Há pouco mais de dois anos, um grupo de arquitetos de um dos mais conceituados escritórios americanos desembarcou em uma antiga pastagem a pouco mais de 20 quilômetros de Belém, no Pará. Caminhou uns poucos metros no descampado para, em seguida, desaparecer sob a densa vegetação amazônica. Deste mergulho na mata ? e de vários outros que se seguiriam nos meses seguintes ? brotou um projeto cuja ambição tem gigantismo semelhante à imensidão verde da maior floresta tropical do mundo. São sonhos de US$ 400 milhões, materializados nas pranchetas da Morris Architets, firma americana que tem entre seus clientes as áreas de parques de corporações como a Disney e a Universal, a rede de restaurantes Hard Rock Café e as administrações de vários países do mundo. Delas saíram os primeiros croquis e o
plano diretor do Parque Amazônia, anunciado pelo governo do Pará como o futuro ?maior parque ecoturístico do planeta?. Investidores de todo o mundo conhecerão os detalhes ? que DINHEIRO apresenta em primeira mão ? a partir de novembro. ?Faremos um road-show para atrair grupos empresariais nacionais e estrangeiros para o empreendimento?, afirma Francisco Sérgio de Souza Leão, secretário de Produção do Pará. ?Seremos indutores do projeto. Os recursos virão da iniciativa privada.?

Luxo na selva. Os investidores não ouvirão falar de uma Disneylândia em plena selva. Acostumados a criar atrações repletas de tecnologia, os arquitetos da Morris desta vez tiveram de rever seus conceitos e procurar idéias que injetassem adrenalina nos visitantes aproveitando apenas a riqueza do meio ambiente de uma antiga fazenda de pecuária e seringais. A área, de 7 mil hectares, pertencia à Pirelli e foi desapropriada em 1997 pelo governo paraense. Mais de 90% dela permanecia com sua cobertura vegetal primária. ?O que vimos foi um raro trecho de floresta amazônica encravado em uma zona urbana?, relata Miguel Kaled, brasileiro que dirige a área internacional de desenvolvimento da Morris. Decidiram, então, mantê-la intocada. No projeto, utilizaram os antigos pastos (cerca de 400 hectares) como locação para hotéis ? que vão de pousadas ecológicas a resorts de luxo ?, um centro turístico e de convivência. Ali será o ponto de partida para as aventuras na selva, em atrações como passeios de balão sobre a floresta, safáris fotográficos, esportes aquáticos ou um tour pelas copas das árvores. O projeto inclui ainda espaços para educação ambiental e parte do parque ficará restrito ao estudo da natureza local por um instituto científico. O conceito em jogo é o do desenvolvimento sustentável: gerar riqueza mantendo a natureza e a cultura da região. ?Não há nada comparável no mundo?, diz Kaled.

O cronograma do governo do Pará prevê para 2006 a abertura da primeira fase do projeto. Do total do investimento, US$ 220 milhões seriam usados para as instalações e atrações e o restante aplicado na infra-estrutura da região para recepcionar um público estimado em até 2 milhões de turistas por ano quando as quatro fases estiverem operando. ?Já fomos contatados informalmente por grupos interessados em participar do empreendimento?, afirma o secretário Leão. Antes mesmo de ser oficialmente lançado, o Parque Amazônia desperta atenção e já foi até premiado. Em julho passado, o projeto da Morris foi escolhido em um importante prêmio de arquitetura americano como o que melhor soube lidar com o ambiente ecológico. Agora, a Morris terá a oportunidade de mostrar outra de suas habilidades: o escritório americano ? que nos últimos cinco anos desenvolveu projetos que totalizam investimentos de US$ 4 bilhões ? assessorará o governo do Pará na busca de investidores. ?Nosso negócio também é montar a arquitetura financeira que permita que nossos clientes ganhem dinheiro.