O entusiasmo que o México tem pelo futebol brasileiro desde a Copa de 1970 vai render em breve mais um fruto. A Cambuci, dona da marca Penalty e maior fabricante de bolas do Brasil, com produção de 2 milhões de unidades em 2000, colocou o país dos sombreros como prioridade número um para seus negócios nos próximos anos. A decisão faz parte da reestruturação radical deflagrada pela companhia, a fim de aumentar a receita no Brasil e no exterior. Em 2001, por exemplo, suas exportações para a Argentina, Chile, Paraguai, Portugal e Espanha, entre outros países, deverão saltar dos US$ 4,5 milhões conquistados em 2000 para US$ 6 milhões. O México, porém, receberá um tratamento totalmente diferenciado. ?Vamos comprar uma empresa local ou fechar uma parceria para conquistar aquele mercado de produtos esportivos, estimado em cerca de US$ 1,5 bilhão?, diz Roberto Estefano, diretor-presidente da Cambuci. O negócio é importantíssimo para a companhia. Além de resultar na primeira fábrica fora do Brasil, servirá como ponta-de-lança para a marca Penalty chegar com mais força aos Estados Unidos. A estratégia ganhará impulso graças ao Nafta, a área de livre comércio da América do Norte, que facilita o trânsito de mercadorias na região. Hoje, as exportações da Cambuci para os EUA são muito pequenas.

Com um faturamento da ordem de R$ 140 milhões por ano, a companhia entende que a futura fábrica no México, a ser inaugurada em 2002, também é uma excelente maneira de driblar o impasse econômico que ocorre na Argentina. Esse país é hoje o maior importador da Cambuci, que abriu inclusive em 1999 um escritório em Buenos Aires. ?Os argentinos devem responder por US$ 6 milhões das nossas exportações neste ano, mas precisamos aguardar para ver como ficará sua situação frente ao problema do câmbio. A situação na Argentina é ruim, enquanto no México é boa?, explica Estefano. Novos planos de expansão do outro lado da fronteira, portanto, estão praticamente suspensos. A escolha do México para sediar a primeira fábrica da empresa no exterior se deve também aos custos dos transportes. ?Fica muito mais barato produzir lá do que levar os produtos do Brasil.? Atualmente, as vendas para o México têm sido esporádicas. Os principais compradores de bolas e materiais esportivos da Cambuci são a Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Portugal, Espanha e Bélgica.

Megafábrica. A decisão de colocar um pé nas vizinhanças dos Estados Unidos faz parte de uma estratégia agressiva de expansão da Cambuci, que inclui jogadas no exterior e grandes lances no mercado interno. No Brasil, a companhia concluirá, até o final deste mês, a construção da nova unidade em Itabuna, na Bahia. Será a maior fábrica de bolas ? de futebol, basquete, vôlei e de outros esportes ? das Américas. ?Passaremos a produzir 3 milhões de bolas na unidade neste ano. Em 2002, ocuparemos a capacidade máxima de 4 milhões de bolas.? Todos esses números assustam e vão contra a estratégia adotada por grandes marcas mundiais, como a Nike, Adidas e Reebok, de terceirizar a fabricação dos artigos esportivos e economizar nos gastos. ?Preferimos ter nossa própria linha de produção, a fim de depender menos dos fornecedores?, alega Estefano. Aparentemente, a estratégia tem dado certo. Além da fábrica de Itabuna, que exigiu um investimento de cerca de R$ 20 milhões, a companhia inaugura em fevereiro uma nova unidade de camisas e calções em Itajuípe, também na Bahia. Com a reestruturação, a Cambuci deixará de produzir no Estado de São Paulo para se concentrar mais no Nordeste, onde recebe incentivos fiscais. A companhia, assim, passará a ter cinco fábricas, incluindo duas no sul de Minas Gerais e outra na Paraíba. Isso sem contar a futura fábrica no México, que dará à empresa o status e a receita de uma multinacional. Olé!