17/07/2018 - 8:24
Uma procissão reuniu quase 100.000 pessoas nesta terça-feira (17) em Ecaterimburgo (Urais), para comemorar o centenário da execução pelos bolcheviques do último czar Nicolau II e de sua família, após a abdicação.
O líder da poderosa Igreja Ortodoxa, o patriarca Cirilo, guiou a procissão a pé. Começou às 2h locais, no lugar onde aconteceu o assassinato, em Ecaterimburgo, e terminou no mosteiro de Ganina Yama, a 21 quilômetros dali.
Quase 20.000 pessoas se uniram às comemorações nesse mosteiro, erguido no lugar onde foram enterrados o último czar e sua família após serem executados.
Os participantes carregavam cruzes ortodoxas, ícones e retratos da família imperial.
“Oramos pelo czar e Imperador Nicolau, um mártir. Oramos por aqueles que sofreram com ele”, declarou o patriarca Cirilo à multidão.
“A Rússia deve aprender a lição dessa experiência difícil e amarga”, assegurou.
“Devemos realmente resistir a toda ideia, ou dirigente, que nos proponha – através da destruição da nossa vida, das nossas tradições e da nossa fé – adotar um suposto novo futuro desconhecido e feliz”, acrescentou.
– Queda de braço –
Os bolcheviques fuzilaram Nicolaus II, a czarina Alexandra e seus cinco filhos na madrugada de 17 de julho de 1918, pondo fim a 300 anos de dinastia dos Romanov à frente do império russo.
A família imperial foi canonizada em 2000 pela Igreja Ortodoxa russa e, em 2008, o Tribunal Supremo da Rússia a reabilitou, considerando-a vítima da repressão política bolchevique.
O Estado russo preferiu não comemorar o centenário da morte, apontou Ksenia Lutchenko, especialista da Igreja Ortodoxa russa.
O assassinato de Nicolau II e de sua família “não pode ser usado no quadro da educação patriótica, porque foram fuzilados por membros da Tchéka”, ancestral da KGB, da qual o presidente russo Vladimir Putin foi oficial, explica ela.
Os restos mortais de Nicolau II, de sua mulher e de três de seus filhos foram encontrados em 1979 e enterrados na Fortaleza de Pedro e Paulo de São Petersburgo, em 1998, após uma cerimônia conduzida pelo patriarca da época.
Vinte anos após a exumação, a Igreja Ortodoxa continua a se negar a reconhecer a autenticidade dos corpos.
Já os corpos dos dois filhos restantes, Alexei e Maria, supostamente encontrados em 2007, ainda não foram enterrados por falta de acordo entre as autoridades e a Igreja.
Segundo a Igreja, os bolcheviques queimaram sem deixar traços os corpos das onze vítimas em um fosso numa floresta nos Urais, perto do monastério Ganina Iama.
– Novos testes de DNA –
Por ocasião do centenário da morte do czar, a Igreja poderia considerar um funeral religioso: novos testes de DNA confirmaram na segunda-feira a autenticidade dos restos mortais da família imperial.
O clero examinará “cuidadosamente” esses resultados, indicou o porta-voz da igreja, Vladimir Legoïda, elogiando a “atmosfera de transparência” em que a investigação foi conduzida pelas autoridades russas.
A investigação foi reaberta em 2015 e ainda está em andamento.
“A data das comemorações e a oportunidade de reconhecer (a autenticidade dos restos mortais) já passou: nada impede a Igreja de adiar essa decisão por anos”, diz Lushenko.
“Mas faz anos que o Estado quer acabar com essa história e enterrar todos os filhos de Nicolau II perto de seus pais”, diz ela. “Há sinais de que o governo está perdendo a paciência”, acrescenta.