06/05/2009 - 7:00
A mão visível do mercado
A definição é de Adam Smith. É preciso deixar que a mão invisível do mercado seja responsável pelo próprio comportamento dos participantes, sem a intervenção do Estado. O presidente Lula parece ter feito uma releitura da definição do intelectual inglês quando se olha o desempenho da BM&FBovespa em abril. Foi a mão visível do mercado a responsável pela maior parte da valorização das empresas. Das 15 maiores altas, oito tem ligação direta ou indireta com medidas que o governo federal tomou para estimular a economia (veja quadro). A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ajudou a Plascar e a Randon, que são ligadas ao setor automotivo, e a Brasmotor, fabricante de eletroeletrônicos. O pacote habitacional “Minha Casa Minha Vida” vai ajudar famílias de até dez salários mínimos a comprar imóveis. A notícia pode não ter chegado aos balanços, mas já fez as construtoras mudarem seus projetos para a baixa renda. E os papéis do setor imobiliário recuperaram parte das perdas do ano passado. É o caso de Brasil Brokers, Brascan, Rossi, Tenda e Agra. No entanto, é preciso ponderar que a recuperação da BM&FBovespa foi rápida e fez março e abril se transformarem em meses surpreendentes. “Houve uma ajudinha do governo nessa recuperação”, diz Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. “Mas março foi o mês da recuperação de papéis de primeira linha, como Vale e Petro, e abril foi o mês daqueles de segunda linha, que estavam no fundo do poço, como o setor imobiliário”, afirma ele.
DESTAQUE NO PREGÃO
A Klabin agradece
Inpar, Tenda e Abyara formavam a tríade de construtoras em apuros que tiveram que ser resgatadas por companhias maiores a um preço nem sempre justo para os acionistas. Para transformar o trio em quarteto, só estava faltando a Klabin Segall. Estava. O empresário espanhol Enrique Bañuelos, controlador da Veremonte Participações, e a incorporadora Agra serão os novos controladores da Klabin Segall. A dupla vai investir R$ 153 milhões numa nova empresa que será incorporada pela Klabin Segall. Esta, por sua vez, emitirá novas ações e os atuais controladores, Sérgio e Oscar Segall e Antônio Setin, serão diluídos no capital. Na quarta-feira 29, um dia depois de o negócio ser divulgado, as ações ordinárias da Agra subiram 3% e as preferenciais da Klabin, 1%..
PALAVRA DE ANALISTA
O aporte de capital dará novo ânimo à empresa. No entanto, ainda há problemas a serem resolvidos. “Ela precisa reestruturar sua dívida. A Klabin possui uma debênture de R$ 430 milhões que precisa ser negociada. Em dezembro de 2008, o patrimônio líquido era inferior ao valor da debênture”, afirma o analista Eduardo Silveira, do Banco Fator. Em novembro de 2008, Sérgio Segall afirmou à DINHEIRO que a empresa não iria se fundir ou “bolar uma operação com outra empresa”. Não foi o que aconteceu. Segundo Silveira, os minoritários sairão prejudicados. “Nós entendemos essa operação como uma troca de controle. E o minoritário não teve o direito de retirada”, diz.
Parmalat
Fora do pregão
O empresário Marcus Elias decidiu retirar as ações da Parmalat (LCSA 3 e LCSA 4) do mercado. Irá manter na bolsa, contudo, os papéis da controladora LAEP (MILK11). A notícia surpreendeu o mercado na terça-feira 28 e as ações da companhia tiveram alta de 7,5% no dia seguinte. Nos últimos 12 meses, os papéis da LAEP sofreram desvalorização superior a 90%. A ideia de Elias é lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) na qual as ações da Parmalat serão adquiridas pela LAEP. Com isso, os códigos LCSA3 e LCSA4 deixarão de existir no pregão. Isso fez as ações da Parmalat subirem também, chegando a 8% de alta para o papel preferencial na quartafeira 29. O valor de mercado da Parmalat é inferior a R$ 11 milhões.
QUEM VEM LÁ
O barulho da bolsa
Já é tradição na Bolsa de Nova York. As aberturas e fechamentos dos pregões são eventos festivos, que homenageiam as empresas listadas na NYSE Euronext, como o Bradesco. Pessoas que estão em destaque nos noticiários também são convidadas para soar a campainha. E, para quem fecha, há a obrigatoriedade de bater três vezes o martelo. A BM&FBovespa anunciou na quarta-feira 29 o Dia da Empresa. Ainda sem data de estreia, a ideia é que as companhias listadas possam tocar simbolicamente a campainha de abertura e depois se reunir com profissionais do mercado e investidores.
FIQUE DE OLHO: Inúmeras corretoras têm balcões na Bolsa de Nova York, o que possibilita um clima de negociação para o toque da campainha. No Brasil, essa cerimônia deve acontecer no mercado de futuros.
PERSONAGEM
Uma vez Flamengo….
