O partido da líder da oposição birmanesa Aung San Suu Kyi decidiu nesta segunda-feira boicotar as primeiras eleições organizadas em 20 anos Mianmar pela junta militar que governa o país do sudeste asiático.

Mais de 100 membros do comitê central da Liga Nacional pela Democracia (LND), reunidos em Yangun, apoiaram a postura da Prêmio Nobel da Paz, que na semana passada afirmou que era contrária à inscrição do partido nas listas para as legislativas, por considerar “injusta” a lei eleitoral.

“A LND decidiu não registrar o partido, já que as leis eleitorais emitidas em 2010 pelo Conselho de Estado para a Paz e o Desenvolvimento (SPDC, nome oficial da Junta) são injustas”, afirmou Nyan Win, porta-voz de Suu Kyi.

A legislação elaborada pelo regime ditatorial para as eleições obriga os partidos a expulsar as pessoas detidas, como é o caso de Suu Kyi, que cumpre atualmente uma pena de 18 meses de prisão domiciliar.

Nesta segunda-feira, a LND tinha que optar entre excluir Suu Kyi para participar nas eleições ou correr o risco de ser dissolvida. Os delegados escolheram conservar no partido aquela que simboliza, no país e em todo o mundo, a resistência ao regime militar.

A LND venceu as eleições de 1990 de forma inesperada, dois anos depois da revolta popular de 1988. Mas a junta militar não abdicou do poder e se negou a reconhecer o resultado da votação.

Desde então, Suu Kyi passou 14 anos privada da liberdade.

As próximas eleições, que ainda não tiveram a data exata anunciada, devem acontecer no fim de outubro ou início de novembro, agora sem o principal partido de oposição.

“Era muito difícil para os membros da LND excluí-la, já que é uma pessoa muito influyente no partido e no país”, explicou Win Min, analista político birmanês e militante pró-democracia baseado na Tailândia.

A princípio, a junta poderia dissolver pura e simplesmente a LND, nos prazos fixados pela lei.

“O partido, sob o atual nome, pode deixar de existir oficialmente a partir de 6 de maio”, lembra Win Min.

Nesta segunda-feira, militantes da LND se reuniram diante da sede do partido, alguns com camisas brancas e a frase: “Nós acreditamos, Aung San Suu Kyi”.

Nann Khin Htwe Mying, membro do comitê central do partido, explicou o estado de ânimo reinante: “Sacrificamos nossa vida durante 20 anos e agora devemos abandonar tudo. Não é possível imaginar como nos sentimos”.

A comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, condenou duramente o que chamou de “paródia de democracia” em Mianmar após a promulgação das leis eleitorais. A ausência da LND deve agora aprofundar as críticas, já que muitos consideram a eleição um mero simulacro para legitimar o poder dos militares.

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