10 perguntas para Jeffrey Hembrock, presidente da SABMiller Americas

Em outubro de 2015, a anglo-sul-africana SABMiller, segunda maior cervejaria do mundo, aceitou a oferta de compra da belgo-brasileira AB InBev, por US$ 109 bilhões. O negócio, ainda sob o escrutínio dos órgãos antitustre, será o terceiro maior da história da economia mundial. O presidente da SABMiller Americas, Jeffrey Hembrock, contou à DINHEIRO como estão as preparações para a fusão, por que a marca Miller ficou de fora, e qual sua visão do mercado brasileiro:

A Miller sai mais forte dessa negociação?
Sem dúvida. A marca, com um único dono no mundo inteiro, estará em mais de 80 países. Teremos uma distribuição global muito forte.

Como isso afeta o mercado brasileiro?
A marca Miller, que está de volta às gôndolas brasileiras, graças a um acordo de fabricação com o Grupo Petrópolis, vai ficar de fora do novo grupo. A AB InBev precisou concordar com a venda da fatia de 58%. O comprador será o outro principal acionista do negócio, a Molson Coors, por U$12 bilhões. Ou seja, a Miller, em um mercado de grandes uniões, permanecerá solteira e capitalizada.

Então, no Brasil não haverá mudanças…
No Brasil, nada muda, por enquanto. Tudo continua a mesma coisa em termos de apoio ao negócio. O consumidor não vai perceber nada.

Como o senhor enxerga o mercado brasileiro agora?
O Brasil é um mercado impressionante. Em lucro para o setor, é o segundo maior mercado de cerveja do mundo. E o terceiro maior em volume. É um mercado crescente, talvez não tanto nos últimos meses, mas a tendência é excelente no longo prazo. O mundo inteiro enfrenta crises econômicas, mas, com o tempo, a economia brasileira vai continuar crescendo. As pessoas vão ter mais dinheiro para consumir cerveja.

Em todas as categorias?
Qualquer economia em crescimento sempre vai ter crescimento no consumo de cervejas. Se pensarmos ainda no crescimento da categoria premium, isso é explosivo no Brasil. Não existe nenhum outro mercado na América que tenha visto esse tipo de crescimento na categoria semelhante ao do Brasil. Para o mercado de cerveja, o Brasil continua sendo um mercado maravilhoso.

O que essa negociação pode acrescentar para a SABMiller?
Uma marca como a Miller Lite, nos EUA, era administrada pela Miller Coors, e o negócio internacional era pela SABMiller. E a gente não enxergava o mundo da mesma maneira. O que era prioridade para gente, não era prioridade para eles. Agora, haverá uma marca verdadeiramente global e as decisões serão globais para as marcas Miller.

Qual o panorama do mercado no futuro? Haverá ainda mais fusões?
Não restam muitas empresas para serem compradas. São poucas as grandes que sobram. Por outro lado, nos EUA, por exemplo, as cervejas artesanais são um mercado impressionante. Todos os dias, duas cervejarias artesanais abrem as portas nos EUA.  As cervejarias artesanais talvez sejam o mercado do futuro.

Elas são concorrentes para as grandes? 
Acho que é uma boa concorrência. Durante muitos anos, consumidores americanos foram envelhecendo e começaram a beber mais vinho e destilados. Então, as cervejas artesanais conseguem manter esses consumidores no setor de cerveja. Isso torna a categoria mais interessante. Esse é o próximo passo, os consumidores vão estar cada vez mais bem informados sobre a cerveja.

As cervejas artesanais já têm cerca 15% do mercado americano, um espaço relevante.  Onde isso vai parar?
Haverá uma seleção natural. Acredito que vão surgir grandes marcas locais. Isso transforma a cerveja numa escolha adequada para mais ocasiões. A gente vai simplesmente expandir as ocasiões em que a cerveja é mais aceita.

Do ponto de vista de marketing, o que faz uma boa cerveja?
Acima de tudo, o líquido. Tem que ser de boa qualidade. Além disso, existe o branding. A cerveja é como se fosse um distintivo. As pessoas veem a marca que você está bebendo. A cerveja que você bebe diz muito sobre quem você é.