22/07/2009 - 7:00
Os donos da voz
Caio Auriemo,
fundador da Dasa
A lenta modernização do capitalismo brasileiro deu mais um passo na quarta-feira 15. O fundador da Diagnósticos da América (Dasa), Caio Auriemo, passou adiante a participação remanescente da família na empresa, em leilão na Bovespa. Auriemo colocou à venda 10,45% do capital e teve sorte. A operação foi feita num dia de forte alta na bolsa ? o Ibovespa subiu quase 5% ?, o que criou um clima de disputa e elevou a cotação das ações ordinárias para R$ 36,01, acima dos R$ 35,00 que pretendia receber do comprador inicial, a gestora de recursos Tarpon. Ao final, o empresário recebeu R$ 216 milhões. Sua saída representa a vitória dos acionistas minoritários ativistas na guerra de nervos que começou em 1999 com a entrada do fundo Pátria Investimentos. Descontentes com a gestão de Auriemo, que contratava serviços de outras empresas da própria família, os minoritários se reuniram e pressionaram por sua saída. Ele entregou o bastão executivo em 2005 e este ano perdeu a presidência do conselho de administração para Alexandre Saigh, do Pátria. Outros minoritários influentes nesse processo foram o Credit Suisse Hedging Griffo e o HSBC, além da Fundação Vale do Rio Doce de Seguridade Social (Valia). Essa tendência, ao que tudo indica, veio para ficar. Quanto mais as empresas pulverizam o capital na bolsa, mais os donos tradicionais perdem a voz para os minoritários, que privilegiam o retorno do capital e a sustentabilidade dos negócios. ?Os sinais são auspiciosos?, diz Marcos Duarte, sócio da Polo Capital.
DESTAQUE NO PREGÃO
A bolsa na mira do Fator
Até onde vai o fôlego da bolsa? Na semana passada, o Ibovespa escorregou para 48.872 pontos e depois voltou a roçar os 52.000 pontos, numa oscilação de deixar os investidores incautos de cabelo em pé. Tudo bem ? o importante é que os investidores estrangeiros voltaram a apostar no Brasil e os negócios esquentaram na BM&FBovespa. Tanto que a ação da própria bolsa (BVMF3) disparou e acumula alta de 105% no ano até quinta-feira 16, quando fechou a R$ 12,09. O presidente da empresa, Edemir Pinto, não pode se queixar. Apesar da crise financeira global, a receita líquida cresceu 16,4% em 2008 e a margem Lajida subiu 5,1 pontos percentuais, para 68%, apontou o primeiro relatório do Banco Fator sobre a companhia.
PALAVRA DE ANALISTA
Jacqueline Lison e Gustavo Mendes Lôbo começaram a cobertura de BM&FBovespa com uma recomendação de compra. Para os analistas do Fator, o preço-alvo do papel para junho de 2010 é de R$ 16. O potencial de valorização, portanto, é de 32% sobre o fechamento de quinta-feira 16. ?O principal ponto de nossa tese de investimento é a expectativa de forte crescimento por meio da expansão dos volumes transacionados tanto no segmento Bovespa quanto BM&F?, escreveu a dupla em 13 de julho. O aumento da capitalização de mercado, a maior velocidade do giro das ações e o incremento no volume de contratos negociados são os pontos fortes da bolsa.
TIM
Especulou, dançou
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) jogou água fria na especulação com as ações ordinárias da TIM Participações (TCSL3). O papel caiu 22,7% na quinta-feira 16, depois que o xerife do mercado não obrigou a maior acionista da TIM, a italiana Telco, a fazer uma oferta pública aos minoritários com direito a voto na operadora brasileira. Em janeiro, parecer da Superintendência de Registro de Valores Mobiliários da CVM recomendou a OPA e as ordinárias subiram 30%. Mas agora o colegiado votou contra a decisão, por três votos a dois, e os preços foram corrigidos. Quem comprou na alta, dançou. O presidente da Tim Brasil, Luca Luciani, não comenta a vitória dos italianos. Em princípio, a Telco teria uma despesa de R$ 1,4 bilhão, se tivesse perdido a causa.
