Não há dúvida de que o alerta do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, de que o pessimismo empresarial trava a retomada econômica carrega um fundo de verdade. Como profecias autorrealizáveis, de tanto acreditar que seus negócios podem sofrer com a crise, vários são os empreendedores que em muitas ocasiões como essa param seus investimentos, engavetam projetos e acabam de fato trazendo para dentro de suas empresas uma brusca freada da atividade que acaba se refletindo nos resultados. Foi o que aconteceu no vendaval dos subprimes americanos em 2008 e é o que pode estar ocorrendo de novo agora. Na entrevista à Folha de S. Paulo, Coutinho avalia o empresariado e o mercado em geral como ciclotímicos – “vai para a euforia e, quando as coisas são mais difíceis, cai numa posição mais pessimista”, diz ele. 

 

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E essa aparente acomodação gera problemas em cascata em todo o parque. Para destravar o processo e revitalizar a atividade industrial é que o governo vem lançando medidas pontuais e precisa, em um segundo passo a ser dado o quanto antes, partir para as chamadas reformas estruturais. É dele o papel inalienável de restaurar o dinamismo da economia, assumindo a dianteira do processo e o protagonismo das ações. Como também podem ser atribuídos a ele alguns erros recentes que provocaram desajustes no ritmo de crescimento que alguns setores experimentavam até então. A derrapagem com o aumento deliberado do IPI de carros importados, por exemplo, gerou vários efeitos colaterais negativos, como o refluxo do mercado comprador, o congelamento nos planos de novas fábricas e a volta atrás no modelo bem-sucedido de investimentos em tecnologia embarcada nos veículos disponíveis ao consumidor. 

 

Da mesma maneira, o aumento do IOF para compras no Exterior e a sistemática desvalorização do real sob a alegação de favorecer as exportações estão provocando sintomas negativos como o encarecimento da matéria-prima para a produção local e o aumento do endividamento de pessoas físicas e jurídicas. A falácia de que o dólar alto ajuda toda a cadeia porque turbina a balança comercial é facilmente provada com os reflexos adversos verificados no conjunto da indústria e com o magro desempenho do comércio exterior, que teve o superávit reduzido, apesar da valorização de mais de 20% do dólar em menos de um ano. Para cobrir esses equívocos vão ser necessárias novas e animadoras gestões oficiais.