22/12/2024 - 15:00
Item quase obrigatório em residências no começo do século XX, as máquinas de costura foram perdendo espaço em meio a mudanças na sociedade como casas cada vez menores e maior acesso ao consumo e compra de roupas em grandes varejistas.
Mas após uma geração que deixou de costurar, jovens adultos voltaram a cultivar o hábito de ter uma máquina de costura em casa, tanto para imprimir a sua personalidade às peças de roupas, quanto para conseguir uma renda extra.
De acordo com a pesquisa realizada pela Singer, 37% dos compradores de máquinas de costura no site da companhia em 2024 têm entre 18 e 34 anos. A segunda maior faixa etária foi entre 35 e 44 anos (20%) seguida pela de 45 a 54 anos (18%), 55 a 64 anos (15%) e mais de 65 anos (11%).
“Depois de uma geração que não costurava, a nova geração voltou a ter o hábito de costurar em casa. A principal motivação é a renda extra. Até mesmo pessoas que respondem pra gente que essa não é a principal motivação, acabam costurando para amigos, vizinhos e cobrando por isso”, afirma Concheta Feliciano, diretora de marketing & e-commerce Latam da companhia.
Segundo a pesquisa da companhia, 60% das máquinas são usadas como fonte de renda extra.
Outra fabricante de máquinas, a Elgin, também reforça que a geração Z representa mais de 30% do público consumidor da marca. Essa faixa etária se interessa por personalização de roupas e da renda extra que essas peças podem render.
“Esse público procura pelas máquinas de costura para customização de peças, buscando desenvolver itens únicos e exclusivos, não apenas para uso pessoal, mas também para revenda, afirma Stephanie Dias, diretora de Produto de Costura na Elgin.
No site da Singer as máquinas de costura caseiras saem a partir de R$ 939. No e-commerce da Elgin, as opções partem de R$ 799.
Primeira máquina levou estilista para a Europa
A presença nas redes sociais tem sido uma das estratégias das marcas para aproveitar o interesse dos mais jovens pela costura. Parcerias com influenciadores do nicho “faça você mesmo” e ligados ao empreendedorismo têm gerado frutos para as marcas.
O estilista Guilherme Valente, de 23 anos, é um legítimo representante da geração Z que ascendeu socialmente por meio da costura. Formado em moda como bolsista do ProUni, ganhou a sua primeira máquina ao conquistar um concurso organizado pela sua universidade e conseguiu um estágio em Milão antes de abrir o seu próprio ateliê em sua casa.
“Eu ganhei o concurso Fashion Noivas na faculdade em 2019 e o prêmio foi uma máquina. Foi o meu primeiro contato com a costura, porque minha avó costurava, mas eu não cheguei a conhecê-la. Com o tempo eu fui fazendo outras parcerias com a marca e atualmente eu tenho duas máquinas aqui em casa, onde eu trabalho”, disse.
Após isso, o jovem ganhou bolsas para estudar em Milão e se especializou em alugar trajes para eventos de gala. Ele já vestiu a empresária Bianca Boca Rosa e figuras como Blogueirinha e a cantora Luci Alves para o baile da Vogue, além da cantora Liniker.
Baiano usou a máquina para alavancar carreira
A costura também pode ser uma boa saída para quem quer criar conteúdo na internet. Foi isso que aconteceu com o ex-estudante de letras Jonatas Verly, de 30 anos. Ao comprar a primeira máquina de costura para a sua mãe, ele se viu interessado em seguir carreira na costura, não como estilista, mas como criador de conteúdo.
Nascido na cidade de Teixeira de Freitas, na Bahia, ele descobriu na costura uma forma de personalizar as suas próprias roupas em uma época em que as varejistas ainda não chegavam na sua cidade.
“Na época eu trabalhava no meio corporativo e gostava muito de usar camisas slim, que eu não conseguia encontrar na minha região. Foi a possibilidade de fazer roupas estilosas e diferentes e de ter um guarda-roupa mais autêntico, com a minha cara”, contou.
Com mais de 660 mil inscritos em seu canal do Youtube, Jonatas também vende um curso online de costura. Para ele, a costura “empodera” os consumidores que querem se sentir bonitos com roupas feitas sob medida.
“Muitas pessoas se voltam para a costura por não encontrarem roupas que atendam às suas necessidades em lojas tradicionais, especialmente aquelas com ‘corpos fora do padrão’ imposto pela indústria da moda. A costura permite personalizar o caimento e as medidas das roupas, garantindo um ajuste impecável e valorizando as curvas e fazendo a pessoa se sentir gostosa”, acredita.
Importação de máquinas de costura cresce
A maior parte das máquinas de costura comercializadas no país vem da China. Levantamento da plataforma Vixtra, solicitado pelo site IstoÉ Dinheiro, aponta que a importação de Máquinas movimentou US$ 115,5 milhões até o mês de outubro, um crescimento de 23% em relação aos números de 2023.
Apesar de ter uma fábrica de agulhas para as máquinas na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo, a Singer não conta com produção local de máquinas e também importa da China.
Esse aumento também impacta nos números da Singer. Conchetta explicou que as vendas de máquinas de costura em 2024 surpreenderam positivamente. A expectativa da companhia era chegar a R$ 500 milhões de faturamento e os números de 2024 vão fechar em torno de R$ 700 milhões em máquinas vendidas. Um dos responsáveis pelo crescimento foi a relativa melhora de grandes varejistas como a Americanas e as Casas Bahia.
Com esse cenário, a expectativa é de que o crescimento em 2025 seja menor, mas o setor deve se manter forte, de acordo com Concheta. A partir de 2026 a executiva mostra preocupação com o cenário econômico brasileiro, mas afirma que o setor pode crescer mesmo com um menor poder de compra do brasileiro.
“O cenário para 2026 é incerto, porque ainda não sabemos como estará o poder de compra do brasileiro. Mas o nosso setor tem essa vantagem que ele pode mostrar crescimento mesmo na crise. Se o cenário econômico é positivo, as pessoas podem comprar outras máquinas para aumentar a produção. Já que ele for negativo, a máquina pode ser um investimento para aumentar a renda”, encerrou.