A FOTO DE HENRY PAULSON NA CAPA DA revista americana Newsweek com o título ?Rei Henry? deu o tom: o secretário do Tesouro se tornou o homem forte do governo americano. Com a negociação de um acordo para que o Congresso americano aprove o pacote de US$ 700 bilhões para compra dos créditos podres do mercado imobiliário, ele deve ganhar poderes inéditos, no momento em que George W. Bush se transforma numa espécie de pato manco. A tal ponto que analistas políticos em Washington já consideravam grande a possibilidade de que Paulson seja mantido no cargo quando o novo presidente assumir a Casa Branca, dia 20 de janeiro. Republicano, embora não ligado pessoalmente a Bush, Paulson foi elogiado até pelo candidato democrata Barack Obama, que dias antes disse que seria complicado colocar uma pessoa nova no posto num momento como este. Mesmo com restrições impostas pelos congressistas, o poder de Paulson deve ser enorme. Ele poderá comprar qualquer ativo relacionado a hipotecas, residenciais ou comerciais, por dois anos, e dispor deles da maneira que julgar melhor. Pode ganhar ainda imunidade na Justiça contra ações de possíveis perdedores.

Depois da carreira na Goldman Sachs, onde começou em 1974 e chegou a CEO, Paulson relutou quando lhe ofereceram o emprego em 2006 a apenas dois anos do fim de um governo já desgastado. Convencido a aceitar o cargo, Paulson elevou sua estatura, tornando-se o mais importante conselheiro econômico do presidente. No último fim de semana, com o anúncio da disposição do governo em enfiar a mão no cofre dos contribuintes, o problema parecia resolvido. Pelo menos foi o que pensaram os investidores na segunda-feira de manhã. À tarde, o otimismo começou a dar lugar à apreensão, com a hesitação do Congresso em dar o que considera um cheque em branco ao secretário do Tesouro. Um acordo entre democratas e republicanos foi finalmente fechado na quinta-feira 25 na hora do almoço, depois de uma reunião que atravessou a noite de quarta. ?Estamos dando ao secretário a autoridade de que ele precisa para agir e os recursos de que ele vai precisar?, disse o senador Christopher Dodd, democrata e presidente da Comissão de Bancos do Senado, após uma reunião com o deputado Barney Frank, presidente da comissão equivalente na Câmara. O mercado reagiu, mas ainda com cautela, à espera dos detalhes. O índice Dow Jones subiu 1,82%. No Brasil, a Bovespa fechou em forte alta de 3,98% e o dólar comercial caiu 1,62% e fechou o dia em R$ 1,82.

EMPRESAS QUE ERRAM DEVEM FALIR, MAS ESTES NÃO SÃO
TEMPOS NORMAIS. AGI PARA EVITAR UMA LONGA RECESSÃO

GEORGE W. BUSH, FALANDO SOBRE A CRISE ECONÔMICA

O acordo foi fechado um dia depois de um discurso do presidente Bush em rede nacional de tevê explicando a situação e pedindo a cooperação dos congressistas e a compreensão dos cidadãos. Bush se mostrou constrangido sobre a interferência do governo na economia e o uso de dinheiro público para socorrer banqueiros privados. ?Meu instinto natural é me opor à intervenção do governo. Acredito que empresas que tomam decisões erradas devem ir à falência. Em circunstâncias normais, eu teria feito isso. Mas estas não são circunstâncias normais?, disse o presidente. Com cara de enterro, Bush traçou um quadro dramático da economia. Disse que o mercado não estava funcionando, que setores importantes corriam o risco de fechar e que o país poderia mergulhar num pânico financeiro. ?Nosso país poderia viver uma longa e dolorosa recessão?, alertou. Mas as pequenas modificações que permitiram o acordo bipartidário certamente não serão suficientes para calar os críticos. O financista convertido em filantropo George Soros disse que o plano era um cheque em branco. ?O histórico de Paulson não inspira a confiança necessária para que lhe sejam concedidos plenos poderes sobre US$ 700 bilhões?, afirmou. O economista Paul Krugman chamou o plano de ?cash for trash?, dinheiro por lixo, e deixou claro num artigo na semana passada que duvida do sucesso de Paulson. Conhecido crítico da administração Bush, Krugman escreveu que o plano vai resolver o problema. Além de guardar a chave do cofre, Paulson pode ter ganho também um talão de cheques, mas seu trabalho nos próximos meses certamente não será fácil.