24/10/2017 - 13:21
O juiz federal Sérgio Moro afirmou nesta terça-feira, 24, que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) devem estar frustrados pelo fato de julgarem processos fora das questões constitucionais, durante o Fórum Estadão Lava Jato e Mãos Limpas, realizado no auditório do Grupo Estado. “É um desvirtuamento do STF ter que se preocupar com questões concretas. A função do Supremo é discutir questões constitucionais e não ficar se debruçando sobre questões concretas. Imagino a frustração de um ministro, querendo decidir questões para toda a sociedade e em vez disso ter de ficar discutindo busca e apreensão”, disse.
Ele também defendeu uma revisão do alcance do foro privilegiado. “Essa questão transcende a Lava Jato”, afirmou Moro.
Segundo ele, a sociedade tem de refletir se o instrumento está funcionando ou não e, se não, se deve ser mudado. “Nenhuma instituição é perene.”
O fórum é uma realização do Grupo Estado em parceria com o Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP).
Moro saiu em defesa das prisões após condenações proferidas em segunda instância. “Justiça sem fim é Justiça nenhuma.” Em julgamento realizado em 2016, o Supremo Tribunal Federal admitiu a execução da pena antes de se esgotarem todos os recursos possíveis aos condenados.
No entanto, ministros do Supremo têm feito afirmações no sentido de rever a decisão. Em manifestação recente à Corte, a Advocacia-Geral da União (AGU) argumentou que a pena somente deve ser executada depois de esgotados todos os recursos da defesa, o chamado trânsito em julgado.
Moro disse achar “prematuro afirmar que o Supremo pode mudar a questão da prisão em segunda instância”. “Alguns ministros podem mudar de opinião… mas acho que existe uma expectativa da sociedade, da imprensa, de que isso não mude. E não tem nada a ver com Lava Jato”, afirmou.
Poderosos soltos
Presente no mesmo evento no Grupo Estado, o procurador da força-tarefa da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol afirmou que o Supremo Tribunal Federal “solta e ressolta corruptos e poderosos”.
Deltan afirmou que “é possível que continue a existir lavagem de dinheiro em grandes proporções pelos meios tradicionais”.
Ele criticou a possibilidade de revisão, por ministros do Supremo Tribunal Federal, de decisão em que a Corte admitiu que condenados em segunda instância comecem a cumprir pena. “O dinheiro continua circulando em malas anos depois do início da Lava Jato. Regras são gestadas no Congresso Nacional para beneficiar políticos. Ministros do Supremo soltam e ressoltam corruptos poderosos. Regras estão sendo gestadas no Supremo Tribunal Federal que implicarão enormes retrocessos na luta contra a corrupção.”