16/09/2009 - 7:00
Burj Al Arab *******: o hotel, que se tornou cartão-postal de Dubai, nos Emirados Árabes, inventou a classificação de sete estrelas, única no mundo
Nas últimas décadas, o principal critério de escolha de um hotel sempre foi o número de estrelas que ele ostentava em sua fachada. Quem tinha dinheiro optava por um estabelecimento cinco estrelas, título que valia como um espécie de selo de excelência. Se a pessoa desejava economizar, a preferência recaía sobre um local menos estrelado. O sistema funcionou muito bem até que algumas redes começaram a extrapolar. Como nenhuma entidade mundial detinha a responsabilidade pela classificação, o conceito variava de país para país e acabou se banalizando. Grupos hoteleiros que não ofereciam serviço e instalações de alto nível, teoricamente indispensáveis para uma correta constelação, passaram a se autopromover com estrelas indevidas. Para se diferenciar dos espertalhões, hotéis de qualidade comprovada inventaram o conceito de seis (como o The Palace of the Lost City, na África do Sul), depois sete estrelas (o Burj Al Arab, de Dubai). Resultado disso é uma confusão só. ?Hoje em dia, o que vale não é o número de estrelas de um hotel, mas a força de sua marca?, afirma Antonio Dias, vice-presidente da Associação Brasileira de Hotéis.
The Palace of the Lost City ******: localizado na cidade de Pilanesberg, na África do Sul, foi o primeiro a superar a barreira de cinco estrelas para se diferenciar dos demais. A ousadia foi copiada pela concorrência
No mês passado, uma medida radical anunciada pelas redes Hilton e Inter Continental iniciou o que parece ser o fim da classificação celeste dos hotéis. Suas unidades na turística Viena, capital da Áustria, deixaram de se auto intitular cinco estrelas. Segundo fontes do mercado, as empresas decidiram retirar o conceito por-que ele estaria afugentando clientes, receosos de que um hotel bem cotado nesse quesito fosse caro demais para os seus bolsos. O processo é reflexo também da crise. ? Os hotéis do Exterior não conseguiram manter os níveis de ocupação?, diz Francisco Garcia, diretor do Inter Continental Hotels Group no Brasil. ? Com a guerra das tarifas para conseguir clientes, foi preciso cortar o que era considerado extravagante.? Uma pesquisa realizada pela Smith Travel Research, consultoria do ramo hoteleiro, revelou que de janeiro a julho de 2009 os níveis de ocupação dos hotéis de luxo caíram em 14%, se comparados com o mesmo período do ano passado. A média de ocupação dos hotéis de luxo despencou de 71% para 57%. Para tentar frear esse processo, as redes diminuíram os preços das diárias em 16%. Ainda de acordo com o estudo, os hotéis de primeira linha vão fechar 2009 com um faturamento 25% inferior ao obtido no ano passado. ?A crise obrigou os estabelecimentos de luxo a fazer cortes?, afirma Jeff Higley, vice-presidente da Smith Travel Research. ?grande desafio é enxugar sem afetar a experiência do hóspede, o que é algo bastante complexo.?
Alguns dos principais grupos hoteleiros do mundo enfrentam dificuldades. Recentemente, a rede Starwood, que carrega bandeiras de hotéis de luxo como St Regis, W Hotels, Sheraton e Le Meridien, anunciou um pacote de corte de custos ? mas assegurou que a qualidade de seus serviços não seria afetada. Ao eliminar despesas, a rede pretende reduzir o preço das tarifas e, com isso, aumentar seus níveis de ocupação. O Brasil vive um momento inverso. ?Baixar tarifas não é bom?, diz Nicolas Pelufo, diretor do resort de luxo Ponta dos Ganchos, em santa catarina. ?Além de promover uma guerra de tarifas, depois é difícil trazer os preços de volta.? Para ampliar sua clientela, o resort criou serviços diferenciados, como a degustação semanal de vinhos. Resultado: nas últimas férias de verão, portanto em plena crise, seu faturamento aumentou 10%.
Hilton e Intercontinental: as unidades instaladas em Viena, na Áustria, abdicaram das cinco estrelas. Esse tipo de classificação estava afastando clientes. Eles escolhiam os concorrentes, por achar que essas redes eram caras demais
Ponta dos Ganchos *****: para driblar a crise, o resort localizado perto de Florianópolis (SC) investiu em serviços exclusivos como a degustação de vinhos
Se as estrelas perderam valor, que critérios o hóspede deve adotar para definir a qualidade de um hotel? Segundo especialistas do setor, na dúvida o ideal é dar preferência para lugares que façam parte de associações internacionais.
Para os hotéis de primeira linha, as principais referências são a Leading Hotels of the World e a Small Luxury Hotels que congregam redes de luxo em diversos países do mundo. ?Todo hotel que está em nossa rede tem de proporcionar experiências inesquecíveis ao mais exigente dos viajantes?, afirma Paul Kerr, CEO da Small Luxury Hotels. A avaliação é minuciosa. São checados até detalhes como o tempo que a recepção demora para atender a uma chamada telefônica do hóspede. Se o hotel não passar no teste, que é feito periodicamente, sua inclusão é vetada. ?Nós jamais olhamos se o hotel é ou não cinco estrelas?, afirma João Annibale, diretor da Leading Hotels of the World no Brasil. ?Na verdade, avaliamos todo o conjunto?. O executivo garante que não alivia na análise de um hotel, por mais que ele seja renomado. ?Sabemos que, com a crise, nosso número de associados pode diminuir. Mas para nós o importante é reunir apenas os melhores hotéis do mundo. Não vamos admitir uma diminuição do nível de serviço para que o hotel ajuste sua tarifa?, diz Annibale. No Brasil, a classificação por estrelas foi extinta pela Embratur em 1997, depois que muita gente reclamou da distribuição excessiva de títulos celestes. No momento, o Ministério do Turismo estuda uma nova forma de avaliação, mas ainda não encontrou um modelo ideal.