A compra da Azaléia em julho de 2007 só trouxe benefícios para a Vulcabras. O nome da companhia – Vulcabras|Azaléia – foi a primeira mudança visível, que possibilitou investimentos recorde de R$ 111 milhões. Esses dois pesos fizeram a empresa se consolidar como a maior fabricante de calçados da América Latina, com faturamento de R$ 2 bilhões no ano passado. Na BM&FBovespa, a valorização é de 38% em abril, embora o papel seja pouco negociado. Para a empresa, o ano parece que começa no segundo semestre. Há a expectativa da concretização do fornecimento de material esportivo, pela marca Olympikus, para o Flamengo. Seria o maior contrato desse tipo no Brasil. E, embora o presidente Milton Cardoso não fale em números, as especulações indicam que podem chegar a R$ 20 milhões. Pontualmente, a preocupação de Cardoso é com a invasão dos produtos chineses, que deve ser resolvida em breve. “Estou otimista com o segundo semestre”, disse ele à DINHEIRO:
DINHEIRO – O dólar era uma das reclamações do setor no primeiro semestre de 2008. A valorização da moeda causou algum impacto?
MILTON CARDOSO – Todos achavam que as importações iriam cair com a valorização de mais de 40%. Mas a importação cresce descontroladamente. Em média, de 45% a 50% sobre o mês anterior, desde julho do ano passado. Isso se explica pelo grande estoque de sapatos boiando no mundo. Eles não podem queimar nos EUA, Japão e Europa porque haverá efeitos nos balanços. A desova precisa ser em mercados grandes, como o Brasil, que está entre o 4º e o 5º consumo mundial, e tem uma indústria que abastece apenas o mercado local. O prejuízo, portanto, fica só com o produtor local.
DINHEIRO – Qual o efeito para a companhia?
CARDOSO – Isso nos afeta, embora tenhamos crescido 56% em receita bruta sobre o ano anterior. É claro que tem que se levar em consideração apenas os seis meses das aquisições da Azaléia e da Indular nos resultados de 2007. No consolidado pro forma entre todas as empresas, crescemos 10% em receita bruta. No último trimestre do ano passado, a indústria calçadista demitiu 42 mil pessoas, cerca de 13% da mão de obra do setor. Os efeitos são claros.
DINHEIRO – O que fazer diante disso?
CARDOSO – Está em discussão, no Brasil e na Argentina, a prática de dumping. Por ser séria e grave, foi aberto um processo de investigação na secretaria do Ministério do Comércio Exterior para averiguação desse problema. Há um resultado que mostra um dumping de 435% das importações da China. Esse processo está desde dezembro e espero a definição entre 30 e 60 dias, com a tarifa antidumping.
DINHEIRO – Qual é o projeto para a bolsa?
CARDOSO – O papel tem baixa dispersão. O controlador e o BNDES têm 90% das ações. Chegamos a considerar ir ao mercado e fazer uma oferta primária para aumentar a base de capital e ajudar nossos projetos arrojados de crescimento. Com a situação atual, adiamos essa questão. Mas não é motivo de preocupação porque a empresa tem uma situação financeira razoável, e embora a dívida seja importante está bastante escalonada.
DINHEIRO – A dívida é de 178% sobre o patrimônio líquido.
CARDOSO – Sim, mas o retorno foi de 80% sobre o patrimônio líquido. A dívida tem vencimento em 2018 e são linhas como a do BNDES, com pouca variação de curto prazo.
DINHEIRO – Houve algum problema com a apresentação dos resultados?
CARDOSO – Foram duas semanas de atraso, considerado o prazo de entrega. Tivemos alguns complicadores no balanço, que foram a mudança na lei contábil e a reorganização societária da marca Reebok. Mas foram fatos fora do normal e não deverão se repetir.
AVISO – Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investi mentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes em presas: Vale, Petrobras, Usiminas, BM&FBovespa, Bradesco e Itaú, Redecard, Pão de Açúcar e Banco do Brasil.
CVM
Mais transparência
Não basta abrir a porta da bolsa para os investidores. Tem que participar. As corretoras e os demais intermediários do mercado de ações, futuros e opções terão de aperfeiçoar ainda mais a prestação de serviços aos seus clientes, conhecendo-os a fundo, dando ciência dos riscos e monitorando suas operações mais de perto. É o que pretende a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com a minuta de instrução 04/09, colocada em audiência pública na terça-feira 28 e aberta para sugestões. As corretoras terão que colocar suas melhores práticas no papel, adotando, implementando e supervisionando as regras, os procedimentos e os controles internos com base em parâmetros mínimos determinados pela legislação vigente e pelas entidades autorreguladoras. Devem, ainda, estabelecer padrões mais estritos e éticos para evitar conflitos de interesses entre suas atividades próprias e as de seus investidores. “Quanto mais transparência houver entre os intermediários e os clientes, melhor para todos”, diz o superintendente de relações com o mercado da CVM, Waldir de Jesus Nobre.