A favor ou contra o presidente, a nova onda em Brasília é fazer passeatas oportunistas. Na terça-feira 16, estudantes da UNE, sindicalistas da CUT, militantes do MST e de outras entidades menores, num total aproximado de 5 mil pessoas, foram às ruas apoiar Lula. Este ano, 26 entidades ligadas ao MST receberam pouco mais de R$ 26 milhões do governo federal. A UNE foi aquinhoada este ano com R$ 1,185 milhão, sendo R$ 772 mil em julho, na forma de repasses dos ministérios da Educação, Saúde e Ciência e Tecnologia. A CUT, desde o início do atual governo, obteve um total de R$ 15,7 milhões em verbas federais. Na quarta 17, a marcha se deu no sentido inverso. Para malhar o presidente, apresentado num boneco com roupa de presidiário, a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) colocou cerca de 10 mil manifestantes na Esplanada dos Ministérios. Nas últimas semanas, a entidade amealhou cerca de R$ 600 mil entre partidos políticos como o PSOL e sindicatos de trabalhadores de oposição ao governo. As duas passeatas contaram com infra-estrutura de transporte, carros de som, lanches e horários de início e término. No dia em que a turba estava a seu favor, o presidente ficou em Brasília e, democrático, recebeu no Palácio do Planalto uma comissão de jovens alegres e sindicalistas amistosos. Quando, porém, 24 horas depois o tom subiu contra seus interesses, Lula estava em Vitória da Conquista, na Bahia, e os manifestantes ficaram ao sol, sem direito a entrar no Planalto.

Líder dos caras-pintadas, o presidente da UNE, Gustavo Petta, recebeu numa conta pessoal R$ 50 mil. Extrato do Sistema de Informações Financeiras do Governo, o Siafi, mostra que a transferência, feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi para bancar o congresso nacional da entidade, realizado no mês passado. ?Ficamos preocupados quando nos falaram que o repasse seria dessa forma?, lembra Petta. ?Mas disseram que era um procedimento rotineiro deles e que a conta é pública, na qual sou o favorecido legal?. Para o Tribunal de Contas da União, o caso é suspeito. ?É uma irregularidade?, afirma o procurador-chefe Lucas Rocha Furtado. ?Abrir uma conta e favorecer uma pessoa física, mesmo que os recursos sejam para a entidade, caracteriza no mínimo uma falha formal?.

Ao todo, as entidades que organizaram a passeata a favor do governo consumiram mais de R$ 129 milhões dos cofres públicos nos últimos 32 meses. Os repasses para a CUT enfrentam uma situação polêmica. Em 2003, o TCU determinou a suspensão de todos os repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), feitos pelo Ministério do Trabalho, para programas de capacitação profissional da própria entidade e de outras, inclusive patronais. Num acórdão do tribunal, condenando um dos repasses, o ministro Lincoln da Rocha indagou como um trabalhador, indicado para capacitar-se pela CUT, poderia ter realizado 25 cursos em mais de seis municípios diferentes ? de Canoas, no Rio Grande do Sul, a São Luiz, no Maranhão ? nas mesmas datas.

De lá pra cá, no entanto, as remessas de recursos não cessaram. Existem em atividade dezenas de convênios ?a aprovar? ou ?a comprovar?, provenientes do Ministério do Trabalho. Pelos critérios do TCU, eles deveriam ser classificados como ?inadimplentes?. O benefício da dúvida, dado pelo governo, serve, na prática, para driblar a decisão do TCU.

A passeata a favor de Lula, com estudantes charmosas e sindicalistas esbravejando pelo presidente, cumpriu seu papel. Mas a dos opositores teve momentos divertidos. ?Lulinha, mas quem diria, ficou com medo e fugiu para a Bahia?, cantavam os manifestantes ao saberem que o presidente não estava em Brasília. Dos carros de som eram puxadas palavras de ordem com críticas irônicas ao protesto da véspera. ?A UNE não nos representa?, diz Júlia Eberhardt, ex-diretora que abandonou a entidade em janeiro. ?Os caras-pintadas viraram caras-pálidas?.