O destino profissional do mais influente funcionário público do Brasil está sendo traçado nos gabinetes das três maiores instituições financeiras multilaterais do planeta. Pedro Malan, o ministro da Fazenda que nos últimos oito anos dita as regras da economia brasileira, tem seu passe disputado simultaneamente, neste momento, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial (Bird) e Fundo Monetário Internacional (FMI). Os caminhos para levar Malan à cidade de Washington passam por articulações que envolvem vários dos seus amigos. O ex-ministro do Planejamento Martus Tavares, hoje diretor do BID, atua quase que em tempo integral para cooptar Malan. A intenção é conceder ao ministro o cargo de consultor especial da instituição por dois anos, até que o atual presidente do BID, Enrique Iglesias, se aposente. Seria a vez de Malan assumir. No FMI, o brasileiro Murilo Portugal, ex-secretário do Tesouro Nacional, deu sinais de estar disposto a ceder sua cadeira como representante do Brasil para Malan. O ministro sabe que as portas do Bird estarão abertas para ele, se quiser voltar. Por duas vezes, de 1986 a 1990 e de 1992 a 1993, ele foi diretor-executivo da instituição. Só o que Pedro Malan não quer, ao menos por enquanto, é aventurar-se no setor privado. ?Adoraria ter Malan conosco, mas ele deixou claro mais de uma vez que esse não é seu desejo?, afirmou à DINHEIRO Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria. No BID, Malan é candidato natural à sucessão de Iglesias, que fará 15 anos no Banco em 2004. Dos três presidentes que o BID teve até aqui, um era chileno, outro mexicano e Iglesias é uruguaio. O Brasil nunca esteve no comando. Malan seria a pessoa certa, na hora certa, para consertar isso.

Ao dar sinais de que prefere trafegar pelos organismos internacionais de crédito em lugar de trabalhar com instituições financeiras, Malan demonstra desapego pelo dinheiro. ?Se resolvesse ir para a iniciativa privada, ele não teria preço?, ponderou à DINHEIRO o diretor de Pesquisa da PMC & Hope, Luiz Alberto Bueno, especialista em recrutar executivos para gigantes do mercado financeiro e empresarial. ?Não há no Brasil alguém que sirva como parâmetro de comparação.? Um consultor de primeira linha no Brasil embolsa, em média, cerca de US$ 500 mil anuais, apenas para ?aconselhar? seus clientes. Nas grandes empresas, podem ganhar R$ 7 mil por reunião em que participam. Esses encontros acontecem geralmente duas vezes por mês. Quando fazem palestras, outro bolo de reais vai para a conta desses senhores. Alguém com o currículo de Malan poderia cobrar até R$ 30 mil por fala.

Mesmo que sucumbisse à tentação de ir para o mercado financeiro, o ministro dificilmente seria contratado por um banco nacional. Bradesco, Itaú e Unibanco já têm aquilo que o torna mais valioso:
o acesso fácil aos centros de decisão no País e o conhecimento
da realidade econômica e política. Essas características têm
grande valor, porém, para bancos estrangeiros. Instituições
do porte de Santander, Citibank ou BBVA, estariam interessadas
em ter um nome com tanto prestígio à frente de suas operações locais. ?Ele pode fazer as matrizes entenderem a realidade
regional?, avalia um headhunter. ?Mas jamais faria isso. Seria
um tiro na própria biografia.?

Quando deixar o posto, no início do próximo ano, Malan terá
de cumprir uma quarentena. Por quatro meses receberá os
R$ 8 mil mensais que ganha como ministro, sob a condição de
não aceitar propostas. Sem férias desde 1994 e leitor voraz,
poderá aproveitar para viajar e colocar em dia a inspeção dos
15 mil volumes de sua biblioteca.