14/01/2009 - 8:00
O ano mal começou e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, já provocou os presidentes das instituições financeiras pedindo redução no spread (margem de ganho) bancário. A diferença que os bancos cobram entre a captação e o empréstimo do dinheiro chegou a 39,7% para pessoas físicas em outubro, último dado disponível no BC. Apesar da possibilidade de retração na oferta de crédito, as margens de lucros dos bancos seriam preservadas com esse ganho no spread. Em razão disso, eles continuam bem avaliados pelas corretoras como boas opções de compra de ação (veja as dicas no guia ONDE INVESTIR EM 2009 à página 56). A maior preocupação para Itaú- Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e seus pares é o aumento do calote, que deve ser o calcanhar- de-aquiles do sistema bancário após os níveis de empréstimo terem atingido 40,2% do Produto Interno Bruto (PIB). ?Uma preocupação latente é a provável pressão nos índices de inadimplência que, atualmente, estão em patamares aceitáveis?, diz Clodoir Vieira, chefe de análise da Souza Barros. O Bradesco é quem deve ter o ano mais agitado. A decisão mais importante é quanto à sucessão de Márcio Cypriano, que atingiu a idade-limite prevista no estatuto para permanecer na presidência. As apostas de mercado dão conta da revisão das normas para renovar o mandato de Cypriano. ?O Bradesco é uma instituição conservadora, contida nas decisões e nas estratégias, e que pensa na rentabilidade do acionista?, avalia Ricardo Martins, gerente de análise da Planner.
“O Bradesco é uma instituição conservadora, que pensa na rentabilidade do acionista“
RICARDO MARTINS, analista da Planner
DESTAQUE NO PREGÃO
Confiança nas siderúrgicas
Os setores de siderurgia e mineração engrossam as apostas das corretoras no guia ONDE INVESTIR EM 2009, recebendo cinco sugestões de compra de papéis (ver pág.56). Os pontos fortes para o ano são os incentivos esperados para as montadoras de automóveis e para a construção civil, tanto no Brasil como no Exterior. É preciso ficar alerta porque o socorro dos governos pode ser insuficiente para manter o crescimento de companhias como a Gerdau, presidida por André Gerdau, e a Usiminas. O que vai determinar o sucesso desses incentivos oficiais é o tamanho da oferta de crédito. ?A demanda menor que a esperada e a redução significativa na cotação do dólar são riscos a se considerar para o ano?, diz Wagner Salaverry, chefe de análise do Banco Geração Futuro.
PALAVRA DE ANALISTA
Das indicações para o setor, a Aços Villares é a que mais chama a atenção. Nos últimos anos, a companhia passou por uma reestruturação da sua dívida líquida, o que deixou seu caixa mais saudável. ?Esse ajuste poderá ajudar a Aços Villares a superar este período conturbado e a pagar dividendos mais altos aos seus acionistas?, diz José Góes, economista da WinTrade. Para Gerdau e Usiminas, a participação em grandes projetos de infra-estrutura no Brasil é o grande trunfo para superar as condições externas desfavoráveis. ?Não podemos nos esquecer que a Usiminas conta com uma gestão conservadora e um nível de endividamento confortável?, afirma Rodrigo Ferraz, da Brascan.
REDECARD
Dinheiro de plástico
A Redecard está sendo considerada o filé mignon do setor financeiro. A empresa de credenciamento de cartões de crédito e débito, presidida por Roberto Medeiros, necessita de baixo nível de investimento e está presente apenas no mercado interno. O pay out da empresa também é atrativo, chegando a 95%. ?A Redecard traz três importantes variáveis para o investidor: crescimento, dividendo e rentabilidade?, descreve Eduardo Kondo, chefe de análise da Concórdia. Os dados da associação setorial, a Abecs, indicam que, se os cartões se mantiverem com a taxa de utilização no mesmo ritmo dos últimos três anos, no ano de 2017 esse meio de pagamento significará 40% de todas as transações financeiras no Brasil.
