de distribuição. No ano passado, o papel da empresa despencou 88%. O tombo, porém, não teve ligação com a crise econômica. Foi a saída dos investidores internacionais que derrubou o valor das pequenas companhias. Apesar dos diagnósticos de dias difíceis, a Profarma tem motivos para estar otimista. “Se o PIB for zero, o setor vai crescer por volta de 5%”, diz Max Fischer, diretor financeiro e de relações com investidores, que falou à DINHEIRO:
“A falta de liquidez penalizou as pequenas“
Max Fischer, diretor de RI da Profarma
DINHEIRO – A crise faz as pessoas comprarem mais medicamentos?
MAX FISCHER – Esse é um setor defensivo, o que faz o consumo ser menos afetado pela crise. O desempenho do mercado farmacêutico acompanha o crescimento do PIB, com um colchãozinho de 5,6 pontos percentuais. No ano passado crescemos 12% e o PIB, 5,5%. O consenso é que o PIB deste ano vai ser zero, então devemos crescer por volta de 5%.
DINHEIRO – E como está o controle da inadimplência?
FISCHER – No primeiro trimestre é sempre maior do que no resto do ano. Este ano a inadimplência está, em média, 10% maior.
DINHEIRO – A venda da Medley mexe com a distribuição?
FISCHER – Não vejo mudança. A intenção da Sanofi-Aventis é manter a Medley independente. O medicamento genérico tem uma dinâmica diferente da do remédio de marca. Temos um excelente relacionamento com a Sanofi.
DINHEIRO – Em termos gerais, onde está o maior custo?
FISCHER – No fiscal. Pago R$ 11 milhões de ICMS por mês. A reforma tributária ajudaria bastante a aumentar a penetração e o acesso da população ao medicamento. Em 2001, o governo reduziu o PIS e a Cofins e o medicamento caiu quase 10% para o consumidor. Vimos que o mercado responde a essa variável.
DINHEIRO – A recompra de ações continua?
FISCHER – A intenção é mostrar para o investidor que o papel está barato. E aumentar o retorno para o acionista que fica. Preten- demos cancelar essas ações, pois entendemos que não vai prejudicar a liquidez. Mas não estou fazendo dívida para isso, apesar de hoje fazer sentido.
DINHEIRO – A troca do formador de mercado fez sentido?
FISCHER – Trocamos o UBS Pactual pelo Credit Suisse. Sabemos que ele não influencia no preço da ação. O objetivo é aumentar a liquidez. Está sendo muito útil. A falta de liquidez penalizou o valor de mercado das pequenas empresas.
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DISCLAIMER – Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes empresas: Vale, Petrobras, Usiminas, BM&FBovespa, Bradesco e Itaú, Redecard, Pão de Açúcar e Banco do Brasil.