25/08/2001 - 7:00
Ele quer levar os empresários Antônio Ermírio de Moraes e Joseph Khoury para o seu ministério. Para a Fazenda, seu favorito é o senador-empresário José de Alencar, de Minas. Ninguém saído do mercado financeiro estará no comando do Banco Central e os juros da dívida externa serão renegociados à luz da palavra do Papa João Paulo II. Aos 71 anos, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) persegue seu próximo objetivo sem abrir mão do estilo polêmico e original. Ex-governador do Rio Grande do Sul, ex-ministro da Agricultura e pré-candidato do PMDB à Presidência da República, apresenta um programa econômico em tudo parecido aos controversos e ácidos discursos que pronuncia na tribuna do Senado. ?Os chefes do FMI e do Banco Mundial devem incluir o ministro Pedro Malan em seus quadros de honra?, diz o senador na entrevista a seguir. ?Com ele, o Brasil é dócil e tornou-se a nação que mais paga juros no mundo.?
Continuidade ou rompimento ? ?Essa história do Pedro Malan
de que não há outra política econômica possível não tem lógica.
A dolorosa realidade é que o Brasil quadruplicou sua dívida desde
que Fernando Henrique Cardoso chegou ao poder. Ele privatizou Deus e a terra, deixou apenas a Petrobras e o Banco do Brasil.
Não pode ser comparado com ninguém. (Ernesto) Geisel contraiu dívida mas fez Itaipu. Juscelino (Kubitschek) também contraiu
dívida mas fez estradas. Fernando Henrique vendeu tudo, mas
não para resolver o problema da fome, nem para colocar o Brasil
na era atômica ou o diabo que carregue! Vendeu tudo para pagar
a dívida, mas agora devemos quatro vezes mais do que no início
do seu governo! As pessoas ligadas a ele não deveriam nem dar palpite sobre política econômica.?
Malan ? ?Acho que o ministro Pedro Malan vai ter um quadro de honra nas sedes do Banco Mundial e do FMI. É merecido. Ele é a pessoa que mais deu lucro a essas instituições. Seus chefes vão olhar os serviços prestados e chegar a essa conclusão. Com Malan, o Brasil é muito dócil em suas negociações. Nos últimos dez anos, nenhuma outra nação no mundo pagou tantos juros quanto nós.?
Armínio no BC ? ?Gosto dele, mas é evidente que terá de sair. Não quero no Banco Central ninguém do mercado financeiro. Prefiro os funcionários de carreira.?
FMI ? ?Não creio que o FMI seja responsável pela situação brasileira. O problema é que quem está sentado no cofre aqui no Brasil não quer abri-lo para resolver nossos problemas.?
Dívida externa ? ?Não quero quebrar regras e fazer moratória. Mas não é justo que se tenha no Brasil mais de R$ 100 bilhões para pagar os juros da dívida e não se tenha R$ 5 bilhões para erradicar a pobreza. Temos de provocar um debate que é bom para nós, o da diminuição do pagamento de juros para aplicar o dinheiro economizado no campo social. Aceitaremos fiscalização mundial para esses programas. Os pagamentos que deixarmos de fazer agora serão empurrados para, digamos, uns 40 anos. O Papa é a favor dessa tese. Outro dia ele largou isso na cara do (George) Bush. Eu mesmo disse isso outro dia a um vice-presidente do Banco Mundial, que achou a minha posição digna de se analisar.?
Ele quer levar os empresários Antônio Ermírio de Moraes e Joseph Khoury para o seu ministério. Para a Fazenda, seu favorito é o senador-empresário José de Alencar, de Minas. Ninguém saído do mercado financeiro estará no comando do Banco Central e os juros da dívida externa serão renegociados à luz da palavra do Papa João Paulo II. Aos 71 anos, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) persegue seu próximo objetivo sem abrir mão do estilo polêmico e original. Ex-governador do Rio Grande do Sul, ex-ministro da Agricultura e pré-candidato do PMDB à Presidência da República, apresenta um programa econômico em tudo parecido aos controversos e ácidos discursos que pronuncia na tribuna do Senado. ?Os chefes do FMI e do Banco Mundial devem incluir o ministro Pedro Malan em seus quadros de honra?, diz o senador na entrevista a seguir. ?Com ele, o Brasil é dócil e tornou-se a nação que mais paga juros no mundo.?
Continuidade ou rompimento ? ?Essa história do Pedro Malan
de que não há outra política econômica possível não tem lógica.
A dolorosa realidade é que o Brasil quadruplicou sua dívida desde
que Fernando Henrique Cardoso chegou ao poder. Ele privatizou Deus e a terra, deixou apenas a Petrobras e o Banco do Brasil.
