Após um período de condução cautelosa, economizando energia de sua equipe e pensando no longo prazo, é hora de investir com mais ousadia. No sobe-e-desce dos números, o risco de uma aquisição, por mais tentadora que seja, é grande e precisa ser bem calculado. A decisão de ultrapassar os adversários e vencer a concorrência deve ser tomada em frações de segundos e, para tanto, é preciso ter foco e controle emocional. Afinal, esse é o momento que determinará o sucesso ou o fracasso de sua estratégia. O roteiro descrito anteriormente caberia perfeitamente no concorrido ambiente corporativo. 

 

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De fato, no mundo dos negócios, estratégia, foco e decisões tomadas no tempo certo evitam derrotas e promovem líderes. Mas não estamos falando de empresas e, sim, de pilotos. O enredo acima resume o que acontece na Lancer Cup, categoria de automobilismo criada e organizada neste ano pela Mitsubishi Motors no Brasil. O calendário possui seis provas com 19 pilotos no grid, a grande maioria deles empresários apaixonados por velocidade. A ideia da competição, com o subtexto “Gentlemen Drivers” (motoristas cavalheiros, em inglês), é reunir ao volante players importantes do mercado e da economia. 

 

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Camaradas: Carlos Faletti (advogado), Marcelo SantAnna (Multisolutions) e Sérgio Maggi

(Grupo Gafor) deixam a rivalidade do mundo dos negócios para trás e se divertem

nos bastidores da prova da Mitsubishi

 

E que, evidentemente, gostem da adrenalina de chegar ao final de uma reta a mais de 180 km/h. Tudo acontece no Velo Cittá, circuito particular de 3.430 metros de extensão da montadora, em Mogi Guaçu, cidade interiorana a 200 quilômetros da capital paulista. No último dia 7, ocorreu a quinta etapa. Perfilados, executivos, empreendedores, diretores de empresa, VPs e CEOs que trocaram as gravatas do expediente diário pelos capacetes e balaclavas do final de semana. “São empresários importantes, que vêm aliviar o estresse da semana aqui”, diz Corinna Souza Ramos, diretora de marketing da Mitsubishi. 

 

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A dona do parque: Corinna Souza Ramos, diretora de marketing da montadora, organiza

a Lancer Cup. “Aqui os empresários vêm para relaxar do estresse do escritório.”

 

O apelo é exatamente esse: substituir a tensão dos escritórios pela emoção de uma ultrapassagem bem-sucedida. Um desses pilotos é Luiz Barcellos, VP da operadora de tevê paga Sky. Fã de corridas desde a infância, ele compete na categoria de pilotos acima de 45 anos e ocupa a segunda posição no campeonato. Para Barcellos, há valores comuns aos dois ambientes, o de prova e o dos negócios, como manter a concentração e a regularidade nos resultados. Mas ele destaca também que, na pista, o bom relacionamento entre os competidores é algo mais difícil de acontecer no universo profissional. 

 

“Aqui todos se respeitam, independentemente do que acontece na corrida”, diz. O empresário Sérgio Maggi, dono do grupo de logística Gafor, comemorava os dois pódios que conquistou nas duas baterias – cada uma em um período do dia, com duração de 25 minutos mais duas voltas –, um 4º e um 5º lugar, com muitas trocas de posições. “Mesmo estando no pelotão do meio, você não pode desistir”, afirma. “Coisas acontecem durante a corrida que podem te levar para frente ou perder a prova. É preciso ser perseverante.”

 

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Sonho de criança: Luiz Barcellos, VP da operadora de tevê paga Sky, assume que pilotar

na competição é realizar um desejo que o acompanha desde a infância

 

SEXO FRÁGIL? Maggi comentava nos boxes com outros pilotos que o para-choque do seu carro fora tocado. “A moça bateu na minha traseira, quis passar onde não dava…”, dizia. Entenda-se por ‘a moça’ a única mulher no grid, a apresentadora de tevê Michelle de Jesus. Piloto com participações em campeonatos nacionais, ela obteve um 3º e um 5º lugar naquele sábado, e foi escolhida a xodó do público, que a aplaudiu entusiasmadamente. Se há um certo machismo nos bastidores? Ela garante que não. “O que acontece é que um fica inflamando o outro quando eu os ultrapasso”, diz Michelle. No entanto, a bela avisa que, com seus resultados em pista, as brincadeiras têm se tornado mais raras. “Estou em terceiro no pódio, só dois foram mais rápidos do que eu. O resto eu já passei”, afirma. 

 

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Penélope charmosa: no intervalo das baterias, a apresentadora e piloto Michelle

de Jesus aproveita para retocar a maquiagem nos boxes

 

No sábado 7, Elias Júnior e Bruno Mesquita, dono de uma rede de restaurantes, dominaram os dois lugares mais altos da premiação. As condições de corrida são rigorosamente as mesmas para todos. Os carros usados são o modelo Lancer Evo R, desenvolvido a partir do Lancer Evo10 de rua, exclusivamente para esse certame. São bólidos de 305 cavalos de potência, com velocidade final de reta controlada a 185 km/h, estrutura interna de proteção, pneus slick. “São absolutamente idênticos”, diz o ex-piloto Ingo Hoffmann, que dirige o campeonato. Até o peso dos veículos é equilibrado, com o uso de lastro em caso de diferença de silhueta entre os pilotos. “É o esquema Sit&Drive: o piloto vem, senta e dirige. Só precisa trazer o capacete e o macacão”, afirma o 12 vezes campeão da Stock Car brasileira. Para entrar na competição, porém, é preciso preencher certos requisitos. 

 

Não basta “achar” que sabe pilotar. É preciso apresentar credenciais mínimas, como a habilitação PCBG. A própria organização oferece um curso de dois dias de pilotagem, o Mitsubishi Premium Racing School. Nele, Hoffmann promove uma imersão na pista, com aulas teóricas e práticas a bordo de um dos Lancer. O custo é de R$ 13 mil, com direito a carteira de piloto amador no final. Há uma opção de módulo de um dia apenas, chamado de Racing Experience, pela metade do preço: R$ 6.500. Depois disso, há ainda a taxa para correr no campeonato em si, que inclui os equipamentos, peças, pneus, gasolina, equipe de mecânicos e o carro, que são alugados pela montadora. Tudo por R$ 28 mil por prova. “É como alugar o brinquedo e o parque de diversões ao mesmo tempo”, diz Corinna, a diretora de marketing da Mitsubishi.

 

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