A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal, avalia que a depreciação cambial entre 2023 e 2024 foi um dos fatores que mais pesou para o desvio da inflação em relação ao centro da meta e que eleva o risco de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) extrapolar o limite superior em 2025 novamente. Apesar disso, a recente valorização do real pode aliviar a pressão inflacionária. As conclusões estão no Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de fevereiro, divulgado nesta quinta-feira, 20.

“A recente apreciação do real, supondo estabilidade nos demais fatores que impactam a inflação, pode reduzir parte das pressões sobre os preços ao consumidor, favorecendo a convergência da inflação à meta. Se a depreciação cambial voltar em um cenário de maior incerteza global e doméstica, o Banco Central poderá intensificar o aperto monetário para conter o avanço das expectativas inflacionárias, elevando o custo da desinflação sobre a atividade econômica”, pontua o documento.

A IFI fez um exercício diante do atual cenário mais pressionado de inflação e os impactos do câmbio sobre os preços.

O órgão analisou um cenário em que a cotação do dólar fica em R$ 5,71 e outro mais pessimista, em que o câmbio ao final de 2025 apresentará uma depreciação de 10% em relação ao observado no final do ano passado. Os dois modelos foram comparados ao cenário de referência do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que considera câmbio de R$ 6,00, com evolução conforme a paridade do poder de compra.

“Os resultados indicam que se o real depreciar 10% em relação ao patamar do final de 2024, o IPCA poderá aumentar em 0,4 p.p. em 2025 e 0,4 p.p. no terceiro trimestre de 2026. Caso a cotação permaneça estável em R$5,71/US$, o IPCA poderá ser 0,2 p.p. menor em 2025 e 0,1 p.p. menor no terceiro trimestre de 2026, em comparação ao cenário de referência do Banco Central”, aponta a IFI.

A partir deste ano, a meta de inflação do Brasil começa a ser apurada de forma contínua, com base na inflação acumulada em 12 meses. O centro continua em 3%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Se o IPCA ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, considera-se que o Banco Central perdeu o alvo.

Na última ata, o Comitê de Política Monetária (Copom) assumiu que, caso se concretizem as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do teto da meta nos próximos seis meses consecutivos.