“VENHA PARA SÃO PAULO. Renda per capita em franco crescimento, dono de 30% do Produto Interno Bruto local e mercado com taxas de retorno altíssimas.” A princípio, o texto lembra as campanhas publicitárias destinadas a atrair novos investidores ou moradores locais para a região (rica e já superlotada). Em parte, é isso mesmo. Mas o cliente em potencial é outro. Imobiliárias sediadas em Londres colocaram na rua, há poucas semanas, um projeto de busca de interessados em investir suas libras esterlinas em imóveis em bairros nobres da capital paulista. Por trás disso, há uma empresa: a Gafisa, a maior construtora brasileira em área total construída, dona de um banco de terrenos superior a R$ 10 bilhões e receita bruta anual de R$ 1,2 bilhão. A empresa quer vender apartamentos para os europeus no exterior. E não se trata de imóveis no Nordeste. Lá, a prática já é comum. Ela planeja colocar, aos poucos, a cidade de São Paulo no campo de visão das famílias de classe média européias, que podem pagar até 96 mil libras (cerca de R$ 312 mil) por um apartamento de 70 metros quadrados. E a caça já começou.

A Property Frontiers, única imobiliária especializada em mercados emergentes em Londres, começou em maio a vender apartamentos da Gafisa na região. O produto é o empreendimento Vision Campo Belo, localizado na zona sul de São Paulo, que deve ser entregue em março de 2009. Ele é destaque no portfólio da Property, ao lado de imóveis em Dubai (Emirados Árabes) Kuala Lumpur (Malásia) e ilhas caribenhas. Além do básico chique obrigatório (piscina interna e na cobertura, rede wireless e lounge exclusivo), tem ainda recepcionista, personal trainer (que poderá dar aulas em quadra de squash) mensageiro e camareira. Os apartamentos (são seis diferentes metragens) não terão chaves. As portas se abrem com impressão digital. A unidade com preço mais em conta, com 51 metros quadrados, custa R$ 199 mil, informa material promocional do edifício (a Fernandes Mera cobra R$ 700,3 mil pelo modelo dúplex). Em libras, o preço é mais salgado. A Property vende o mesmo apartamento de 51 metros por R$ 254 mil (78,5 mil libras). ?Os valores obedecem fielmente o total cobrado em reais. Mas podem variar por causa da comissão de corretagem?, diz Antonio Ferreira, diretor da Gafisa. ?Nós queremos aproveitar todas as oportunidades e percebemos que há um interesse dos europeus em imóveis para investimento no Brasil?, afirma ele.

As gordas taxas de retorno explicam, em parte, o tom animador. O rendimento anual com aplicações em imóveis podem variar de 5,4% a 14% em São Paulo, segundo o prospecto do Vision Campo Belo. Em países da Europa, como Portugal e Espanha, a taxa chega a 5,5%. Em Dubai, varia de 7% a 10%. ?O Brasil é o país do momento. Os preços de imóveis subiram de forma muito acelerada e os retornos previstos ainda são altos. Mas acredito que estamos chegando ao limite?, diz João Teodoro da Silva, do Conselho Federal dos Corretores de Imóveis. O primeiro contato da Gafisa com imobiliárias em Londres aconteceu em abril, durante a maior feira imobiliária do mundo, em Madri. Entre uma conversa e outra, decidiu-se apostar nesse projeto e buscar parceiros locais. Um primeiro teste já havia acontecido com outro lançamento, o Supremo Campo Belo. Mas no mercado asiático. Das 192 unidades à venda, 12 foram compradas por investidores de países da Ásia. O bom momento da Gafisa abre espaço para apostas em novas frentes. A margem bruta do grupo só cresce e o lucro aumentou 103% neste ano. ?A situação financeira da companhia é muito confortável?, diz Tomás Award, analista da Itaú Corretora. O que abre espaço para novas cartadas, garante a empresa.