Campainha empoeirada
A campainha da BM&FBovespa, acionada nos lançamentos iniciais de ações (IPOs), descansou em 2008 e tudo indica que continuará empoeirada em 2009. No ano passado, ocorreram apenas 12 operações, das quais quatro foram IPOs: Nutriplant, Hypermarcas, Lê Lis Blanc e OGX Petróleo. A petrolífera estreante de Eike Batista captou R$ 6,7 bilhões e, desde o lançamento, suas ações caíram 60% na esteira da crise internacional. No total, as emissões somaram R$ 34 bilhões, pouco menos da metade do recorde de 2007. Em 2009, as ações devem perder espaço para outros instrumentos de captação, como as debêntures. ?O mercado era de equity, agora deve ser de dívida?, diz Ary Oswaldo Mattos Filho, ex-presidente da CVM e conselheiro da Bolsa.
FIQUE DE OLHO: O governo do Brasil captou US$ 1 bilhão no Exterior a um custo baixo. A Petrobras é a próxima da lista. Sinal de que os ventos do mercado externo estão melhorando, lembra Mattos Filho.
TOURO X URSO
A semana que antecede a posse de Barack Obama na presidência dos EUA pode beneficiar as Bolsas mundiais. A possibilidade de um pacote de centenas de bilhões de dólares de estímulo à economia pode, aos poucos, fazer com que o investidor retome sua confiança no mercado de renda variável. Nos dias 14 e 15, a expectativa é com os resultados da primeira reunião do ano do Banco Central Europeu.
O Governo Federal americano apresenta o seu orçamento na terça 13. O Congresso projeta um rombo fiscal no orçamento de cerca de US$ 1,2 trilhão para 2009, valor que não considera o plano econômico de Obama. Caso os números fujam dessa expectativa, os investidores podem se retrair. No Brasil, a preocupação com os cortes de empregos será medida com a divulgação da pesquisa industrial de empregos e salários pelo IBGE.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
O Instituto Brasileiro de Relação com Investidores (IBRI) lançou o livro O Estado da Arte das Relações com Investidores no Brasil. É uma boa oportunidade para entender o papel dos profissionais de RI, que atendem os acionistas, e conhecer os melhores casos da área. Mais informações no site do IBRI na internet:
MERCADO EM NÚMEROS
BM&FBOVESPA
14,7% de alta
foi o crescimento no volume financeiro dos mercados de renda fixa e renda variável na BM&FBovespa em 2008. O giro total dos mercados de ações e derivativos foi de R$ 1,4 trilhão.
CSN
9,7 milhões
é a quantidade de ações que a CSN irá recomprar até 28 de janeiro, o equivalente a 2,2% dos papéis em circulação. Cerca de 300 funcionários foram demitidos da usina do Rio de Janeiro.
ARACRUZ
R$ 150 mil
é o prejuízo estimado pela Aracruz com o incêndio em suas terras no Rio Grande do Sul. A produtora de papel e celulose perdeu 1,5 mil toneladas de madeira.
LUPATECH
10% do capital
é a nova participação do fundo de pensão Petros, dos funcionários da Petrobras, na Lupatech.
TRANSMISSÃO PAULISTA
R$ 0,82 por ação
é o valor do pagamento de dividendos que a Transmissão Paulista fará para a sua base de acionistas, nas duas classes, em 20 de janeiro.
LOG-IN
R$ 6,7 milhões
foi quanto a Log-In recebeu no quatro trimestre de 2008 por conta de suas cotas do fundo da Marinha Mercante.
AMBEV
6% de aumento
foi quanto subiu a taxa média da nova carga tributária para o setor de bebidas. A alta deve impactar os resultados das cervejarias, como a Ambev, em 2009.
PERSONAGEM
O salário do presidente
As companhias de capital aberto engrossam o coro contra a divulgação dos salários dos seus executivos, como quer a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e os acionistas minoritários. Antonio Castro, presidente da Abrasca, a entidade do setor, conversou sobre o tema com a DINHEIRO.
DINHEIRO ? A CVM quer que as empresas divulguem os salários dos executivos. A Abrasca é contra?
