Apesar de ser extremamente comum no Brasil, o ‘parcelado sem juros’ não é algo usual fora do país. Por aqui, parcelar virou comum em uma economia que viveu inflação crônica – e agora, cada vez mais, as companhias que atuam em diversas geografias estão oferecendo essa modalidade que é praticamente uma jabuticaba para consumidores de todo o mundo.

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Brunno Saura, General Manager do PayPal no Brasil, conta que a empresa vê esse cenário como uma via de mão dupla. “É interessante comentar não só o que o PayPal traz de novidade para o Brasil, mas, por exemplo, também o que o mercado brasileiro leva para o PayPal e para empresas globais”, conta, em participação no Dinheiro Entrevista.

Segundo o executivo essa prática comum em países como o Brasil foi levada para outras geografias há cerca de cinco anos, e desde então tem feito sucesso.

“Quando você olha o modelo de parcelamento que a gente faz e quando você olha empresas de hoje – mesmo PayPal e outras companhias globais – utilizando o que a gente chama lá fora de Buy Now Pay Later, nada mais é do que o nosso parcelamento”, explica.

“É algo que foi e é muito utilizado em países na América Latina, como México e Brasil. São produtos bem enraizados que recentemente vem fazendo sucesso e trazendo cada vez mais facilidade para consumidores que não tinham acesso a esse tipo de pagamento. Hoje, nos Estados Unidos,via PayPal, você como consumidor pode ter acesso a um parcelamento até quatro vezes”, completa.

Saura frisa que é algo ‘muito brasileiro’ que hoje funciona ‘nos EUA, na Europa e segue em franca expansão’. Ele relata que há cerca de 10 anos, a indústria tinha uma ‘grande dificuldade’ para enxergar o valor do parcelamento enquanto produto.

Hoje em dia, além do Buy Now Pay Later, a companhia viu tanto valor na modalidade de pagamento que oferece parcelamento de compras também no PayPal Credit, que pode oferecer inclusive mais do que quatro parcelas.

Ademais, o produto se torna mais atrativo no panorama econômico atual.

Em um contexto de inflação mais elevada globalmente – inclusive nos EUA -, parcelar compras se tornou um negócio melhor para os consumidores que vão adquirir itens de maior custo nominal.

Por que o brasileiro gosta de parcelar?

O parcelamento, no Brasil, não é apenas uma criação da indústria para atender uma demanda – na verdade, é fruto de um fenômeno socioeconômico profundamente enraizado.

Se trata de uma solução que evoluiu para se tornar um pilar da cultura de consumo e da estrutura econômica do país.

As origens da modalidade de pagamento remontam à década de 1950, época em que o sistema bancário era incipiente e os cartões de crédito eram inexistentes – dando vazão ao conhecido ‘crediário’ pelos varejistas.

Esse modelo difere do ‘fiado’ – um acordo de crédito informal baseado apenas na confiança verbal. Com o crediário, o varejo normalizou a concessão de crédito após uma análise.

Gigantes como as Casas Bahia cresceram com o livreto de pagamentos mensais e capitalizaram em cima dessa demanda que mostra uma percepção fundamental do mercado de baixa renda: a constância do consumo.

A integração do parcelamento na cultura brasileira foi tão ampla que uma parte dos economistas considera o ‘parcelado sem juros‘ uma ficção econômica, dado que os custos do financiamento estariam embutidos no preço final do produto.

Sob essa ótica, o varejista arca com taxas de antecipação de recebíveis junto às operadoras de cartão e embute esse custo no valor de venda do produto que o cliente for parcelar.