A terceira rodada do campeonato paulista de futebol provocou uma confusão de sentimentos
no empresário João Paulo Diniz, de 42 anos. No último dia 25 de janeiro, em pleno estádio do Morumbi, a casa do São Paulo, o tricolor caía diante do tradicional Juventus, o Moleque Travesso da rua Javari, por 1 a 0. São-paulino roxo confesso, ele não sabia se entristecia ou se comemorava. O lado emocional lhe recomendava a melancolia, já o racional lhe ordenava a alegria. A vitória do time grená, do tradicional bairro da Mooca, Zona Leste da capital paulista, era, de certa forma, uma conquista pessoal. É que o Juventus leva no calção o patrocínio da Kennex, a marca de computador popular do herdeiro do Grupo Pão de Açúcar em sociedade com o empresário Marcos Funaro, de 44 anos, filho do falecido ministro da Fazenda Dilson Funaro. Poucos sabem desse empreendimento na área de tecnologia, um estranho no ninho ao lado dos negócios da área de gastronomia e hotelaria, os principais ingredientes da holding Componente, a empresa de Diniz. Mas não é que, em apenas dois anos de atuação, discreta, sem alarde, a Kennex driblou a concorrência e marcou vários gols?! ?Crescemos 180% e faturamos US$ 20 milhões?, disse João Paulo Diniz à DINHEIRO. ?Neste ano pretendemos faturar US$ 60 milhões?.

A julgar pela trajetória da empresa, é melhor não duvidar de Diniz. A Kennex nasceu em 2003 e já ocupa a 6ª posição entre as marcas mais vendidas. E tudo começou de uma conversa informal. Na época, João Paulo, dono de vários restaurantes na badalada rua Amauri (Ecco, Parigi, Forneria San Paolo e Dressing), pretendia montar uma revistaria no pedaço. Mas não seria uma qualquer. ?Queria ter um espaço onde fosse possível comprar CDs e DVDs?, conta. Procurou, então, Marcos Funaro, amigo de longa data e dono da rede de lojas Laser Home Vídeo. Funaro lhe deu o caminho das pedras e foi além. ?Meus irmãos trabalham no ramo de tecnologia e me contavam da carência no setor de computador popular?, explica. Desse papo, surgiu a oportunidade. Atrás de informações, descobriram a Flextronics, gigante de US$ 16 bilhões que fabrica equipamentos para grandes marcas como HP, Dell, IBM e outras grifes do mundo digital. A Flextronics faz o produto sob encomenda e as marcas colocam sua etiqueta. ?Resolvemos criar uma marca cujos equipamentos seriam fabricados na maior empresa do mundo e vendidos na maior varejista de informática do Brasil?, diz Funaro, referindo-se ao Extra, rede de supermercados da família Diniz.

João Paulo gosta de frisar que não teve facilidade para entrar no Extra. ?Participamos da concorrência como todos?, diz ele. Com preços a R$ 1,99 mil na época, ganharam espaço nas gôndolas e partiram para o ataque. No primeiro ano, venderam 3 mil unidades. Em 2004, foram 17 mil e, no ano passado, atingiram a marca de 48 mil máquinas. O salto da marca teve início depois que os empresários emplacaram a Kennex nas Casas Bahia. O efeito foi imediato. ?Depois disso, o mercado começou a nos procurar?, diz João Paulo. Tanto que, em dezembro de 2005, o Ponto Frio também passou a vender Kennex. Hoje, a marca está em cerca de 1,2 mil lojas. ?Este ano venderemos 200 mil computadores?, diz João Paulo. Só em fevereiro, a Kennex recebeu uma encomenda de 31 mil máquinas. Cada PC, com o Windows Start Edition, HD de 40 gigas, gravador de CD e processador Celeron, custa R$ 1,39 mil. Detalhe: mais barato do que no lançamento em 2003. A queda se deve a fatores como a isenção fiscal de PIS e Cofins conquistada com a promulgação da MP do Bem e o câmbio em baixa. Na ponta do lápis, o valor do PC popular caiu 30%.

O segredo da empresa, num mercado tão competitivo, está no seu modelo de negócios. A estrutura é enxuta e quase tudo é terceirizado. ?Escolhemos os fornecedores e depois colocamos a marca?, diz Júlio Labate, diretor da Componente e braço direito de João Paulo. Isso é crucial num setor cujas margens são pequenas, em torno de 5%. ?A empresa só ganha em grande escala?, diz Denis Gaia, analista de PCs do International Data Corporation, o IDC. Além de estar nas maiores varejistas do País, a Kennex também tem a seu favor o potencial do mercado. Em 2005, foram vendidos 5,5 milhões de computadores no Brasil, um pulo de 36% em relação ao ano anterior. Para 2006, prevê-se o mesmo ritmo. Estudos do IDC mostram que os PCs estão presentes em 17% das residências brasileiras. Nos EUA, esse percentual sobe para 60%. Outro fator que favorece a Kennex é o comportamento do consumidor brasileiro. Pesquisa elaborada pela consultoria especializada em varejo Gouvêa de Souza & MD mostra que as Casas Bahia e o Extra são os locais mais procurados quando se trata da compra de produtos de informática. ?Isso acontece mais com os consumidores das classes B e C?, diz Luiz Góes, diretor de pesquisa da consultoria. ?Nestes locais há crédito fácil?.

O curioso nessa história é que grande parte dos negócios da Componente, a empresa de Diniz, é voltada para o consumidor de maior poder aquisitivo. Ele tem, por exemplo, 50% do grupo Fasano, como o hotel e o restaurante que levam o nome da tradicional dinastia da gastronomia. ?E vamos abrir outro hotel no Rio de Janeiro?, avisa João Paulo. Também é sócio na pousada Maravilha, em Fernando de Noronha, cujas diárias chegam a R$ 1 mil, e é acionista da Flying Horse, que fabrica bebidas energéticas. ?Gosto de diversificar os negócios?. Mais virá por aí. ?Estamos observando o mercado de câmeras fotográficas digitais?. Poderá ser mais um gol de placa desse são-paulino dividido entre a emoção e a razão.