Há um ano, desde junho de 2012, gestores esperam juros menores e inflação controlada. Em vez disso, a Selic subiu para 8,5%, acima dos 7,9% projetados para 2013, e a inflação insiste em ficar acima do teto de 6%. A quebra de expectativas atrapalhou a vida dos gestores de fundos de renda fixa, que entregaram aos investidores um dos piores resultados desde o Plano Real. Mas há exceções, é claro. Alguns deles souberam inverter o óbvio e moldar sua estratégia de modo a obter um ganho bem acima da inflação. Venceram aqueles que souberam perceber as mudanças econômicas, em especial a alta da inflação e a consequente elevação da taxa referencial de juros. 

 

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Le Grazie, do Bradesco: manutenção dos títulos em carteira

por prazos mais longos

 

É o caso, por exemplo, de Ricardo Schiavinato, gestor do banco JP Morgan no Brasil, que baseou sua atuação em três pilares. O primeiro foi aproveitar a boa rentabilidade oferecida pela dívida subordinada dos bancos, em especial as letras financeiras com boa classificação de risco. O segundo foi apostar em papéis privados corrigidos pela inflação, que pagavam mais que os títulos vinculados à taxa de juros do mercado interbancário, o CDI. ?As debêntures indexadas ao IPCA pagavam 8% ao ano, e as indexadas ao CDI pagavam 6%?, diz Schiavinato. O terceiro pilar, de acordo com Paulo Bianchi, também gestor do JP Morgan, foi comprar debêntures com classificações de risco A, apostando em uma queda do prêmio de risco, com a consequente alta dos preços dos papéis. 

 

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Os gestores do JP Morgan (da esq. para a dir.): Leonardo Muller, Gonzalez,

Schiavinato e Bianchi apostaram em ativos vinculados à inflação

 

Ele diz acreditar ser possível manter essas apostas ao longo do ano, pois no primeiro semestre houve grandes emissões de dívida pelas empresas. ?Dos R$ 8,3 bilhões que chegaram ao mercado, um terço foi lançado por estreantes do mercado de dívidas?, diz Bianchi. Resultado: o fundo de renda fixa tradicional JPM Special rendeu 8,43% nos 12 meses até junho, superando a inflação acumulada de 6,7%, segundo o IBGE. Foi a carteira mais rentável da amostra analisada pela DINHEIRO, de 739 fundos abertos, com patrimônio superior a R$ 100 milhões e pelo menos 50 investidores. A aplicação mínima desse fundo é de R$ 50 mil, e a taxa de administração é de 0,60% ao ano, segundo a empresa de informações Economática. 

 

No Itaú, a chave para o bom desempenho foi uma avaliação criteriosa do risco, em especial o de inflação. Ronaldo Patah, diretor de fundos de renda fixa do banco, diz que os sinais de descontrole de preços acenderam uma luz vermelha no fim de 2012, indicando alta dos juros. ?Para fazer frente a isso, vendemos nossos títulos pré-fixados, que caem com a alta da Selic, e compramos papéis pós-fixados, que ganham quando os juros sobem?, diz. ?Quando o Banco Central subiu os juros, estávamos um passo à frente do mercado.? Com isso, o fundo Itaú Active Fix, para clientes private, rendeu 8,11% em 12 meses. A taxa de administração é de 0,50% e a aplicação mínima é de R$ 300 mil. 

 

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Le Grazie, do Bradesco: “Prazo mínimo de fundos permite que

nos programemos para vender nossos papéis nos melhores

momentos de mercado”

 

Outro banco que precisou rever seus procedimentos para ganhar na renda fixa foi o gaúcho Banrisul. Com pouco mais de seis anos, o fundo Flex, que começou com apenas R$ 1 milhão, tem a meta de render 112% do CDI. Segundo Guilherme Ferle, gestor de renda fixa do Banrisul, o enfoque do fundo é ter até 80% do patrimônio em crédito e o restante em títulos públicos, o que garante a liquidez. A mudança nos últimos meses foi aumentar a fatia de títulos públicos, fugindo da deterioração do crédito. Ao limitar sua escolha a papéis com grau de investimento, Ferle conseguiu desviar-se dos solavancos de preços no crédito privado ocorridos no primeiro semestre. Isso, evidentemente, sacrificou a rentabilidade. 

 

?Hoje temos 75% em títulos privados, menos do que gostaríamos.? Já no caso dos fundos de renda fixa livre e de índices, que permitem mais flexibilidade ao gestor, a vitória sobre a inflação veio acompanhada de uma diminuição da liquidez e exigiu uma boa dose de paciência. Essa foi a palavra mais pronunciada na empresa de gestão de recursos do Bradesco, a Bram. O fundo Crédito 90 exige que o investidor mantenha seu dinheiro aplicado por pelo menos três meses, para garantir a rentabilidade. ?Isso permite que nos programemos para vender nossos papéis nos melhores momentos de mercado?, diz Reinaldo Le Grazie, diretor de renda fixa e multimercados da Bram. A espera compensou. 

 

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Ronaldo Patah, do Itaú: antecipação da alta da Selic

 

O fundo rendeu 8,30% em 12 meses, um ganho de 2,43 pontos percentuais em relação à inflação. Uma das preocupações de Le Grazie é manter uma carteira diversificada de papéis. São debêntures, letras financeiras, fundos de direitos creditórios de empresas e de bancos. A única exigência é o risco baixo: pelo menos 50% dos papéis devem ter uma classificação de risco AAA. ?Mesmo que o papel não tenha uma classificação de risco, o rating da empresa emissora precisa ser bom?, diz. Segundo Le Grazie, os próximos 12 meses serão desafiadores, por conta da alta da Selic e da inflação. ?Mesmo assim, há oportunidades, pois o cenário hoje é melhor do que o de janeiro.? 

 

O fundo cobra uma taxa de administração de 0,40% e o investimento inicial é de R$ 200 mil. Comprar e vender ativamente: essa foi a estratégia do fundo de renda fixa específico de inflação do JP Morgan, que rendeu 7,79%. Segundo o gestor Antonio Gonzalez, em março o JP percebeu que juros e inflação mudariam seu comportamento, daí a decisão de diminuir a exposição em papéis de inflação. ?Vínhamos apostando na diferença entre inflação e juros e tivemos de mudar essa estratégia para ganhar.? Gonzalez explica que os próximos passos do fundo serão balizados pelo comportamento externo. ?A política americana influencia no movimento das taxas de juros futuras.?

 

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