25/12/2024 - 9:00
Em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump toma novamente a posse da presidência dos Estados Unidos, com a promessa de retomar o legado do seu slogan de campanha desde 2016, “Make America Great Again”, e o objetivo de alterar de maneira significativa a inserção internacional da maior potência militar mundial.
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A confirmação do senador Marco Rubio para a chefia do Departamento de Estado indica que o republicano tem uma preocupação com a região da América Latina, relegada a segundo plano pela diplomacia norte-americana desde o 11 de setembro de 2001.
Além disso, as recentes falas de Trump suscitam três cenários:
- Pessimista: a política externa resgatará a doutrina diplomática “big stick” de Theodore Roosevelt Jr., com o intuito de deter o avanço regional da China.
- Otimista: a política externa será guiada pela diplomacia de friendshoring, que tem por base a construção de acordos pontuais orientados por objetivos econômicos e políticos compartilhados.
- Intermediário: é a combinação das duas abordagens, com o “big stick” aplicado para aqueles países mais estratégicos e friendshoring para os parceiros menos prioritários.
Independentemente do cenário, é evidente que os princípios do multilateralismo estão fora da agenda de governo. Nesse contexto, o Brasil se vê numa sinuca de bico.
O maior país da América do Sul é governado por um presidente progressista, cuja gestão enfrenta uma forte oposição da família Bolsonaro, parte intrínseca do eixo de extrema-direita próximo ao novo presidente dos Estados Unidos.
Ademais, o país possui uma relação estreita com a China, seu principal parceiro comercial, e assumirá a presidência rotativa do grupo do BRICS em 2025.
O fortalecimento do BRICS e a divergência ideológica dos dois governos podem tornar o Brasil alvo da doutrina do “big stick” de Donald Trump.
A defesa do governo de Lula pela criação de um arranjo alternativo ao dólar norte-americano dentro do BRICS, ora pela construção de uma nova unidade monetária, ora pela consolidação do Renminbi, moeda digital do Banco Central Chinês, aumentam ainda mais esse risco.
Donald Trump já demonstrou sua insatisfação com a proposta de desdolarização e ameaçou aplicar tarifas de 100% sobre todos os países-membros do bloco, causando graves danos à economia mundial e, especialmente, à economia do Brasil.
Em 2021, a revista britânica The Economist já havia destacado a possibilidade de o dólar norte-americano perder força para moedas digitais garantidas por Bancos Centrais, tal como é o caso do Reinminbi.
Além do mais, a pesquisa realizada por Barry Einchengreen (2023) mostra que 10% das reservas dos Bancos Centrais estão alocadas hoje em moeda digital, apesar do dólar ainda ser 70% das reservas.
No caso do Brasil, apresenta-se o complexo dilema. Por um lado, a possibilidade de um imposto 100% nas exportações brasileiras aos Estados Unidos representa um risco, principalmente, à indústria nacional. Pois, como bem destaca a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, os EUA representam “o principal destino das exportações brasileiras de produtos manufaturados e uma fonte importante de insumos para nossa competitividade industrial” (MDIC, 2024).
Por outro lado, a adesão a uma política de Friendshoring, sem apoiar a agenda de desdolarização do BRICS, pode desestimular o investimento chinês, importante motor para o crescimento econômico brasileiro.
Dessa forma, é importante que o governo brasileiro aja com cautela frente ao novo cenário internacional e saiba equilibrar seus interesses estratégicos na relação com os EUA e a China, evitando retaliações que possam impactar na indústria nacional ou comprometer sua liderança regional, potencialmente alavancada por crescimento do IED chinês no território nacional.
*Natalia Fingermann e Fabio Andrade são professores do curso de Relações Internacionais da ESPM