06/11/2014 - 18:18
O número real de vítimas mortais da letal epidemia de Ebola provavelmente excederá em milhares as 4.818 registradas no último balanço, difundido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), advertiu um especialista da organização nesta quinta-feira.
“Há muitíssimas mortes não registradas nesta epidemia”, disse à AFP Christopher Dye, responsável pela Estratégia da OMS, considerando que as vítimas mortais fora do registro oficial podem chegar a 5.000.
Para chegar a esse número, ele se baseou na taxa de mortalidade da doença nos países mais afetados (Guiné, Serra Leoa e Libéria), que é de 70%.
Na quarta-feira, a OMS estimou haver um total de 13.042 casos diagnosticados, o que significa que muitas mortes não foram comunicadas.
Segundo Dye, a explicação mais provável para esta diferença é que as pessoas teriam enterrado seus familiares em segredo, talvez para evitar que as autoridades interferissem em seus ritos funerários, que incluem lavar e tocar o morto.
O contato com pessoas portadoras do vírus é o responsável por boa parte dos contágios, razão pela qual as autoridades sanitárias dos países afetados no oeste da África estão realizando um forte trabalho de conscientização para que os corpos das pessoas infectadas sejam incinerados.
A agência de saúde das Nações Unidas criou uma confusão com seus últimos números de casos e óbitos do Ebola, que apresentaram cifras revistas para baixo.
No balanço publicado na noite de quarta-feira, foram reportadas 4.818 mortes, número inferior às 4.951 registradas em 31 de outubro, enquanto o número de casos reportados caiu de 13.567 para 13.042.
Isso não significa que a epidemia tenha terminado, ou que as pessoas pararam de morrer por causa do vírus, disse Dye, explicando que a queda nesses números estaria ligada a uma mudança na forma como a OMS usa sua base de dados para totalizar as cifras.
“Muitas, muitas pessoas estão morrendo de Ebola”, frisou.
Até recentemente, a OMS usou diferentes bases de dados de cada um dos países afetados para calcular os totais de casos e mortes. Fontes diferentes, contudo, significam que os números nem sempre progridem de forma consistente, flutuando de acordo com o dado disponível de bases de dados separadas.
Para evitar as flutuações, a agência passou a usar apenas dados dos relatórios de situação em cada um dos países, baseados em contagens diárias de pacientes e mortes, distrito a distrito.
Dye explicou que o novo método, que incluiu a queda significativa de mortes no último informe da OMS, foi “sutilmente menos satisfatório” em termos de refletir de forma precisa os números de casos e de mortes, mas foi “sempre consistente”.
Ele reforçou que o total acumulado é muito menos interessante do que os gráficos da OMS demonstram em suas atualizações com a progressão da epidemia semana a semana, em cada um dos três países mais afetados pelo vírus.
Esses gráficos, que ainda se apoiam em diferentes bases de dados, demonstram claramente que “há tendências de queda em algumas partes da área epidêmica”, disse Dye, acrescentando, contudo, que “acho que agora está fora de questão”.
Na semana passada, a OMS confirmou que a Libéria, o país mais afetado pela epidemia de Ebola, com mais de 6.500 casos e quase 2.700 mortes, apresentava uma redução das transmissões.
Dye comentou que a tendência parecia continuar em todo o país, enquanto as cifras em grande parte da Guiné pareciam “algo niveladas”.
Os números também pareciam constantes em algumas partes de Serra Leoa, embora ainda houvesse “muitas preocupações” sobre a transmissão na região oeste daquele país, afirmou.
A tendência é uma boa notícia, pois significa que a epidemia de Ebola não segue a trajetória do pior cenário, usada em algumas previsões alguns meses atrás pela OMS, completou Dye.
“Falava-se em milhões de casos” em janeiro, lembrou.
“Isto se deve a que, se você tem uma curva ascendente e mantém essa projeção, você terá milhões de casos”, explicou, reforçando que “agora está bem claro para nós que isso não vai acontecer”.