Parentes e amigos de pessoas portadoras de Síndrome de Down fizeram nesta quarta-feira, 21, no Rio de Janeiro um ato silencioso de repúdio à desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). A magistrada postou na internet comentários em que ridicularizava uma professora que tem a síndrome, como se a docente fosse incapaz de ensinar.

A desembargadora também divulgou fake news (notícias falsas) sobre a vereadora Marielle Franco, assassinada na quarta-feira da semana passada, acusando-a, sem provas, de ter ligações com o crime organizado. Afirmou também que o deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ) deveria ir para o “paredão de fuzilamento”. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu inquérito para investigar o comportamento da magistrada.

O protesto desta quarta foi feito no Dia Internacional da Síndrome de Down. Durante a sessão, os manifestantes ergueram cartazes onde se lia: “Quem julga com preconceito não sabe fazer direito”.

O Tribunal de Justiça divulgou nota dizendo que “o grupo do movimento em favor das pessoas com Síndrome de Down teve pleno acesso à sala de sessões da 20ª Câmara Cível”. “Nossa assessoria entrou em contato com uma advogada e mãe de uma criança com Down, Sandra Kiefer, que disse ter saído satisfeita com o ato realizado (…), classificando-o de protesto pacífico.”

A assessoria informou também que não vai se pronunciar sobre a declaração pessoal da desembargadora. Procurada em seu gabinete, Marília informou por meio de um assessor que tampouco vai se manifestar sobre o tema.

“Foi um ato pensado por líderes das organizações de parentes de pessoas com Síndrome de Down para mostrar que nós não aceitamos o preconceito”, afirmou Sandra Kiefer, advogada e mãe de uma criança com Down. “Não podemos deixar passar em branco. As minorias precisam ser respeitadas. E nós, do Direito, temos o dever de agir nesse sentido.”

Polêmicas

Em uma postagem em uma rede social, a desembargadora conta que ouviu no rádio a notícia de que o Brasil é o primeiro país a ter uma professora com Síndrome de Down. E acrescenta: “O que será que essa professora ensina a quem? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?”.

A professora Débora Seabra, que tem Síndrome de Down e trabalha há 13 anos em uma escola em Natal, publicou também nas redes uma resposta à postagem da desembargadora: “Quem discrimina é criminoso”.

Nos dias que se seguiram ao assassinato de Marielle Franco, a desembargadora replicou notícias falsas segundo as quais a vereadora teria tido um filho com um traficante de drogas e teria tido sua eleição financiada por uma facção criminosa.

A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down e o PSOL entraram com representações contra a magistrada junto ao CNJ. Nesta terça-feira, 20, o corregedor João Otávio de Noronha determinou abertura de procedimentos de averiguação sobre os dois casos