19/08/2024 - 16:26
O terceiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pela revista Veja em parceria com a ESPM nesta segunda-feira, 19, foi marcado por ser o primeiro nesta eleição a ter ausências de políticos convidados a participar do confronto.
A deputada federal Tabata Amaral (PSB), o empresário Pablo Marçal (PRTB) e a economista Marina Helena (Novo) foram os três dos seis candidatos que assinaram o compromisso com a organização do evento e, de fato, compareceram. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) esvaziaram o evento e foram criticados pelos oponentes.
Confira os principais momentos do embate entre os adversários políticos.
Críticas aos ausentes
A ausência de três candidatos foi mencionada diversas vezes durante o debate, inclusive com uma pergunta específica de um dos entrevistadores, que questionou o que o eleitor de São Paulo perde com a decisão dos oponentes de faltarem ao evento.
Marçal, quem mais tocou no assunto, falou durante a resposta sobre “abandono parental” e sobre o papel dos homens na sociedade, afirmando que o “mal deste tempo é a desvirilização do homem”. O candidato também tirou o boné “em homenagem” às mulheres que compareceram ao debate com ele.
Tabata qualificou as ausências como “vexame”, “lastimável” e “covardia”. Já Marina Helena escreveu a palavra “fujões” na palma da mão. “Como podemos querer alguém para comandar a nossa cidade que foge do confronto de ideias?”, questionou a economista.
Marçal não debate e manda eleitores acessarem suas redes sociais
Já no primeiro bloco de perguntas, questionado por Tabata sobre o tema “insegurança alimentar”, Marçal alegou que responderia à questão somente em suas redes sociais, usando o tempo destinado a isso durante o debate para ler suas propostas de governo. “Nós temos 28 propostas, número do candidato que vos fala, e essa pergunta vai ser respondida depois do debate”, disse.
Tabata comentou sobre a estratégia, sugerindo que dessa forma um assessor da equipe do oponente pode responder por ele, utilizando ferramentas de busca para compor as respostas. “Essa mesma covardia que a gente está vendo especialmente de Nunes e Boulos, a gente também vê aqui com Marçal, quando se recusa a responder a minhas perguntas e coloca tudo na rede social, porque deve ter alguém lá pesquisando e formulando a pergunta para ele”, disse a deputada.
Marçal deixa Marina Helena ‘falar o que quiser’
Quando deveria fazer sua primeira pergunta, o candidato do PRTB disse para a candidata do Novo “falar o que quiser” em vez de questioná-la sobre algum tema envolvendo a disputa eleitoral. “Marina, fale o que você quiser no seu tempo”, disse. Como mostrou o Estadão, a estratégia já foi utilizada antes, na disputa eleitoral dos anos 2000, pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Naquela ocasião, Collor debatia com Enéas Carneiro e outros candidatos e, ao ser escolhido para perguntar para o médico que concorria pelo PRONA, disse: “Fale qualquer coisa aí”.
Tabata relembra incidentes com funcionários de Marçal
A deputada federal questionou empresário sobre os motivos que o eleitor teria para confiar nele, relembrando casos em que ele colocou em risco a vida de funcionários. Em janeiro de 2022, por exemplo, o então coach promoveu uma expedição em que ele guiou um grupo até o Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, e o evento terminou com o resgate das 33 pessoas pelos Bombeiros.
O candidato seguiu a estratégia de não responder às perguntas. “Não adianta ficar contando fábula, mas quando estão aqui ficam falando de coisas que nem existem”, rebateu o empresário.
Na réplica, a candidata mencionou Bolsonaro. “Nem o Bolsonaro confia em você. Falou nessa semana que você é igual produto estragado. Quando a gente olha para o seu redor o que a gente vê é a equipe do (João) Doria. Pesquisem quem é Wilsinho, que está com ele, Filipe Sabará. Até a calça está mais apertadinha. Você acha que o Bolsonaro lhe rejeita por que você é o Doria 2.0?”, disparou a deputada.
Marçal insinua novamente que um dos candidatos é usuário de drogas
Pablo Marçal voltou a insinuar, sem provas, que Boulos é usuário de drogas. Sobre a ausência do candidato do PSOL, o adversário disse que ele deveria estar em uma clínica de reabilitação. “(Boulos) deve estar talvez numa clínica recuperando de alguma coisa, não sei, deve ser isso, mas eu te vejo no próximo debate”, disse.
Por declarações anteriores de Marçal nesse sentido, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) concedeu neste domingo, 18, direitos de resposta por difamação nas redes sociais de Pablo Marçal.
Tabata defende cobradores de ônibus
Em resposta a Marina Helena, que questionava Tabata sobre impostos, a deputada federal afirmou que tem “muito orgulho de ser filha de um cobrador de ônibus”.
“Marina, que você é descolada da realidade, está claro para todo mundo. Até mal dos cobradores você falou. E eu tenho muito orgulho de ser filha de um cobrador de ônibus, então deixo aqui o meu protesto contra a sua fala absurda”, disse a deputada.
Em entrevista ao podcast O Assunto, do G1, veiculado na última terça-feira, 13, a economista criticou o fato de os ônibus da capital circularem aos domingos, dia em que foi instituída a tarifa zero, com a presença de cobradores.
Apelidos: ‘Smeagol’, ‘Dá pena’, ‘aspirador’ e ‘bananinha’
Marçal continuou “apelidando” outros candidatos, como já havia ocorrido nos primeiros debates, quando chamou Boulos de “comedor de açúcar”, por exemplo.
Desta vez, o empresário usou o termo “Smeagol”, personagem do filme “O Senhor dos Anéis”, se referindo ao atual prefeito durante o debate. Em entrevista coletiva antes do confronto, em alusão ao sobrenome do candidato Datena, disse “Dá pena”. Também mencionou “aspirador”, insinuando novamente, sem provas, que um dos concorrentes é usuário de drogas.
“Você, ‘bananinha’, ‘Smeagol’, nunca foi prefeito. A máquina que está aí, nessa Prefeitura, que governa isso. Você é um cara do Centrão, maquinista. Odeia o Bolsonaro, mas teve que engolir ele porque eu entrei no jogo para forçar você a ter o vice que você não queria e agora você está perdido, né?”, provocou o atual prefeito, que faltou ao debate.
‘Ditadura do Judiciário’
Temas alheios à eleição municipal também marcaram o debate. Marina Helena, por exemplo, questionou Tabata sobre o que chamou de “ditadura da censura do Judiciário” no Brasil.
“Deputada, você defendeu o PL da censura. Tem até um artigo seu para o Estadão defendendo esse PL. Eu acredito que a democracia precisa da liberdade de imprensa. As pessoas devem criticar aquilo que elas não concordam e a gente não deve prender ninguém por conta de opinião”, afirmou Marina Helena.
Tabata disse que acredita em regras que aumentem a transparência das big techs – não para os conteúdos publicados, mas sobre questões como financiamento das postagens impulsionadas, por exemplo.