12/08/2009 - 7:00
Não foi à toa que o Brasil escapou em grande estilo da maior crise econômica desde os anos 30 do século passado. Os grandes bancos, um dos pilares da economia do País durante as turbulências, continuaram sólidos e lucrativos, enquanto seus pares nos Estados Unidos e na Europa afundaram em prejuízos. Em 2009, mesmo crescendo menos que nos anos anteriores, os banqueiros brasileiros continuam a apresentar resultados invejados (como sempre) pelos empresários de outros setores. O Bradesco divulgou, na segunda-feira 3, um lucro líquido de R$ 4 bilhões, quatro vezes maior que o do Santander no mesmo período. O ganho do Bradesco cresceu 14,7% no segundo trimestre e 2,8% no semestre como um todo, quando comparado aos demonstrativos semelhantes do ano passado. Os números do Itaú Unibanco e do Banco do Brasil serão conhecidos nesta semana. A expectativa é grande. A dúvida, também: o que será que os bancos fazem com tanto dinheiro?
Como em qualquer empresa, os lucros dos bancos remuneram o capital investido, engordam reservas para tempos difíceis e financiam o crescimento futuro. Muitos sócios controladores e os acionistas minoritários das instituições financeiras bem que gostariam, mas não recebem em dinheiro vivo 100% do retorno obtido com o uso de seu rico dinheirinho. Pela legislação vigente, as companhias de capital aberto são obrigadas a distribuir para os acionistas pelo menos 25% do resultado após os impostos. Os bancos têm de separar 5% dos ganhos para uma reserva adicional de capital.
Historicamente, os grandes bancos têm distribuído entre 30% e 40% do lucro (o chamado pay out) para os investidores em suas ações. “Os pagamentos mínimos são regulamentados pela Lei das S.A. O restante do lucro só pode ser usado para reforçar o capital ou para financiar investimentos, como a abertura de agências”, diz Marco Geovanne, diretor de relações institucionais do Banco do Brasil.
Nos sete anos anteriores à crise do subprime, de 2000 a 2007, o Bradesco foi o mais generoso dentre os grandes e distribuiu 41% do resultado. Seus acionistas, que recebem os dividendos mensalmente, ficaram com R$ 14 bilhões dos R$ 34 bilhões de lucros no período, segundo a Economática, em valores corrigidos pela inflação. O segundo melhor pagador foi o Unibanco, com 40% dos R$ 14 bilhões obtidos. Itaú, com pay out de 36,7%, e Banco do Brasil, com 34%, repartiram relativamente mais que a Petrobras (31%) e um pouco menos que a Vale (37,7%). Seja como for, é um bom dinheiro para quem vive de renda e reinveste em novas ações.
Em 2008, os dividendos pagos por 150 bancos nacionais e estrangeiros no País somaram R$ 15,7 bilhões, segundo levantamento da Austin Asis para a Febraban. Foi um volume 7,5% superior ao de 2007 e 90% acima do de 2006. Os números de 2009 começam a sair do forno. No caso do Bradesco, os dividendos e os juros sobre o capital próprio pagos no primeiro semestre e provisionados para os meses seguintes chega a R$ 3,253 bilhões. Como nem todo o lucro significa uma entrada de caixa no mesmo período em que é contabilizado – os ganhos dos empréstimos, por exemplo, entram de fato a conta-gotas, conforme os clientes pagam as parcelas devidas -, os bancos escalonam os pagamentos de dividendos ao longo do tempo. E o resto do dinheiro que fica dentro de casa? Além dos investimentos em expansão física, os bancos costumam usá-lo para reforçar seu capital.
Quanto mais capital tiver, mais um banco pode emprestar, até o limite de alavancagem estabelecido pelo Banco Central (11 vezes o patrimônio líquido). Como a demanda por empréstimos está mais fraca do que o capital das instituições permite alavancar – o patrimônio líquido do setor somou R$ 281,4 bilhões em 2008 – há quem diga que os bancos deveriam distribuir mais dinheiro aos seus acionistas. “Hoje há excesso de capital. Será que não deveria ser distribuído?”, indaga a analista Catarina Pedrosa, da Banif Securities. Alexsandro Broedel, professor de Finanças da Faculdade de Economia e Administração da USP e conselheiro da Fipecafi, acha que não. “Se distribuíssem todo o lucro, os bancos não teriam fôlego para crescer. Cada real de lucro retido hoje vai financiar a expansão de amanhã”, diz ele. “O conservadorismo dos bancos brasileiros tem dado segurança ao País na crise internacional”, reforça. A formação de gordas reservas tem também um papel importante em tempos de crise, em que a inadimplência costuma subir.
Até agosto do ano passado, os ganhos não distribuídos podiam ser guardados numa conta do balanço denominada lucros ou prejuízos acumulados. O que virava caixa e não gerava aumento de capital acabava sendo aplicado em títulos públicos. Os bancos compram cerca de 40% dos papéis federais, segundo o Tesouro Nacional. Agora, eles são obrigados a dar uma destinação específica aos lucros acumulados. De acordo com o Banco Central, isso já está ocorrendo. A gordura caiu de R$ 32 bilhões em junho de 2008 para R$ 11,5 bilhões em maio passado. Os bancos agora publicam também o fluxo de caixa e a distribuição do valor adicionado (conhecida como DVA), que reflete tudo o que é feito com o resultado da atividade bancária (veja tabela acima). Os acionistas levaram 44,6% do DVA. O governo ficou com 17,7% e os recursos humanos, 37,7%.
Cofres cheios
Lucros dos maiores bancos brasileiros na Bovespa de 2000 a 2008* – Em R$ milhões