Não é só a discriminação. A desigualdade salarial também é outra marca que impacta as pessoas trans no mercado de trabalho no país. Levantamento realizado pela startup Diversitera e enviado em primeira mão à IstoÉ Dinheiro aponta que brasileiros trans ganham salário médio 20% menor do que o recebido por pessoas cisgêneras desempenhando os mesmos cargos e funções.

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O estudo da Diversitera coletou dados de 128.520 indivíduos em 55 empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacionais, com operações em diversas regiões do país.

O levantamento aponta ainda para uma dificuldade de empregabilidade desta população. Pessoas trans representaram apenas 0,8% da força de trabalho ocupada. Nos cargos de gerência a participação foi de 0,6% e nas posições executivas ficou em 0,3%.

Apesar de ter apurado informações sobre identidade de gênero em seu último censo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não divulgou ainda o dado.

Uma pesquisa feita pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (FMB/Unesp) e publicada em 2021 afirma que pessoas trans e não binárias representam 2% da população adulta brasileira, o equivalente a quase 3 milhões de pessoas.

“É preciso falar sobre isso abertamente e, acima de tudo, implementar políticas concretas de proteção e valorização da presença trans no mundo corporativo”, afirma o especialista em Sexualidade e Gênero da Diversitera, Felipe Batistão.

As dificuldades enfrentadas por pessoas trans

O porta-voz da Diversitera explica que as dificuldades para a população trans começam frequentemente na infância ou adolescência. “É comum que pessoas trans sejam expulsas de casa ainda na infância ou adolescência ficando, assim, sem qualquer rede de apoio. Isso leva à evasão escolar”, diz.

Sem educação formal, a população trans fica de fora das universidades e cursos técnicos e acaba presa a um ciclo de falta de oportunidades educacionais e profissionais.

Para homens e mulheres trans que conseguem uma inserção no mercado de trabalho, os desafios permanecem.  A pesquisa indica que 24% já foram alvo ou testemunha de manifestações preconceituosas em seus ambientes profissionais. Nestes casos, 49% tiveram relação direta com sua identidade de gênero.

“Pessoas trans podem ser julgadas por fatores não relacionados ao seu desempenho profissional, como afinidades pessoais e preconceitos”, explica Batistão. “Podem enfrentar mais dificuldades ou resistências durante negociações salariais, resultando em ofertas iniciais mais baixas e que se propagam ao longo do tempo”, acrescenta.

O que as empresas podem fazer?

A Diversitera lista algumas iniciativas que as organizações podem tomar para reduzir a desigualdade dentro de sua estrutura:

  • Pesquisas de censo, clima, percepção, segurança psicológica etc.: “Dados evitam vieses e garantem resultados mais direcionados e, assim, eficientes”, explica Batistão.
  • Auditoria periódica: Assim, é possível identificar assimetrias e trabalhar para eliminá-las.
  • Transparência: Ter uma política de remuneração clara evita distorções. Os critérios para promoções devem ainda considerar os contextos socioculturais de cada um. Também é aconselhável eliminar perguntas sobre salário anterior, já que elas podem perpetuar desigualdades.
  • Programas de aceleração de carreira: A trajetória marcada pela exclusão pode ser modificada pela empresa com apoio a formação e desenvolvimento dos profissionais trans.
  • Cultura de responsabilização: outro conselho é ir além do compliance e dos canais de denúncia e estabelecer metas e indicadores para reforçar a manutenção do compromisso com diversidade e inclusão das pessoas LGBTQIA+.