19/07/2006 - 7:00
Edosn Moura, prefeito: “Ser prefeito aqui é moleza. Mas, com o tempo, a Replan tende a perder faturamento. Precisamos diversificar a economia local. E, se temos terreno e dinheiro, para que fazer pequeno?”
“Aqui, dinheiro não é problema. Tenho a vida que todo prefeito pediu a Deus”, diz Edson Moura, prefeito, em seu terceiro mandato. Moura, que conquistou fama de polêmico por gastar milhões em obras de utilidade duvidosa, está pronto para sua nova investida: um pólo de produção cinematográfica orçado em R$ 100 milhões. “Vamos deixar de ser a ‘Suíça brasileira’ para nos tornar
a ‘Hollywood brasileira'”, diz.
O projeto inclui três estúdios, um teatro para 1250 pessoas (o Municipal de São Paulo tem 1580 lugares), o Museu da TV, Rádio e Cinema Brasileiro, e escritórios para produtoras de cinema. “A idéia é que boa parte das produções nacionais seja feita aqui”, diz a secretária de Cultura, Tatiana Quintella. A primeira delas, o filme “Topografia de um Desnudo”, dirigido por Teresa Aguiar e estrelado por Ney Latorraca, já está em fase final de gravação. Orçado em R$ 1 milhão, o filme recebeu R$ 520 mil à vista da prefeitura para ser gravado na cidade.
Tanta opulência só é possível porque Paulínia, a 110 km de São Paulo, é uma das cidades mais ricas do País, graças à Replan, a maior refinaria de petróleo da Petrobrás. No ano passado, o município arrecadou R$ 500 milhões provenientes dos impostos pagos pela refinaria e pelas indústrias petroquímicas instaladas ao seu redor. Só a Replan é responsável por 64% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) da cidade. É tanto dinheiro que em Paulínia não existe IPTU, o imposto predial. Não à toa, a população da cidade cresceu 50% em dez anos. O orçamento da “Suíça brasileira” equivale a 42% do da vizinha Campinas, segunda maior cidade paulista. Campinas, porém, tem 16 vezes mais habitantes.
Apesar de tranqüilo com relação às finanças, Moura se diz apreensivo com o futuro da cidade. O biodiesel, os carros flex e as reservas de petróleo mundial em queda, segundo ele, vão fazer o faturamento da Replan diminuir nos próximos anos. Por isso, o baiano de nascimento, que chegou à cidade em 1974 para trabalhar como ajudante geral em uma das empresas que construíram a Replan, teve a idéia de construir a Hollywood brasileira. “Ainda não sabemos como vamos cobrar das produtoras para que elas produzam aqui”, diz a secretária Tatiana. Mas Moura não está preocupado com isso. Se for preciso, no início, a cidade pode bancar as produtoras.
Os projetos de Moura estão longe de ser unanimidade. ?Ele gasta milhões em obras faraônicas que não servem para nada, enquanto as escolas estão uma lástima?, diz o médico Marcos Teixeira, presidente da ONG Ama Paulínia, que embargou na Justiça algumas das obras de Moura. Uma delas foi o Manto de Cristal, uma enorme pirâmide de vidro (se o Louvre tem, por que Paulínia não pode?) que seria construída no centro da cidade, ao custo de R$ 100 milhões. Mas a ONG não conseguiu impedir a construção do sambódrormo coberto, em 1993, que custou R$ 49 milhões e que, na inauguração, podia assentar todos os de habitantes de Paulínia (na época 40 mil). Nem o projeto da Rodoviária-Shopping, um complexo de R$ 90 milhões e 31 mil metros quadrados, que de um lado é shopping e do outro rodoviária. Inaugurado há dois anos, a Rodoviária-Shopping permanece fechada, porque não há lojas, nem linhas de ônibus para ocupar a construção. Só foi usado no ano passado, para as provas do concurso público da prefeitura. Aquele para os empregos de R$ 2,4 mil.