Desde o dia 1º de setembro, uma nova legislação em vigor tem garantido não só a segurança das crianças no trânsito como também a saúde financeira de muitas empresas. A  obrigatoriedade do uso das “cadeirinhas” para o transporte de menores de sete anos em veículos fez com que as previsões de vendas do setor saltassem de um milhão de unidades para 2,5 milhões até o fim do ano. 

 

2.jpg

Nyenhuis (à esq.) e Sanches, da Infanti: investimentos de 7 milhões de euros para ampliar a produção a toque de caixa

 

“Pode até ultrapassar esse número”, diz Dárcio Leite Sanches, um dos sócios-proprietários da Infanti, que fabrica e importa produtos para o público infantil, entre eles as tão cobiçadas cadeirinhas. 

 

Com 250 mil unidades vendidas no ano passado, a empresa tinha como expectativa fechar o ano de 2010 com o dobro do volume, mas, com o pico de vendas registrado no mês de maio, já revisou esse número para 800 mil. 

 

“Essa é a capacidade produtiva que temos hoje. Nos desdobramos para conseguir ampliá-la em tão curto espaço de tempo”, diz Fabiano Nyenhuis, o outro sócio-proprietário da empresa, que tem sua produção concentrada na China. “Investimos 7 milhões de euros para aumentar a nossa capacidade.”

 

O grande desafio da Infanti, empresa com presença em toda a América Latina e faturamento de R$ 130 milhões, não foi apenas ampliar a produção, mas sim mudar o seu foco, mirando as classes C e D. 

 

“O aumento do poder aquisitivo desse público o levou a adquirir carros populares e, agora, os que transportam crianças terão que comprar as cadeirinhas”, diz  Nyenhuis. 

 

1.jpg

 

 

A empresa, que vendia seus produtos apenas nas lojas especializadas e tinha como público-alvo famílias das classes A e B, agora vende em pontos de venda populares. É possível encontrar suas cadeirinhas em grandes redes varejistas, como Casas Bahia, Magazine Luiza e Lojas Cem. 

 

“As classes consideradas emergentes são o novo filão a ser conquistado”, diz Nyenhuis. Para garantir suas vendas junto a esse público, a empresa investirá cerca de 10% do seu faturamento em campanhas publicitárias. Mais: a Infanti investiu US$ 20 milhões em pesquisa para elaborar equipamentos voltados especificamente para as classes emergentes.

 

A empresa conta com dois centros próprios de desenvolvimento de produtos, um localizado no México e outro no Brasil. Seus projetistas tiveram de se preocupar não só com um design que atraísse os olhos dos consumidores da classe C, como precisaram desenvolver produtos que se encaixassem nos bolsos dessa turma. 

 

Assim, a Infanti conseguiu fazer uma cadeirinha com menos uso de plástico, o que reduziu os custos. Se um top de linha sai por R$ 489, o modelo básico chega a R$ 75. Mas, antes de vir para o Brasil, os produtos são enviados para serem certificados e testados na Europa. “Ainda não existe certificação nacional que garanta a resistência ao impacto”, afirma o sócio Dárcio Leite Sanches. “Por isso, buscamos esse atestado na Europa.”

 

A obrigatoriedade do dispositivo era prevista para ter início em junho, mas foi adiada por falta de produtos no mercado. O próprio governo entendeu a necessidade de dar mais fôlego para que as indústrias adaptassem sua produção.

 

“A resolução é de 2008, mas só passou a vigorar este ano”, afirma Cyro Vital, presidente do conselho do direito viário da OAB de São Paulo. A nova regra é considerada uma vitória entre especialistas, já que reduz em 70% o risco de morte ou ferimentos graves em caso de acidentes, mas isso ainda não faz parte da cultura nacional. Pesquisa realizada pela ONG Criança Segura aponta que apenas 32% das mães transportam seus filhos nas cadeirinhas.