O investidor bem-sucedido tem de ser um mestre em interpretação. Precisa analisar o cenário macroeconômico, decifrar os números fundamentalistas das empresas e deslindar gráficos e tabelas. O primeiro passo, porém, é entender o jargão do mercado financeiro, tarefa que exige um esforço contínuo de atualização. Diversos produtos foram lançados, regulamentados ou começaram a ser vendidos para os investidores brasileiros nos últimos tempos, e essas novidades obrigam quem quiser fazer seu dinheiro multiplicar-se a consultar os dicionários de finanças.

O termo mais recente é a Letra Imobiliária Garantida, produto anunciado na quarta-feira 20 pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. É um título privado de renda fixa de longo prazo, que pagará juros e que vai fornecer recursos para os financiamentos imobiliários. Emitida por bancos, será, como outros títulos imobiliários, isento de imposto de renda. A novidade é que ela terá uma dupla garantia: além da cobertura da instituição financeira que emite a letra, vai ficar separada dos demais ativos do banco, o que é importante caso a instituição financeira seja liquidada.

“No caso de liquidação do banco, o investidor tem o lastro do imóvel como garantia”, explica Arnaldo Curvello, responsável pela gestão da Ativa. “O governo juntou características da Letra de Crédito Imobiliário (LCI) com Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI)”, diz. Mas o que são essas letras? A LCI tem como finalidade o financiamento imobiliário e o risco do papel é do emissor, mas, para investimentos de até R$ 250 mil, possui proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), segundo André Mallet, gerente de renda fixa da Um Investimentos.

Para Otávio Coutinho Vieira, sócio da gestora Fides, uma das vantagens do LCI é o fato de não ter come-cotas, como os fundos de investimento, nem Imposto de Renda. “ Muitos bancos oferecem liquidez diária”, afirma. Já o CRI é um produto que transforma um fluxo de recebíveis de médio ou longo prazo em ativos negociáveis à vista. De acordo com Carlos Ratto, diretor da Cetip, o estoque desse produto em junho era de R$ 50 bilhões, contra apenas R$ 7 bilhões em 2009.

Trata-se de um avanço considerável, mas, na comparação com o estoque de Certificado de Depósito Bancário, que chega a R$ 600 bilhões, o total ainda é pequeno. “Existe muito espaço para crescer”, afirma Ratto. Interpretar claramente o que significa cada ativo é tão importante que a designação de alguns títulos de renda fixa vai passar por uma reformulação, ainda neste ano. O Tesouro Nacional está estudando a criação de nomes fantasia para os papéis negociados pelo Tesouro Direto. A ideia é que passe a ser relacionado à sua remuneração.

Por exemplo, uma Letra Financeira do Tesouro, que é um título atrelado à Selic, poderá se chamar Letra Financeira da Selic. “Em 2012, contratamos uma pesquisa para melhorarmos a relação com o Tesouro Direto e constatamos que o nome dos títulos é algo difícil de compreender”, diz André Proite, gerente de relacionamento institucional do Tesouro Nacional. “A ideia é que os novos nomes convivam por um tempo com os atuais.” Outro termo que está prestes a ficar mais conhecido é o swap de volatilidade.

O banco Société Générale acaba de obter aprovação para registrar esse tipo de estrutura no Brasil. “O objetivo é permitir que os clientes locais tenham acesso a um novo tipo de operação”, afirma Hassan Belkbir, operador de derivativos do banco. Mas, afinal, o que é isso? Trata-se de um instrumento de balcão usado para explorar a volatilidade de ativos – um índice de ações brasileiro, como o Ibovespa, e um internacional, como o S&P 500. “A ideia não é ganhar com a subida ou com a queda dos indicadores. É proteger ou lucrar com a variação”, explica Pablo Spyer, diretor da Mirae.

Colaborou: Márcio Kroehn