Sob o clima seco, sol abundante e chuvas escassas no vale do Pedernal, uma das zonas produtoras de vinho de San Juan, localizada a noroeste de Buenos Aires e ao sul de Mendoza, a gigante Pernod Ricard, dona de consagrados rótulos como os dos uísques Royal Salute, Chivas Regal e Ballantine’s, está adicionando alguns blends à sua carta de bebidas. Em vez de voltar os olhos exclusivamente aos tradicionais scotchs, que fizeram a fama da empresa ao redor do mundo, a companhia passou a dar atenção às castas de uvas Malbec, Syrah, Cabernet-Sauvignon e Chardonnay.

Motivo: em 2005, a Pernod Ricard comprou a concorrente inglesa Allied Domecq, líder na produção de vinhos, e iniciou uma revolução no setor. “Depois disso conseguimos investir em tecnologia e aumentamos a produção e a exportação”, disse à DINHEIRO Gerard Danitz, enólogo da Bodega Graffigna, uma das jóias adquiridas pelo grupo francês. Só essa vinícola produz 16 milhões de garrafas por ano – 1,5 milhão exportadas para o Brasil.

Além dela, outras quatro bodegas na Argentina vieram no pacote: duas em San Rafael, outra em San Juan e uma em Salta, que juntas representam 15% do consumo de vinhos na Argentina.

Ao observar o tamanho da Pernod no universo das bebidas, a impressão que se tem é a de que a companhia, como de costume no mercado, é centenária. Ledo engano. Ela foi fundada em 1975, quando Pernod e Ricard resolveram se juntar na França para ter uma pequena produção de licor anis. Aos poucos, a empresa foi crescendo e hoje, presente em 53 países, é a segunda maior do mundo no setor de bebidas. Nos últimos seis anos, investiu mais de US$ 13 bilhões na aquisição da canadense Seagran, responsável pelo uísque Natu Nobilis no Brasil, e da inglesa Allied Domecq. Com isso, a Pernod Ricard triplicou seu faturamento, chegando à marca de 6 bilhões de euros por ano. Além das aquisições, o grande salto aconteceu depois que a companhia partiu para a área de vinhos. “A chave para o sucesso era trilhar dois caminhos ao mesmo tempo”, diz Felipe Assis, gerente da área de vinhos da Pernod Ricard. A companhia já tem 15 marcas instaladas em regiões produtoras como Argentina, Chile, Espanha, França, Austrália, Portugal e Brasil. Detalhe: em 2006, a categoria de vinhos representou 20% do faturamento global da empresa.

Hoje, a empresa fabrica vinhos para todos os tipos de bolsos e gostos, que variam desde os voltados para o consumo de mesa até os premium. “O segredo da Pernod está na sua ótima rede de distribuição”, diz Arthur de Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo (ABS-SP). Entre os consagrados rótulos de Baco, o destaque de bom custo/benefício fica com o australiano Jacob’s Creek Syrah. “A aceitação é ótima”, comenta Azevedo. O preço deste rótulo gira em torno de R$ 30. Quando o assunto é vinho premium, a empresa põe à mesa o champanhe Perrier Jouët, cuja garrafa pode custar R$ 600. A linha mais barata é a da vinícola brasileira Almadén, com garrafas que saem por R$ 12. “Do ponto de vista geográfico, fortalecemos nossa posição em uma série de países. Do ponto de vista comercial, melhoramos nossas ações”, comemora Assis.