13/12/2021 - 9:57
Vários livros e uma comissão parlamentar pretendem jogar luz sobre as últimas semanas da presidência de Donald Trump e esboçam cada vez mais claramente o quadro de uma democracia americana em risco.
A comissão da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos sobre o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, promovido por uma multidão leal a Trump, se concentra cada vez mais no ex-presidente e seus principais ajudantes e no que fizeram antes do ataque.
Os legisladores, que entrevistaram quase 300 pessoas, reconstroem os movimentos de Trump depois que perdeu as eleições de novembro de 2020 para Joe Biden e a possibilidade de que estivesse tentando dar um golpe de Estado, uma ameaça sem precedentes para a democracia dos Estados Unidos.
A seguir, um resumo do que aconteceu nas semanas cruciais antes do 6 de janeiro de 2021:
– Trump, disposto a reverter as eleições –
Em meados de dezembro, o advogado John Eastman apresentou a Trump um plano preciso para que o então vice-presidente Mike Pence, que presidiria a certificação, explorasse as brechas legais para evitar que Biden se mudasse para o Salão Oval.
Pence, sob uma crescente pressão, buscou o conselho do ex-vice-presidente Dan Quayle, que insistiu que ele era obrigado a certificar a vitória de Biden.
No entanto, segundo os novos relatos e livros sobre os últimos meses de Trump no poder, Pence não poderia simplesmente dizer “não” ao seu chefe.
“Você não sabe em que posição estou”, disse, segundo “Peril” (Perigo), o livro dos jornalistas Bob Woodward e Robert Costa. No final, Pence certificou o resultado das eleições e uma calma relativa foi restabelecida.
– CIA e Pentágono temiam “golpe” de Trump –
Nas semanas depois que Trump se recusou a admitir a derrota, altos funcionários temiam que pudesse tentar mobilizar o exército para permanecer no poder.
Também temiam que Trump, por frustração, iniciasse uma guerra.
Depois das eleições, a diretora da CIA, Gina Haspel, falou com o comandante do Estado-Maior Conjunto, o general Mark Milley, e disse: “Estamos a caminho de um golpe de Estado de direita. Tudo isso é uma loucura”, segundo “Peril”.
– Guerra com Irã e China preocupada –
Em 12 de novembro, Trump perguntou aos assessores sobre o lançamento de ataques aéreos para eliminar todo o programa nuclear do Irã. Foi persuadido a abandonar a ideia.
Quando o assunto ressurgiu com um ataque à embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, em 21 de dezembro, os funcionários lutaram para conter Trump, segundo “Betrayal”, livro do jornalista da ABC, Jonathan Karl.
Por outro lado, uma situação muito mais grave estava latente: a China estava preocupada que um Trump desequilibrado pudesse atacá-la. E o Pentágono se preocupava que Pequim pudesse lançar um primeiro ataque.
Pouco antes das eleições, Milley tomou a medida incomum de falar com seu colega chinês para oferecer garantias.
“Quero garantir que o governo americano é estável”, disse Milley ao general Li Zuocheng. “Não vamos atacá-los”.
Também fez o mesmo após os distúrbios de 6 de janeiro. “As coisas podem parecer instáveis (…), mas essa é a natureza da democracia, general Li. Estamos 100% estáveis”, afirmou Milley a Li.
– “Entendido?” –
Nas horas posteriores ao ataque de 6 de janeiro, figuras políticas, tanto republicanas como democratas, incluindo algumas no próprio gabinete, sentiram que Trump era instável e deveria ser destituído do cargo pela via constitucional.
A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, perguntou a Milley como poderia evitar que um “presidente desequilibrado” ordenasse um ataque nuclear.
“Os gatilhos nucleares estão seguros”, afirmou Milley, segundo “Peril”. “Posso garantir que isso não vai acontecer”.
Depois, Milley conversou com alguns oficiais superiores e disse que qualquer ordem de Trump deveria ser verificada com ele.
Olhou para cada um deles e enfatizou: “Entendido?”