QUEM VEM LÁ
Captação sabonete
A Natura vai fazer uma oferta pública secundária de ações. É esperada uma captação entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão. Um bom dinheiro para investir, certo? Errado. Como não são novos papéis que estão sendo emitidos, todo o dinheiro captado vai diretamente para o bolso dos sócios controladores. Dos 48,3 milhões de ações, de 10% a 15% serão para os pequenos investidores, que poderão fazer suas reservas entre os dias 28 e 29 de julho no valor mínimo de R$ 3 mil. Nos fatores de risco, a partir da página 79 do prospecto, atenção ao valor total das 158 ações tributárias que a Natura responde na Justiça. São R$ 455,8 milhões, mas somente R$ 87,3 milhões estão provisionados. O preço inicialmente previsto por ação é de R$ 26,30, mas o martelo final será batido no dia 30 de julho. O papel fechou a R$ 27,88 na quinta-feira 16 e a tendência é de o mercado ajustar os dois preços
FIQUE DE OLHO: A Gafisa cancelou sua oferta pública de ações, na qual pretendia levantar R$ 700 milhões. E não explicou os motivos.
TOURO X URSO
Os bons ventos do mercado financeiro americano ajudaram o Ibovespa a subir quase 5% em um único dia na semana passada. O ânimo dos investidores não deve ser afetado por dados macroeconômicos. A expectativa está depositada nos dois dias de reunião do Copom, com divulgação da taxa Selic na quartafeira 22. Se a corrente de otimismo prevalecer, é provável que haja nova queda do juro básico.
O nervosismo da bolsa começa na abertura do pregão da segunda-feira 20. É dia de vencimento da série de opções sobre ações, série G, o que pode provocar muita volatilidade ao longo de todo o dia. Nesta data, a China divulga seus dados de vendas e estoque das empresas. Será uma amostra do potencial chinês para continuar consumindo, o que afeta diretamente os países que exportam para a Ásia, inclusive o Brasil.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Invista regularmente em ações de empresas de alto crescimento e reaplique os dividendos recebidos. Disciplina ? este é o segredo do sucesso na bolsa de valores, segundo o Instituto Nacional de Investidores (INI). Para entender como fazer isso na prática, vale a pena consultar o recémlançado ?O Mercado de Ações em 25 Episódios?, de Paulo Portinho (Campus Elsevier, 225 págs., R$ 55).
MERCADO EM NÚMEROS
PÃO DE AÇÚCAR
R$ 5 bilhões
foi o total das vendas líquidas do Pão de Açúcar no segundo trimestre, crescimento de 18,1% sobre o mesmo período do ano passado.
USIMINAS
20%
era a previsão de aumento das vendas da Usiminas no segundo trimestre. A empresa, porém, informou que não conseguirá cumprir a meta. Os preços do mercado doméstico deverão ser 15% menores no período.
MRV
128,7%
é a prévia da expansão GRODETZKYor Geral de Vendas da MRV no segundo trimestre deste ano, quando os lançamentos devem totalizar R$ 614 milhões, na comparação com o primeiro trimestre. Porém, há queda de 23% na comparação com o segundo trimestre de 2008. No balanço do primeiro semestre de 2009, o total de vendas será de R$ 882,6 milhões.
ELETROBRÁS
R$ 6 milhões
é o valor a mais que estará nos resultados da Eletrobrás do segundo trimestre, com o aumento das tarifas de energia.
ALL
R$ 691,6 milhões
é o tamanho do empréstimo que a ALL Logística conseguiu no BNDES, com prazo de pagamento de 20 anos, para a ampliação e conservação de estradas de ferro em Mato Grosso.
KLABIN SEGALL
R$ 151,9 milhões
é o aumento no patrimônio da Klabin Segall com a incorporação da Pirineus, empresa que pertencia à Veremonte e Agra.
