19/03/2015 - 0:00
A crise política vivida pelo governo federal e pelo PT provocou nesta semana um efeito colateral: já surgem os primeiros sinais de que a internet voltou a ser, aos olhos de ambos, uma arena relevante e que merece atenção. Mais: as redes sociais e outras ferramentas digitais passam ser vistas como peças estratégicas na batalha da comunicação daqui para frente.
Isso revela muito sobre como o governo ainda vê a internet – e podemos dizer sem receio que também a classe política em geral, salvo raríssimas exceções: só quando o estrago está feito – ou no momento de caçar votos – é que eles se lembram de que a rede existe e tem força. Tentam então, abruptamente, se reforçar nessa área, para logo em seguida a deixarem em segundo plano. Foi assim depois de junho de 2013 e das campanhas eleitorais de 2010 e 2014. Como será desta vez?
O risco é que a investida digital ensaiada agora, por ser novamente uma reação de última hora motivada por uma crise, não resulte de fato numa estratégia sólida e permanente de comunicação com a sociedade. No calor político, isso tende a ser ofuscado por táticas de guerrilha digital que, em vez de informar, apenas desinformam.
“Retomada da estrutura de internet”
Dois episódios desta semana demonstram a preocupação do governo e o PT com a opinião pública digital. Um deles diz respeito a uma reunião da bancada do PT em Brasília, cujo conteúdo foi relatado na quarta-feira (18/3) pelo site do Estado de S.Paulo. Segundo o jornal, o presidente do partido, Rui Falcão, afirmou aos parlamentares da sigla que vai “usar parte do Fundo Partidário para retomar a estrutura de internet utilizada na campanha presidencial do ano passado.”
O objetivo seria fazer frente ao PSDB e às organizações que usam a rede para pedir o impeachment da presidenta Dilma. Repare que Falcão, segundo o relato do jornal, fala em “retomar a estrutura de internet”, ou seja, o digital serviu ao partido apenas no período das eleições.
Documentos da Secom
O outro fato foi o vazamento de um documento interno da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). Por se tratar de uma análise dura que partiu de dentro do governo, o material é revelador e tem um impacto muito maior.
O relatório afirma que o início do primeiro governo Dilma “foi de rompimento com a militância digital” e que, “em 2015, o erro foi repetido.”
“A partir de novembro, as redes sociais próDilma foram murchando até serem quase extintas. Principal vetor de propagação do projeto dilmista nas redes, o site Muda Mais acabou. Os robôs que atuaram na campanha foram desligados e a movimentação dos candidatos do PT foi encerrada”, diz o documento. E avalia também que a “tática do PSDB foi exatamente a oposta”.
“Cerca de 50 robôs usados na campanha de Aécio continuaram a operar mesmo depois da derrota de outubro. Isso significou um fluxo contínuo de material antiDilma”, consta em determinado trecho.
Atenção para a palavra “robôs”, que o autor do texto usar em referência às campanhas de Dilma e de Aécio. Trata-se de um recurso utilizado para turbinar artificialmente as redes sociais.
O documento deixa claro que, dentro de uma análise muito mais ampla sobre a comunicação e a situação atual do governo, a comunicação digital precisa ser retomada.
O que a sociedade espera é que esse esforço digital signifique de fato uma tomada de consciência sobre o verdadeiro papel da internet. A expectativa é de que a rede seja utilizada como instrumento de promoção da cidadania, e não apenas um recurso para momentos de crise. A conferir.