Um dos conselhos mais frequentemente dados aos jovens é que sigam sua paixão no trabalho. Mas, para Scott Galloway, um dos mais prestigiados autores de livros de negócios da atualidade, e professor de marketing na escola de negócios Stern, em Nova Iorque, este é um péssimo conselho. “Se você quer chegar ao topo, e estar entre o 1% ou os 10% de maior sucesso, precisa encontrar algo em que seja bom e investir as 10 mil horas necessárias para chegar lá o mais rápido possível”, afirmou.

A declaração foi um dos pontos altos da conversa de Galloway com Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, na 14a edição da Expert XP, nesta sexta-feira, dia 30. Os dois ocuparam o palco principal do evento para uma conversa sobre Empreendedorismo e o futuro do Brasil, e que passou também por uma série de dicas de carreira.

Na visão de Galloway, conhecido também por podcasts como Prof G e Pivot, o caminho inverso ao de se seguir uma paixão na vida profissional é muito mais efetivo. “Encontre algo em que seja bom e se apaixone por ela. Depois, seja DJ no final de semana”, disse.

Daniel Vorcaro, Presidente do Banco Master, entrou no tema do empreendedorismo apresentando o conjunto de sete pontos que considera mais importantes para o sucesso de um empreendedor:

1) Ter um propósito;
2) Saber onde se quer chegar;
3) Foco em inovação, como forma de diferenciação no mercado;
4) Elaboração de um bom plano de execução;
5) Capacidade de gerenciar riscos;
6) Desenvolvimento de uma boa rede de contatos;
7) Capacidade de gerar impacto social e, o mais importante: resiliência para se levantar depois de inevitáveis percalços.

“No banco, temos apoiado muitas empresas pequenas e médias, e o Brasil é um país empreendedor fantástico”, afirmou. “Mas, no Brasil é muito difícil empreender e, para mim, a maior talvez seja o custo elevado de capital. Por isso, temos tentado oferecer crédito de forma diferente, atuando junto na gestão”, disse. Com isso, afirmou Vorcaro, o banco tem alcançado casos de sucesso, como o da BeFly, a operadora de turismo que quase fechou as portas durante a pandemia, e a Restoque, dona de marcas como Le Lis Blanc, John John e Dudalina.

Scott Galloway em conversa com com Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master – Crédito: Divulgação

Galloway ponderou que hoje existe uma tendência muito forte de se romantizar o empreendedorismo, “como se fosse uma forma superior de fazer as coisas”. Mas , lembrou, a maioria dos empreendedores é empreendedor por falta de opções. “Aos jovens, eu digo que, se tiverem a oportunidade de trabalhar para uma boa plataforma, isso pode ser muito bom”, afirmou.

Ele disse ainda que muitas pessoas não gostam de assumir o risco de ser empreendedor. E é ótimo que seja assim. Para Galloway, porém, quem acredita que este é o caminho precisa ter a disposição de aceitar riscos e a capacidade de lidar com a rejeição para voltar a trabalhar com o entusiasmo de antes.

“O Talento não é a chave para o sucesso, é sua capacidade de continuar em frente com entusiasmo. Isso não funciona só profissionalmente, mas também em uma dimensão pessoal”, disse. “Nos EUA, seis de cada sete empresas falham. Eu comecei nove. Apenas duas deram certo. Perdi um casamento e pessoas que amava. A única coisa que posso garantir a quem tentar é que vai ter uma boa dose de alegrias e outra de tragédias”.

Para superar os momentos de dificuldade, há comportamento e hábitos que ajudam. Um deles, compartilhado tanto por Galloway quanto por Vorcaro, é a prática de esportes. Na avaliação do professor, escritor e palestrante americano, as experiências de superação física ajudam tanto com a produção de hormônios que geram bem estar como ensinam a lidar psicologicamente com a dor. “Quando sinto que não aguento mais, que meu negócio acabou, o esporte me ensinou que eu ainda estou a um terço do caminho do meu limite”, afirmou. Segundo ele, há estudos que mostram que a maior parte dos CEOs mais bem sucedidos de empresas abertas nos Estados Unidos pratica esportes ao menos cinco vezes por semana. “Todo mundo deveria abraçar isso”.

Quanto aos investimentos, Galloway chamou a atenção para a dificuldade da espécie humana de calibrar. “É muito difícil entender quão rápido a vida passa. Não achamos que vamos viver acima dos 35 anos. Mas hoje chegamos aos 70, 80 anos”, disse. Isso faz com que a maior parte das pessoas deixe de aproveitar para investir desde cedo, abaixo dos 30, e aproveite os altos retornos dos juros compostos na aposentadoria. “Cada dólar tem potencial de se transformar em 80”, afirmou, lembrando também da importância da diversificação, para evitar surpresas.

Encerrando a conversa, Vorcaro levantou a questão das redes sociais e da necessidade de aprendermos a lidar melhor com elas. Galloway ponderou que todos têm algum tipo de vício. A questão é saber lidar com eles, conversando consigo mesmo, de modo franco, e entender se se tornaram ou não uma barreira ao sucesso profissional e à felicidade pessoal. “Hoje, um dos piores vícios é o celular. Está arruinando muitas vidas. A ideia de que as pessoas podem viver apenas através das telas, sem contato social, sem passar pela frustração de ter que encontrar um parceiro, é um equívoco. Nada extraordinário vai acontecer numa tela. Deixe essa porcaria de lado. Saia e vá se relacionar com pessoas”, disse.