ANTONIO CASTRO ? Somos a favor da informação separada sobre a remuneração fixa e a variável dos diretores e conselheiros. Essa segmentação e o número de dirigentes da empresa definido, obviamente já indica qual é a remuneração média. Isso é muito bom do ponto de vista do acionista. Não vemos necessidade de individualizar a remuneração. O acionista não tem necessidade dessa informação.
DINHEIRO ? Por que não? Nos EUA, isso é muito comum. Quando as empresas têm problemas, esses números sempre aparecem.
CASTRO ? Nos EUA, houve vários problemas sobre o nível excessivo de remuneração variável. Tenho uma sensação de que a abertura dessas informações leva muitos executivos, principalmente os CEOs, a querer equiparar-se aos seus colegas. Isso gera uma pressão competitiva muito grande. A permanência de executivos de alto padrão é muito importante para o sucesso das empresas de capital aberto. Isso é um efeito desfavorável. E o ambiente de segurança nos EUA e no Brasil é muito diferente. Alguns controladores de empresa têm condição de ter segurança própria, carros blindados. Alguns executivos, principalmente os jovens brilhantes, não têm necessariamente como lidar com esse tipo de cuidado.
“O acionista não tem a necessidade dessa informação (o salário de cada dirigente)”
ANTONIO CASTRO, presidente da Abrasca
DINHEIRO ? Depois dos problemas dos derivativos, o sr. acha que as empresas abertas no Brasil têm grau de transparência suficiente com os acionistas?
CASTRO ? Há 440 empresas abertas. O número de companhias com problemas de derivativos não é significativo. Mas concordo que houve problemas relacionados à transparência. Existiam limites e normas operacionais que não foram observados.
DINHEIRO ? Quais são as perspectivas para o mercado de capitais em 2009?
CASTRO ? Há dois cenários. Se a economia americana tiver uma recuperação mais rápida, é possível que depois das férias de verão do Hemisfério Norte a gente tenha uma retomada dos investimentos estrangeiros. A aversão a risco deles, que hoje é muito grande, talvez seja mais contida. Num cenário mais conservador, talvez a retomada do mercado de ações venha ocorrer somente em 2010. Existem outros instrumentos que têm condições muito favoráveis, como as notas promissórias, de prazo mais curto, e as debêntures que misturam renda fixa e variável. Quanto aos IPOs, o recorde de 2007 (64) não se repetirá. A tendência é que o final de 2009 seja melhor que o de 2008.
PELO MUNDO
FRAUDE INDIANA
A Satyam, gigante de tecnologia da Índia, admitiu fraude em seus balanços dos últimos anos. O próprio presidente, B. Ramalinga Raju, confessou ter forjado lucros maiores em uma cartarenúncia divulgada na última semana. As ações da empresa caíram 83% na Bolsa de Mumbai e 90% na NYSE, na quarta-feira 7.
CONTRASTE NO VAREJO
Após os dados negativos de vendas no varejo norte-americano em dezembro, dois resultados sobressaíram. O Wal-Mart, grande vencedor de 2008, viu suas ações despencarem 8% na NYSE na quintafeira 8, enquanto a Sears, sua concorrente, teve alta de 23%. Tudo porque as estimativas de lucro para o quarto trimestre divulgadas pela Sears superaram as expectativas dos analistas.
LENOVO DESACELERA
A gigante chinesa do setor de informática anunciou que cortará 11% de seus funcionários, esperando assim diminuir seus gastos em US$ 300 milhões até 2010. Serão 2.500 demissões. A empresa atribui os cortes à queda na demanda por computadores. As ações da Lenovo caíram 25% na Bolsa de Hong Kong na quinta-feira 8.
ALEMANHA AO RESGATE
O governo alemão injetou ? 10 bilhões no Commerzbank, banco do comércio da Alemanha, adquirindo assim uma parcela de 25% de suas ações. A injeção de capital permitirá um alívio financeiro para que o Commerzbank complete a compra do banco Dresdner na Alemanha. As ações do banco caíram 11% em Frankfurt na quinta-feira 8.