Uma das maiores firmas de reestruturação do País, com casos como a EBX, de Eike Batista, a Galvão Engenharia e a incorporadora PDG no currículo, a RK Partners agora quer crescer atraindo para seu portfólio empresas de médio porte e, para isso, está disposta até a colocar dinheiro nas companhias em apuros.

A firma comandada por Ricardo Knoepfelmacher, o Ricardo K, cresceu como uma butique especializada em atender grandes empresas em dificuldade – e capazes de pagar um bom dinheiro pela ajuda. A combinação de crise com Lava Jato impulsionou as receitas. Mas os sinais de retomada da atividade econômica tendem a dificultar daqui para frente vida de quem vive de resolver problemas.

O movimento da RK, que exigirá uma mudança na forma de atuação e de cobrança da firma, deriva da percepção de que, para as grandes empresas brasileiras, a pior fase já passou. Quase todos os casos mais complexos ou já foram resolvidos ou estão sendo endereçados, avalia a firma. Por outro lado, há centenas de companhias médias em com problemas País afora. Mais especificamente 824 empresas.

Esse é o número de companhias cuja dívida já passou de 2,5 vezes sua geração de caixa e que devem entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão na praça, segundo levantamento feito pela RK Partners a partir de informações da Euromoney, com base em dados de 10 mil empresas.

O mapeamento indicou que um quinto delas está hoje em situação crítica, com endividamento de seis vezes sua geração de caixa. “Uma empresa com alavancagem acima de quatro vezes o EBTIDA (sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) é uma empresa quebrada. A taxa de juros é tão alta que ela não consegue fazer frente ao serviço da dívida. Mesmo com a queda da Selic, as empresas ainda estão pagando 20% de taxa de juros”, afirma Ricardo K.

O levantamento indicou que 60% dessas companhias médias com problemas financeiros estão no Sudeste, mas há casos em todas as regiões.

Oferta

Para chegar a esses clientes em potencial, a RK modificou sua forma de cobrança, atrelando o pagamento pelos seus serviços a uma fatia na empresa recuperada, e está disposta a colocar dinheiro novo nos negócios problemáticos. “Vamos correr risco junto com o nosso cliente”, diz Ricardo K.

Até agora, a RK cobrava um valor para entrar num caso, uma remuneração mensal enquanto estivesse dedicada a ele e uma taxa no final do processo, que variava de acordo com o sucesso da reestruturação.

Com os clientes médios, com menos dinheiro disponível, esse modelo não funciona, observa K. A ideia, porém, não é atuar com a lógica de private equity (fundos que compram participação em companhias), mas sempre pelo lado da dívida. Ou seja, emprestar dinheiro à empresa em dificuldade e, eventualmente, converter o empréstimo em participação.

Criada em 2013, quando K deixou a Angra Partners, a firma pulou de oito funcionários para 53 em quatro anos – seis deles são sócios. No período, pegou casos como a petroleira OGX, a Bombril, e a Odebrecht Ambiental. Em média, são dez clientes atendidos de forma simultânea. O plano é dobrar o total de casos atendidos ao mesmo tempo.

Rivais

Para colocar de pé a nova empreitada, a RK enfrentará competidores. A empresa, que disputa clientes com rivais estrangeiras, como Lazard e Rothschild, viu a concorrência aumentar nos últimos tempos, com o surgimento de firmas como a Starboard, nascida da cisão da área de reestruturação de empresas do banco Brasil Plural. E entrará num segmento com companhias tradicionais do ramo de reestruturação já em atuação. É o caso da Alvarez & Marsal que, em 2016, criou uma divisão especializada no que chama de mercado médio: empresas com receitas de até R$ 500 milhões e dívidas de até R$ 350 milhões. A empresa tem no portfólio casos como da Queiroz Galvão e da TPI (Triunfo) e atua no País com 120 pessoas dedicadas à reestruturação de empresas.

Conflito

A RK já vinha mapeando no mercado casos de empresas em dificuldade com potencial para investimento como representante no Brasil desde 2015 da empresa de investimentos americana Cerberus Capital Management.

Os sócios da RK acreditam, porém, que a maior parte dos casos em que entrarão com o novo modelo não interessará ao parceiro. Enquanto a RK perseguirá operações de alguns milhões, a Cerberus deseja tacadas em que deixe cheques de algumas dezenas de milhões. Caso haja interesse de ambos num negócio, as duas empresas poderão firmar uma parceria no investimento, avaliam. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.