Governo admitiu que autoridades paraguaias tiveram computadores hackeados pela Abin. Iniciada sob Bolsonaro, operação teria visado negociações sobre venda de energia de Itaipu e continuado após Lula assumir.Após o Brasil admitir ter organizado uma operação para espionar o Paraguai em 2022, o governo do país vizinho pediu nesta terça-feira (01/04) explicações “detalhadas” sobre o episódio ao embaixador brasileiro em Assunção, José Antônio Marcondes de Carvalho.

A informação foi dada pelo ministro paraguaio do Exterior, Rubén Ramírez, em conversa com jornalistas. Segundo ele, “todas as negociações” com o Brasil sobre o anexo C do acordo da hidrelétrica binacional de Itaipu, que define as condições de comercialização da energia gerada, estão suspensas até que o país dê satisfações a Assunção.

“É uma violação do direito internacional imiscuir-se em assuntos internos de um outro país”, disse o chanceler paraguaio.

Na véspera, o governo brasileiro havia admitido que sua agência de inteligência, a Abin, organizou uma operação para espionar o Paraguai em 2022, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As atividades, porém, só teriam sido encerradas em 27 de março de 2023, quase três meses depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Abin teria acessado dados da Presidência e do Congresso do Paraguai

Segundo o portal Uol, um agente da Abin informou em depoimento à Polícia Federal ter invadido o computador de autoridades paraguaias, inclusive da Presidência e do Congresso do país.

A operação teria visado a obtenção de informações sobre a negociação da venda de energia da usina de Itaipu, que é dividida entre Brasil e Paraguai.

Na época da espionagem, os dois países discutiam o reajuste no valor pago pelo Brasil pela parte da energia gerada no lado paraguaio de Itaipu – um acordo bilateral prevê a compra pelo Brasil dessa energia excedente.

A espionagem teria sido autorizada em junho de 2022 pelo chefe da agência durante o governo Bolsonaro e, posteriormente, pelo sucessor dele no governo Lula, Luiz Fernando Corrêa.

Em maio de 2024, o governo brasileiro fechou um novo acordo sobre os valores pagos ao Paraguai, que teriam ficado abaixo do que o vizinho pedia.

O Itamaraty nega que o governo Lula soubesse da ação de espionagem, e diz que ela foi suspensa pelo diretor interino “tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”. O governo frisa que Corrêa só assumiu o cargo em 29 de março de 2023.

O depoimento do agente da Abin à PF foi prestado no escopo de uma investigação maior, que apura a existência de uma “Abin paralela” usada para espionar desafetos do ex-presidente Bolsonaro.

A polícia agora investiga se houve vazamento do depoimento.

A questão do preço da energia de Itaipu é um assunto que divide Brasil e Paraguai. Quando a usina foi construída, o Paraguai, por falta de infraestrutura, acabou cedendo grande parte da cota de energia ao Brasil por um valor abaixo do que considerava justo.

ra (EFE, ots)