Não pode ser comparado com ninguém. (Ernesto) Geisel contraiu dívida mas fez Itaipu. Juscelino (Kubitschek) também contraiu
dívida mas fez estradas. Fernando Henrique vendeu tudo, mas
não para resolver o problema da fome, nem para colocar o Brasil
na era atômica ou o diabo que carregue! Vendeu tudo para pagar
a dívida, mas agora devemos quatro vezes mais do que no início
do seu governo! As pessoas ligadas a ele não deveriam nem dar palpite sobre política econômica.?
Malan ? ?Acho que o ministro Pedro Malan vai ter um quadro de honra nas sedes do Banco Mundial e do FMI. É merecido. Ele é a pessoa que mais deu lucro a essas instituições. Seus chefes vão olhar os serviços prestados e chegar a essa conclusão. Com Malan, o Brasil é muito dócil em suas negociações. Nos últimos dez anos, nenhuma outra nação no mundo pagou tantos juros quanto nós.?
Armínio no BC ? ?Gosto dele, mas é evidente que terá de sair. Não quero no Banco Central ninguém do mercado financeiro. Prefiro os funcionários de carreira.?
FMI ? ?Não creio que o FMI seja responsável pela situação brasileira. O problema é que quem está sentado no cofre aqui no Brasil não quer abri-lo para resolver nossos problemas.?
Dívida externa ? ?Não quero quebrar regras e fazer moratória. Mas não é justo que se tenha no Brasil mais de R$ 100 bilhões para pagar os juros da dívida e não se tenha R$ 5 bilhões para erradicar a pobreza. Temos de provocar um debate que é bom para nós, o da diminuição do pagamento de juros para aplicar o dinheiro economizado no campo social. Aceitaremos fiscalização mundial para esses programas. Os pagamentos que deixarmos de fazer agora serão empurrados para, digamos, uns 40 anos. O Papa é a favor dessa tese. Outro dia ele largou isso na cara do (George) Bush. Eu mesmo disse isso outro dia a um vice-presidente do Banco Mundial, que achou a minha posição digna de se analisar.
Política industrial ? ?Hoje, o setor financeiro é privilegiado. A economia brasileira dá pouco crédito. É preciso restringir a carteira de títulos públicos dos bancos e direcionar esse dinheiro à indústria.?
Empresários no governo ? ?Um empresário que eu teria com a
maior satisfação no meu ministério, até como ministro da Fazenda,
é o senador José de Alencar. Ele começou do zero e fez fortuna, conhece as dificuldades. Também convidaria um homem como Antônio Ermírio de Moraes. Daria, ainda, um lugar especial
para o presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Empresas, Joseph Khoury.?
Prioridades ? ?Para erradicar a miséria, vou incentivar a agricultura familiar, e não estou falando em economia de subsistência coisa nenhuma! Hoje, em 25 hectares, com a biotecnologia, a agricultura familiar é um fenômeno capitalista que vai muito bem obrigado. Também vou fazer um grande projeto de moradia popular.?
Banco do Povo ? ?Temos de fazer como foi feito em Bangladesh. Criar um Banco do Povo para incentivar a criação de milhões de microindústrias e formar milhões de novos empresários.?
Privatizações ? ?Não temos condições de pensar em reestatização, mas teremos de examinar como foram feitas as privatizações. Eu não perdôo a privatização da Vale do Rio Doce. O que foi feito ali é indefensável. Venderam tudo de uma só vez e, pior, muito barato.?
Reforma tributária ? ?Para fazer a reforma tributária, basta vontade política do Executivo. O (deputado Germano) Rigotto chegou a fazer um projeto onde foram contemplados interesses dos governos estaduais, das prefeituras, dos empresários, dos comerciantes e até dos que representavam o governo federal naquela comissão. Aí mandou-se para votação. E então o governo vetou, para manter todos sob o seu tacão.?
Oposição dividida ? ?Não vejo grandes riscos na divisão das oposições porque o governo não tem a mínima chance de ganhar no primeiro turno. Uma alternativa seria o Itamar apoiar o Lula. Aí teríamos uma chapa com Lula presidente, Ciro (Gomes) vice e o apoio do Itamar. Essa chapa é forte. Mesmo assim eu serei candidato do PMDB.?
Ética ? ?O governo tem de ser ético nos mínimos detalhes. Quando houve o escândalo das fitas do Sivam, o embaixador que ficava no Palácio do Planalto recebeu como prêmio ir para Roma. Está lá até hoje. Mais tarde, ministros foram passear em aviões oficiais em Fernando de Noronha, e nada aconteceu. Minha linha será outra. Quando tiver dúvidas sobre a postura de um auxiliar, o afastarei.