Eles chegam ao computador da forma mais inocente possível: entram pelo e-mail como mensagem comum e detonam arquivos e programas. Estamos falando, claro, dos vírus de computador. Dois mil e um vai entrar para a história como o ano do vírus ? por causa de estragos espetaculares de US$ 10,7 bilhões e porque este ano surgiram algumas das espécies mais letais dessa fauna digital. Veja-se o caso do Nimda. Ele surgiu em meados de setembro, vindo da Ásia, e em 20 dias infectou 8,3 milhões de computadores no mundo. O custo estimado da brincadeira foi de US$ 1,5 bilhão. Por que tamanha devastação? Porque os criadores do Nimda, quem quer que sejam eles, conseguiram juntar, num único programa invasor, tudo de ruim que até então havia girado pela internet: enorme capacidade de causar dano, grande velocidade de propagação e exposição das máquinas atingidas à ação dos hackers. ?O Nimda é inteligente. Sempre encontra um jeito de se replicar?,diz Hernan Armbruster, diretor da Trend Micro, empresa de segurança eletrônica.

Em 2001 surgiram nada menos que 11 mil novos vírus na rede, que se juntaram aos 20 mil já existentes. O crescimento é assustador e, em parte, reflete a expansão da internet e do número de seus usuários, que está em cerca de 400 milhões. Quanto mais gente conectada, mais hackers e mais vírus. Por outro lado, a multiplicação de invasões e seus efeitos cada vez mais deletérios mostra que está havendo uma mudança qualitativa. ?Os vírus estão maiores e contêm mais instruções para a destruição?, diz José Roberto Antunes, engenheiro da Symantec, empresa que oferece serviços de proteção aos ataques eletrônicos. Na lista das pragas digitais mais daninhas de 2001 destacam-se, além do Nimda, o Code Red e Sircam. O Code Red surgiu em julho e atacou poucos computadores ? cerca de 10 mil servidores em dois dias ? mas o estrago nesses computadores foi grande. Isso porque ele carrega uma instrução que o faz passar pelos micros e alvejar apenas as máquinas de grande porte, instaladas em ambientes empresariais. É uma espécie de Robin Hood pervertido que foi responsável por perdas de US$ 2,6 bilhões. O Sircam, detectado também em julho, é o contrário disso. Ele se espalha de máquina em máquina, pelo e-mail, como uma mensagem qualquer, e provoca lentidão crescente das operações.

Em todos esses casos, os criadores de vírus também apelaram para a psicologia. As mensagens de e-mail trazendo os vírus passaram a ser muito mais convincentes. As mensagens infectas eram identificadas como relatórios ou outros documentos de trabalho. E ainda que o destinatário desconfiasse e o vírus fosse descoberto, já era tarde: a nova geração não precisa ser aberta ou executada. Quando chega à máquina ela já inicia o processo de instalação e reprodução. No apagar das luzes de 2001, surgiram dois novos vírus: Badtrans e Goner. É cedo para medir seus estragos, mas as empresas de segurança já os consideram tão perigoso quanto o Sircam. Todos foram classificados com nota 4 na escala de periculosidade, que varia de 1 a 5. Aliás, o nível 5 nunca foi empregado. Está reservado para uma praga capaz de paralisar a internet em todo o mundo: o apocalipse virtual, que ainda não aconteceu.