O escritor americano Jack Kerouac influenciou uma geração de rebeldes sem causa, no fim dos anos 50, ao lançar o romance Pé na Estrada
(On the Road). Na obra, o garoto
Sal Paradise sai de casa com apenas US$ 50 no bolso e cai nos caminhos perdidos da América do pós-guerra. O livro transformou-se na bíblia da chamada geração beat. Em sua garupa brotaram outros clássicos da contracultura. Nenhum tão influente quanto o filme Sem Destino
(Easy Rider), de 1969, estrelado por Dennis Hopper e Peter Fonda. É a travessia americana de dois jovens, pelo asfalto e pelo chão de terra, em busca de liberdade a bordo de um par de motocicletas. Até hoje a história permeia o imaginário das pessoas como um sonho. Não é fácil alcançá-lo, é verdade ? mas há modos de fazê-lo real por alguns dias. Agências de turismo oferecem pacotes nos quais o turista percorre a costa americana e os caminhos europeus em cima de motocicletas de até 1.450 cilindradas.

A sensação do vento contra o rosto, cabelos desalinhados ao longo da Rota 66, é muito parecida com a de Billy e Wyatt, os personagens representados por Hopper e Fonda no cinema. O barulho do motor e o cheiro de gasolina compõem a trilha de sensações que pontuam uma única preocupação: desbravar novos territórios. A agência Personal Tour, representante oficial da Eaglerider, empresa de locação de motos da Harley Davidson, montou um pacote que se encaixa perfeitamente nesse perfil aventureiro. O tour pelo Velho Oeste americano dura uma semana (US$ 3.850) e vai de Los Angeles até Las Vegas, passando por paisagens inóspitas dos Estados Unidos, como o deserto do Mojave e o Grand Canyon National Park. O passeio na terra dos caubóis é feito com os melhores cavalos de aço da Harley. Para os que pretendem desafiar a natureza sozinhos, sem contratar uma excursão, há um leque de escolhas: a Fat Boy, a Road King e a Heritage Softail Classic. O aluguel médio é de US$ 124 por dia.

Aparelho de som. Os grupos têm no mínimo cinco pessoas. A vantagem de acelerar com parceiros é a segurança e o conforto. ?Eles vão acompanhados de um guia e um carro de apoio?, diz Lucky Schnitzer, da agência Personal Tour. Se alguma motocicleta quebrar, não há problema. Duas outras estarão prontas para serem usadas como reserva. É preciso ter mais de 21 anos, carteira de motorista com habilitação para motocicleta e cartão de crédito internacional. Perfeitamente encaixado neste perfil, o empresário Roberto Koral, de 43 anos, resolveu desvendar os segredos das estradas americanas a bordo de uma Harley. ?O avião pousou as 9h20, e às 10h30 já estava guiando a moto?, diz. Koral escolheu o modelo Electra Glide que conta até com aparelho de som. Ao ritmo da canção Born to be Wild, do grupo Steppenwolf, Koral rodou mais de 1 mil quilômetros.

Nas letras e nas imagens da tela grande, nos chamados road movies, construiu-se a imagem das viagens de motocicleta como atividade essencialmente americana e suas paisagens sem fim. Não é assim. Na Europa, esse tipo de turismo não pára de crescer. A própria Personal Tour organiza um pacote de 12 dias em que o motociclista viaja pela Alemanha, Áustria e os Alpes suíços por US$ 4,8 mil. A região da Toscana, na Itália, terra de grandes vinhos e arquitetura comovente, pode ser explorada em sete dias. O roteiro, organizado pela agência AircoTour, inclui passeios a cidades medievais como San Giminiano, restaurantes comandados por renomados chefs de cozinha e uma moto BMW 1150 GS com todo o suporte. Preço: 6,6 mil euros. Não é, realmente, para qualquer selvagem de motocicleta.