A pandemia da covid-19 reduziu o volume de campanha na rua com material físico e levou os candidatos a prefeito a buscar novas estratégias digitais para explorar o apoio do seus “exércitos” de candidatos a vereador. Postulantes a cargos no Legislativo municipal formam a principal rede de apoio aos candidatos e funcionam como ligação com a base de eleitores. Por isso, em geral, líderes comunitários ou pessoas identificadas com determinadas causas de apelo popular são escolhidos pelos partidos.

Diante dos desafios impostos pelo novo coronavírus, neste ano, no entanto, outros atributos entraram na hora de escolher um candidato à Câmara Municipal: número de seguidores nas redes sociais, quantidade de grupos de WhatsApp e capacidade de engajamento nas redes sociais. Partidos políticos criaram santinhos com QR Code, para evitar o contato, arquivos digitais de material de propaganda para facilitar o disparo em listas de distribuição e até uma equipe de “mentoria” para uniformizar a atuação digital dos candidatos a vereador.

Marqueteiros e candidatos dizem que os santinhos de papel não deixaram de circular e o corpo a corpo em redutos eleitorais ainda faz parte da agenda, mas em proporções muito menores que nos tempos pré-pandemia. “Essa é uma eleição experimental. O mantra é unir o online com o offline”, disse Elsinho Mouco, marqueteiro de Celso Russomanno (Republicanos). O deputado tem 166 candidatos a vereador em sua coligação, o terceiro maior número, mas ainda não finalizou sua estratégia digital.

“O WhatsApp nessa eleição vai ser o novo corpo a corpo”, disse Wilson Pedroso, coordenador da campanha à reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB). Com uma coligação de dez partidos, Covas tem o maior número de candidatos a vereador: 763. O comitê tucano estimulou entre eles a criação de grupos de WhatsApp temáticos e regionais, criou listas de transmissão para enviar materiais digitais do candidato com a foto do prefeito e adotou até o santinho de papel com um QR Code.

No “novo normal eleitoral”, o principal ativo dos cabos eleitorais agora são os seus grupos de WhatsApp e o número de seguidores nas redes sociais. “Nesse contexto de pandemia é inevitável se pensar no meio digital. Não anula o corpo a corpo, mas cria uma nova rotina, um novo jeito de conversar com as pessoas”, disse Thammy Miranda. Candidato a vereador pelo PL, partido da coligação de Covas, ele tem 3 milhões de seguidores no Instagram, 642 mil no Facebook e 120.900 no Twitter.

“Nas redes sociais dá para ter um contato diário com o eleitor. Falo com mais de 4 milhões de pessoas diariamente e tenho que trabalhar meu conteúdo para que as pessoas possam decidir o voto”, disse Thammy. A título de comparação, Covas tem 208.367 seguidores no Facebook.

Com o objetivo de dar uma cara de uniformidade às campanhas digitais dos candidatos a vereador, o MDB criou uma ferramenta, o MDB Drive, que permite baixar santinhos, faixas, cards e jingles oficiais direto do site do partido.

Manter uma unidade à campanha dos postulantes à Câmara também é a justificativa para a contratação de uma “mentoria” para os cerca de 376 candidatos a vereador da coligação de partidos que apoiam Márcio França (PSB). Coordenador de redes digitais da campanha, o publicitário Reginaldo Ferrante diz que há também um aplicativo feito apenas para os candidatos. “Cruzamos o conteúdo do vereador com nosso programa de governo”, disse. Dessa forma, os candidatos recebem material digital sob medida para ser distribuído em seus grupos e demais plataformas. “A ideia é potencializar nosso alcance usando as redes conjuntamente, o que promove uma visibilidade maior e permite que mais pessoas conheçam nossos projetos”, disse o ex-atleta olímpico Diego Hypólito, candidato a vereador do PSB que tem 594 mil seguidores no Instagram.

LGPD

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em setembro com objetivo de resguardar direitos dos usuários à liberdade e privacidade na internet, obrigou os candidatos a tomar mais cuidado na hora de enviar material de campanha virtual.

Segundo o advogado Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab e membro da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, as campanhas devem, por exemplo, ter consentimento do usuário antes de distribuir material de campanha. Além disso, devem fornecer mecanismos de descadastramento aos eleitores.

“A gente considera eleitor aquela pessoa que te deu o contato”, afirmou a médica Roberta Grabert, candidata a vereador em São Paulo pelo Novo, que tem usado grupos de WhatsApp dos quais já faz parte, como o do seu condomínio. Neles, Roberta envia um link convidando as pessoas para um novo grupo – este, sim, voltado para distribuir material eleitoral. Para ela, o método “evita que as pessoas se sintam invadidas.”

De acordo com o advogado Francisco Brito Cruz, esse tipo de abordagem está de acordo com o que prevê a lei. O risco de se perturbar o eleitor está no radar das campanhas. O analista de operações Alexandre Aebi disse que foi adicionado a grupos de candidatos, mesmo sem saber como seu contato foi compartilhado. “Gosto de política, mas, ainda assim, isso tem sido um exagero.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.