O governo federal, quando pressionado, tem geralmente dois caminhos. Dobrar a aposta e esticar a corda (como faziam Bolsonaro e Dilma) ou apaziguar e colocar panos quentes (como fizeram Lula e Temer). Em seu terceiro mandato, Lula deveria agir como pacificador. Mas, nas últimas semanas, suas críticas ao Banco Central e a frase “não precisamos pedir autorização para governar” mexeram com o mercado. Esta semana, a chance de aumentar a meta da inflação voltou a estressar o capital financeiro. Dessa vez, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tratou de aliviar a tensão ao descartar a possibilidade.

A discussão sobre revisar a meta inflacionária na reunião que aconteceu ontem do CMN (Conselho Monetário Nacional) partiu do mercado, mas veio pautada em informações de bastidores de dentro do PT. Ainda que nenhum ministro ou secretário tenha falado abertamente sobre o tema, quadros mais históricos do Partido dos Trabalhadores aventaram a possibilidade, o que gerou esse burburinho e Lula aproveitou para  ver como a notícia cairia. Mas não caiu bem. Pelo menos não por agora.

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A mudança da meta da inflação não é um total absurdo, e pode ser usada como forma de reduzir a Selic. O problema é que ela só é justificada quando há algumas garantias fiscais que sustentem essa previsão de aumento nos preços. Depois de aprovar um novo arcabouço fiscal, ou alguma reforma estruturante, o espaço para rever a meta não soa como uma medida desesperada – como pareceu nesse primeiro momento. Essa parece ter sido a postura de Simone Tebet, ministra do Planejamento. Ela e Haddad têm dois dos três votos para alterar a meta da inflação (o terceiro é de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central). Seria possível, então, fazer essa mudança. Mas ela não seria inteligente. O entendimento dos conselheiros de Lula que são mais ligados a frente ampla, em especial Geraldo Alckmin, é que tal mudança teria um efeito contrário nesse momento, ou seja, elevaria a incerteza e prejudicaria a inflação, induzindo o BC a manter os juros altos por mais tempo.

A estratégia, então, é que Lula siga criticando a alta dos juros (“Se eu, presidente da República, não reclamar, quem vai? O catador da cooperativa?” – disse Lula na entrega do programa Minha Casa Minha Vida esta semana) e que isso incite algum movimento popular e reações de representantes da cadeia produtiva.

O encontro

Na reunião do CMN, que durou menos de meia hora, Haddad, Tebet e Campos Neto aprovaram o balanço da instituição, que registrou um prejuízo de R$ 298,5 bilhões em 2022. O saldo negativo é explicado pela queda do dólar em relação ao real e pela subida dos juros americanos.

Parte do resultado negativo, R$36,6 bilhões será coberto pelo Tesouro Nacional. O restante pela reserva de resultado e pela redução de patrimônio do próprio Banco Central.