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Festas: “Elas podem ficar mais divertidas se não precisarmos equilibrar prato, taça e palito nas mãos”, diz Paolo. Na foto, ele exibe alguns itens do My Personal Party Kit

 Quantos sentidos estão envolvidos no ato de comer? Literalmente todos. Degusta-se com as papilas gustativas, com o aroma estimulando as células olfativas, com o tato descobrindo texturas dos alimentos, suas cores e formas nos deixando com água na boca e até mesmo com os ouvidos, associando sons a algumas delícias que vêm à mesa – quem resiste ao chiado de uma boa carne sobre uma chapa quente? Ir além do próprio sabor, portanto, é uma preocupação da indústria alimentícia e muitas vezes ela paga caro para profissionais especializados em transcender o gosto e nos fisgar de outras formas. O italiano Paolo Barichella é um astro nessa área. Ele é um food designer, profissional especializado em buscar formas que deixem o paladar ainda melhor. E um dos melhores nessa área, uma referência mundial no assunto. A mão (e a arte) dele está, por exemplo, no desenho de algumas massas da Barilla, na forma como a Campari comunica suas bebidas e até nos sabores de algumas águas da San Pellegrino. Você pode não ter percebido, mas os toques de Barichella podem ter feito toda a diferença em sua última experiência gastronômica.

“Comecei no universo do food design para descobrir se meus estudos de design industrial se aplicavam ao universo da gastronomia”, conta Barichella, que esteve no Brasil na semana passada ministrando um workshop no Istituto Europeo di Design de São Paulo. Ele descobriu esse nicho no começo da década e desde então não parou de estudar o assunto. Uma mera batata frita o levou para esse caminho. Barichella debruçou-se sobre o quitute da americana Pringle’s, criado em 1968, e impressionou-se ao perceber como seu formato ondulado e anatômico aumentava a aderência à língua e, com isso, facilitava o desprendimento do sabor.

Dezenas de outros estudos depois, fundou, em 2004, o Food Design Studio em Milão, onde oferece cursos na área. O designer chamou, então, a atenção de grandes marcas italianas. Para a San Pellegrino, desenvolveu águas gasosas saborizadas; para a Campari, deu à bebida o formato de pérolas; e na Barilla, atua como consultor, sobretudo nas áreas de comunicação e mercado.
Dos alimentos para os utensílios, foi um pulo. A parceria com o estúdio Mina Design, por exemplo, resultou em produtos curiosos, como o My Personal Party Kit.

 

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Praticidade: a bandeja facilita a vida de garçons, pois abaixa o ponto de equilíbrio das taças e assim elas não tombam

 

“É um conjunto feito para ser distribuído em coquetéis que contém instrumentos para se aproveitar melhor a festa: um guardanapo, uma toalha umedecida, um palito com três dentes, para se pegar qualquer petisco com facilidade, e um suporte redondo para taças, que deve ser encaixado no canto do prato”, explica Barichella.

“As festas atualmente viram motivo de constrangimento porque as pessoas têm que equilibrar bolsa, taça, prato e guardanapo. Foi analisando esse problema que chegamos ao kit”, explica. Já com a Perugina – divisão italiana da Nestlé – ele está desenvolvendo um chocolate mais leve, para o verão. “Nossa marca ganha força com os projetos de Paolo, pois todos os elementos estão coordenados e são parte integrante de um mesmo conceito. Nada é deixado de lado, dos objetos à equipe, dos compradores à comunicação da marca”, diz Giovanni Ferrieri, proprietário da marca CioccolatItaliani, inaugurada em fevereiro deste ano.

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Atualmente, Barichella mantém o foco em peças para festas, como um prato de vidro com divisórias para se degustar diferentes tipos de queijos, harmonizando- os com tipos específicos de molhos e geleias, e a bandeja em que as taças de espumante se encaixam de forma a não tombarem. “O consumidor busca uma experiência em tudo o que faz hoje em dia. E o design permite que as marcas se conectem a ele através dos sentidos. Com isso, conquista sua confiança. Afinal, a gente escolhe marcas, comidas e restaurantes por algum motivo. E o design tem um papel importante nisso”, afirma Gisela Schulzinger, professora da ESPM. Afinal, não se come apenas pela boca.