BALANÇO
Aracruz volta a dar lucro
A Aracruz começou o ano devendo. A empresa comandada por Carlos Augusto Lira Aguiar tem uma dívida de mais de R$ 4 bilhões, provocada pela valorização do dólar no segundo semestre do ano passado. No balanço do primeiro trimestre deste ano, a dívida bruta sobre o patrimônio líquido era de 1.021,7%. Neste segundo semestre, essa relação caiu para 518,2%. É o efeito contrário do que provocou a dívida: agora, o real está se valorizando. ?A redução foi pela apreciação do real e pelas amortizações que fizemos?, diz Marcos Grodetzky, diretorfinanceiro da Aracruz. Ao apresentar os resultados do segundo trimestre, na quinta-feira 16, com lucro líquido de R$ 595 milhões, Grodetzky ressaltou o efeito China para o mercado de celulose. A demanda americana, europeia e japonesa caiu 22% em média, enquanto o apetite dos chineses aumentou 66%. Mesmo assim, a demanda global diminuiu 6,6%.
DINHEIRO – A Aracruz ainda vai fazer a conversão das ações PN para ON?
MARCOS GRODETZKY – A troca seria de uma ação PN da Aracruz por uma PN da VCP. Porém, a VCP antecipou um passo na cadeia e converteu suas ações PN em ON. Com isso, convocamos os acionistas da Aracruz para aprovar a conversão de PN para ON. Mas não houve quorum suficiente nas duas convocações. Revertemos a decisão e a troca será de PN da Aracruz para ON da VCP. A relação de troca será acertada a partir de agora.
AGUIAR, presidente da Aracruz
DINHEIRO – Por que mudou a política financeira da empresa (o caixa mínimo deverá cobrir três meses de despesas)?
GRODETZKY – As mudanças estão alinhadas com a dinâmica do mercado.
DINHEIRO – Isso significa uma política menos arriscada?
GRODETZKY – Não usaria este adjetivo. É a gestão de caixa para atender às finalidades da companhia. Essa é uma empresa industrial e o grosso do resultado tem que vir da indústria. E o caixa tem que maximizar o retorno financeiro das aplicações.
DINHEIRO – A valorização do real fez a margem bruta, que era de 31% no primeiro trimestre, cair para 23% no segundo?
GRODETZKY – O custo de produção caiu, o que quer dizer que fomos mais eficientes. Apesar do preço estável do primeiro para o segundo trimestre, o preço em reais foi menor, o que resultou em uma margem menor. Vendemos mais, mas faturamos menos.
DINHEIRO – O lucro por ação está negativo em 3,91%. A dívida continua influenciando o retorno?
GRODETZKY – No trimestre foi de R$ 0,58, positivo. No acumulado de 12 meses, o resultado ainda reflete o prejuízo do ano passado.
PELO MUNDO
Lucro surpresa
O banco Goldman Sachs divulgou um lucro acima das expectativas do mercado no segundo trimestre encerrado em 26 de junho. No período, os ganhos foram de US$ 2,6 bilhões. O resultado superou o previsto pela analista Meredith Whitney, de US$ 2,2 bilhões. Conhecida por ser pessimista, Meredith deu uma injeção de otimismo no mercado americano ao anunciar boas perspectivas para o banco.
Boas notícias
Outro banco que superou as expectativas foi o JP Morgan Chase, que divulgou lucro de US$ 2,7 bilhões na quinta-feira 16. Mesmo assim, suas ações não acompanharam o otimismo e fecharam em queda de 1,39% na NYSE.
Alta velocidade
As famosas motocicletas Harley- Davidson estão em alta. Pelo menos, na bolsa. As ações da empresa subiram 8,4% na quinta-feira 16. Na divulgação de resultados, houve uma queda de lucros de US$ 0,08 por ação. Analistas esperavam US$ 0,24. Para driblar a queda nas vendas, a empresa reduzirá a produção e cortará 700 postos de trabalho.
Perspectivas da Nokia
As ações da maior fabricante de telefones móveis do mundo, a Nokia, fecharam em queda de 14% na NYSE, na quinta-feira 16. A empresa divulgou os resultados do 2º trimestre e apresentou 24% de retração na receita, em relação ao mesmo período de 2008. Para o segundo semestre, a companhia divulgou expectativas de queda ainda maior. No entanto, as ações da Nokia acumulam 70% de alta desde março deste ano.