02/11/2011 - 21:00
O poder de influência do Brasil passou por um grande teste na última segunda-feira 24, quando os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) acataram, por unanimidade, o pedido brasileiro de promover um seminário, no primeiro trimestre de 2012, sobre a relação entre o câmbio e o comércio internacional. A organização já havia sinalizado simpatia pelo assunto em maio deste ano, quando o Grupo de Trabalho sobre Dívida e Finanças havia considerado legítimo o questionamento do Brasil sobre o assunto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já havia tornado mais do que pública a insatisfação do País nesse campo ao queixar-se em encontros internacionais, como o do FMI, em setembro. Mantega martelou repetidas vezes que havia uma “guerra cambial” em curso que prejudicava países como o Brasil.
As reclamações parecem ter surtido efeito, e a instituição, agora, pode ajudar a fomentar o debate sobre as discrepâncias oriundas da desvalorização excessiva das moedas em países como China e Estados Unidos. Como observa o embaixador Rubens Barbosa, antes da atual desvalorização do real, que se seguiu ao rebaixamento da nota de risco dos Estados Unidos, em agosto, a moeda brasileira estava quase 30% apreciada em relação às demais moedas do mercado. Diante da depreciação de 20% do iene chinês ou do dólar, por exemplo, toda e qualquer tarifa autorizada pela OMC para corrigir assimetrias entre mercados perdia sua razão de ser. “É esse quadro que precisa ser discutido”, diz Barbosa.
É inegável o acerto brasileiro ao levar o tema para a mesa da OMC. Mas vale a ponderação do embaixador Rubens Barbosa de que há “um longo caminho a ser percorrido”, até que as oscilações do câmbio, promovidas voluntariamente por alguns países, cheguem a ser questionados nos tribunais do organismo internacional. Principalmente quando a prioridade número zero no planeta é estancar a crise fiscal na Europa e recuperar a capacidade econômica dos Estados Unidos. “Num momento em que não se sabe onde é a porta ou a janela da economia, o assunto câmbio tende a correr frouxo num segundo momento”, diz o diretor do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, Mario Marconini.
A guerra cambial é, de fato, um elemento que atrapalha as empresas brasileiras, principalmente as exportadoras – embora tenha beneficiado a modernização e a ampliação da capacidade produtiva das indústrias, que conseguiram baratear o custo dos bens de capital importados. Porém, está longe de ser o único empecilho para o aumento da competitividade brasileira. Além do real forte, entram nessa equação os juros que ainda caem a uma rotação lenta, diante do dinamismo exigido pelo mercado global, a carga tributária complicada e os inúmeros gargalos de infraestrutura.
Há, nesse caso, um outro caminho tão longo, quanto sinuoso, a percorrer para dar mais musculatura às empresas brasileiras, que sinalizam começar a demitir nos próximos meses (como anunciaram, na semana passada, as indústrias têxtil e de máquinas). Se o mantra da guerra cambial de Guido Mantega mostrou força, é hora de o governo incorporar outros mantras para desamarrar a economia brasileira, como incentivar a competitividade por meio de mecanismos que estão mais ao alcance do País do que um consenso mundial ao redor do câmbio.