O Brasil vai ter no meio ambiente o fio condutor das relações bilaterais com o governo Joe Biden, o presidente eleito dos Estados Unidos, disseram especialistas em evento promovido Insper e pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais). Eles alertaram que será extremamente importante não apenas para o governo brasileiro, mas principalmente para o setor privado e o setor agrícola, trabalhar para reverter a imagem de “vilão ambiental” que foi construída nos últimos tempos pelo País no exterior.

“Ainda não existe um posicionamento claro na equipe de Biden sobre o meio ambiente e como essa questão será tratada dentro do governo democrata, mas é claro que ela será essencial”, disse Monica de Bolle, pesquisadora do Petterson Institute, professora da Universidade Sais/Johns Hopkins e colunista do Estadão. Ao lado de outros especialistas, ela participou de uma série de debates promovida para discutir os impactos do governo Biden para o Brasil.

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Apesar das indefinições que antecedem a posse do democrata, já é possível dizer que a sustentabilidade será o pilar principal da relação EUA-Brasil, de acordo com os analistas. “A pauta ambiental será de extrema importância para o País e pode ajudar a aliviar outras barreiras ideológicas que (o presidente Jair) Bolsonaro evidentemente possui em relação a Biden”, analisa Christopher Garman, diretor executivo para as Américas da consultoria Eurásia.

Entre os pontos que o País precisa melhorar, segundo Garman, estão a necessidade do governo se empenhar nas negociações do Acordo de Paris e também da próxima reunião da Conferência das Nações Unidas Sobre a Mudança Climática, a COP-25, que, em virtude da pandemia, acontecerá em novembro de 2021.

Caminho

Ao seguir por esse caminho, o País terá condições melhores não apenas para fazer negócios com os Estados Unidos, mas também com importantes potências da Europa, algo que está sendo perdido diante da atual imagem de vilão ambiental. “Temos uma agricultura e economia visivelmente sustentáveis, com um ótimo desempenho na preservação ambiental e um marco único de preservação do solo”, destacou Alexandre Mendonça de Barros, especialista em agronegócios e professor da Fundação Getúlio Vargas.

“Temos tudo para ser economicamente e socialmente uma grande potência ambiental. Porém, acredito que vai demorar algum tempo até que o mundo volte a ver e reconhecer o potencial brasileiro”, disse Barros.

A mudança na forma como o governo lida com as questões ambientais, no entanto, não deve partir apenas das lideranças políticas. “É muito importante, nesse momento, que o setor privado, principalmente o agro, que pode ser um dos mais afetados em um eventual impasse ambiental com Biden, pressione o governo a agir de forma diferente e contenha os eventuais impulsos de Bolsonaro de debater mais rispidamente essa questão com o presidente americano”, disse Monica.

Sanções

Se os índices de desmatamento na Amazônia voltarem a piorar no período que coincide com a gestão Biden, o País poderá receber algumas punições do governo americano. “Biden certamente não dará tanto valor para as birras ideológicas do governo, mas poderá reagir duramente se Bolsonaro continuar agindo com descaso em relação ao meio ambiente, que é uma das grandes bandeiras democratas”, disse Garman.

“Biden sabe a importância das relações com o Brasil e não vejo os Estados Unidos impondo sanções muito duras ao comércio brasileiro, mas acredito em um cenário no qual os americanos poderão aumentar os impostos cobrados sobre produtos chave que o País exporta aos EUA”, concluiu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.