CUT e Força Sindical nunca estiveram tão satisfeitas ? e parecidas ? como agora. Nos milhares de cartazes e centenas de faixas em que convocaram suas bases para o domingo 1o de Maio, em São Paulo, as duas maiores centrais sindicais do País fizeram questão de apagar qualquer referência a protestos. Nenhuma palavra a favor de salários melhores, contra a elevação do desemprego ou de censura à política econômica. Uma explicação está no fato de seus dirigentes terem acertado com o governo, após quase um ano de reuniões com freqüência semanal, os termos de uma reforma sindical cujas linhas mestras estabelecem o fortalecimento deles próprios sobre os sindicalistas de base e garantem mais recursos para os cofres das entidades que chefiam. Com o texto aprovado pelo Congresso, eles terão a chance de traçar um novo mapa sindical brasileiro, efetuando apostas sobre entidades aninhadas debaixo de seus guarda-chuvas e deixando ao relento as que optarem pela rebeldia às grandes estruturas. Diante da promessa de ficarem mais poderosos e mais ricos, por que reclamar?

Num gesto inédito, com o qual sublinharam a docilidade de seu momento, Força e CUT convidaram para seus palanques o presidente Lula em pessoa. Foi um claro sinal de que estariam dispostas a tratá-lo com os melhores modos. Como? Elogiando, por exemplo, o anúncio oficial de um salário mínimo de R$ 300, feito às vésperas do 1o de Maio. ?Não estamos aqui para derrubar o governo, que é um sonho coletivo sonhado por muita gente da própria CUT?, afirmou à DINHEIRO o sindicalista Luiz Marinho, presidente da central. ?Protestamos na hora certa por um salário mínimo melhor e ele está aí. Não é tudo o que queremos, mas é um começo?. A elevação acima de 17% do desemprego entre a população economicamente ativa de São Paulo e os juros de 19,5% cabem noutra conta. ?Nós fazemos pressão contra isso, mas sabemos que coube ao ministro Palocci a tarefa, muitas vezes, de dizer não às nossas pressões?. No passado, a CUT aprovou em plenária a bandeira ?Fora, FHC?, numa mensagem curta, direta de que estava querendo o fim precipitado daquele governo. ?Era mais uma frase crítica do que uma posição radical?, define Marinho. ?Não havia o diálogo que há hoje.?

As festas das duas centrais começam com os primeiros raios do sol de domingo e vão até o final da tarde. Em mais de 12 horas de músicas, brincadeiras e sorteios haverá, é claro, espaço para os resmungos rituais. Em verdade, eles não podem faltar numa data que tem na origem uma greve na Chicago de 1886, feita pela jornada de oito diárias de trabalho, que resultou no enforcamento de quatro operários. No programa da Força, os protestos ficaram demarcados entre 10 e 11h30 da manhã. ?Nosso espelho é o sindicalismo italiano, que consegue fazer festa sem descaracterizar o lado combativo?, conta Paulo Pereira da Silva.

As centrais não tiveram problemas de caixa para montar suas festas. Seus departamentos de marketing obtiveram para cada uma delas R$ 3 milhões junto a empresas privadas e estatais. Os contratos começaram a ser oferecidos seis meses atrás, em troca de grandes espaços visuais aos patrocinadores.

No mundo sindical, muita gente acredita que é a CUT que mais sai perdendo com o movimento de trocar o ato de protesto pela festa bancada pelos patrões. ?Este é o retrato da descaracterização da central, que terá muito trabalho para conseguir recuperar sua credibilidade?, acredita o deputado e ex-sindicalista Ivan Valente, do PT.