19/02/2016 - 10:28
A data de 25 de fevereiro considerada para a retomada das negociações de Genebra sobre a Síria não é realista, considerou nesta quinta-feira o enviado da ONU, Staffan de Mistura, enquanto os combates e bombardeios prosseguem sem cessar no norte do país.
No dia em que deveria entrar em vigor um cessar-fogo costurado pelos Estados Unidos e a Rússia há uma semana, De Mistura reconheceu que “não posso, de maneira realista, convocar novas discussões em Genebra, em 25 de fevereiro, mas temos a intenção de fazê-lo em breve”.
“Precisamos de 10 dias para preparar e enviar os convites. As discussões (…) podem ser bem sucedidas se a ajuda humanitária continuar, e se obtivermos um cessar-fogo”, acrescentou. “Ficamos muito desapontados com o passado, mas sou pragmático e determinado”.
As discussões entre as delegações do regime sírio e a oposição foram suspensas em 3 de fevereiro, até dia 25, por falta de progressos depois de menos de uma semana de reuniões em um hotel de Genebra.
De Mistura deverá prestar contas na próxima quarta-feira ao Conselho de Segurança da ONU sobre os seus esforços de mediação.
No terreno, as forças curdas avançavam frente ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na província de Hassaké (noroeste), aproveitando-se do apoio aéreo da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, a Turquia estendeu seus bombardeios a vários setores da província de Aleppo controladas pelas forças curdas sírias, que ela acusa de ser responsável por um atentado na quarta-feira em Ancara.
As Forças de Proteção do Povo Curdo (YPG) e seu braço político PYD, que controlam três quartos da fronteira turco-síria, são consideradas por Ancara como grupos “terroristas” por sua proximidade com o movimento curdo separatista turco do PKK. Já Washington as apoia, uma vez que são a principal força de combate ao EI.
Na província de Hassaké, as Forças Democráticas sírias (FDS), aliança liderada pelas YPG, tomaram várias localidades e avançavam em direção a cidade de Chadadi, reduto do EI, segundo o Observatório dos Direitos Humanos (OSDH).
Em seu avanço, as forças curdas conseguiram cortar duas importantes rotas de abastecimento do EI, a que liga Chadadi a Mossul no Iraque vizinho e uma outra que leva até Raqa, principal reduto do grupo jihadista na Síria.
Também assumiram o controle do campo de petróleo de Kbibé, ao nordeste de Chadadi, após violentos confrontos e ataques da aviação da coalizão.
Em Munique, na semana passada, o Grupo Internacional de Apoio à Síria (ISSG), que reúne 17 países e três organizações multilaterais – incluindo os Estados Unidos, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Turquia, União Europeia e ONU – haviam chegado a um acordo sobre a cessação das hostilidades “dentro de uma semana.”
Mas as esperanças de uma trégua são quase nulas, uma vez que a Turquia prossegue com seus bombardeios e a Rússia aumenta seu apoio ao regime sírio.
A Turquia também defendeu na terça-feira uma intervenção militar terrestre com os seus aliados.
“Precisamos de negociações de paz reais, não de discussões sobre negociações. Agora americanos e russos devem chegar a um acordo sobre um plano para acabar com as hostilidades” até a próxima semana, declarou Staffan de Mistura ao Svenska Dagbladet.
Ele também acusou a Turquia de “complicar” a situação, bombardeando nos últimos dias posições detidas por combatentes das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), dos curdos da Síria, que assumiram o controle de novos territórios perto da fronteira turca.
“Qualquer conflito estendido para as fronteiras da Síria pode escorregar. Não podemos permitir isso”, advertiu o enviado.
O Acordo de Munique também prevê um acesso imediato aos civis sírios em perigo. Neste sentido, “deve ir mais longe”, segundo o diplomata.
Um total de 486.700 pessoas estão em áreas sitiadas e 4,6 milhões em áreas de difícil acesso, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Assistência Humanitária (OCHA).
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