Em reunião nesta quarta-feira, 27, com o ministro da Secretaria de  Governo, Ricardo Berzoini, deputados federais do PT traçaram uma  estratégia de reação ao eventual governo de Michel Temer. A ordem do  Palácio do Planalto é deixar o vice-presidente “à míngua”, sem  informações sobre a gestão, e acelerar os programas em andamento pela  presidente Dilma Rousseff.

Com a certeza de que Dilma será  afastada por até 180 dias no primeiro julgamento no plenário do Senado,  que deve ocorrer em 11 de maio, o governo e o próprio PT já preparam os  próximos passos do divórcio litigioso. Deputados disseram à reportagem,  porém, que o PT desistiu de encampar agora a proposta de antecipação das  eleições presidenciais, porque não pode partir da legenda a ideia de  que é preciso encurtar o mandato de Dilma.

Um dos  participantes da reunião desta quarta-feira – que contou com a presença  de 45 dos 57 deputados petistas e ocorreu na sede do PT – afirmou,  ainda, que não haverá “transição” de governo, com informações sobre cada  pasta. “Transição é quando há um governo eleito, com legitimidade. Não é  este o caso”, argumentou o parlamentar.

No encontro,  comandado pelo presidente do PT, Rui Falcão, deputados disseram que a  ideia de propor a antecipação das eleições presidenciais deve partir da  própria Dilma, como já afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da  Silva.

Lula também conversou sobre esse cenário, nesta  quarta-feira, com senadores contrários e favoráveis ao impeachment. Na  lista estavam Lídice da Mata (PSB-BA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e  João Capiberibe (PSB-AP), que votam para salvar Dilma, além de  Wellington Fagundes (PR-MT), um dos vice-líderes do governo, que agora  se posicionou a favor do afastamento da petista.

Na  terça-feira, Lula já havia se reunido com o presidente do Senado, Renan  Calheiros (PMDB-AL). Apesar de apoiar novas eleições, Renan avalia que é  muito difícil aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre  isso no Congresso, neste momento. Em conversas reservadas, ele sugere  um plebiscito em outubro, quando ocorrerão disputas para prefeitos, para  que a população decida se quer antecipar as eleições. Uma PEC precisa  ser votada em dois turnos em cada casa do Congresso e só é aprovada se  obtiver três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).

Na reunião com Berzoini e Falcão, deputados petistas  disseram que será quase impossível aprovar um plano assim na Câmara  presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A portas fechadas, houve críticas  ao Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda não se posicionou sobre o  pedido da Procuradoria-Geral da República para afastar Cunha do cargo. O  presidente da Câmara é réu em ação autorizada pelo Supremo, acusado de  desviar recursos no esquema de corrupção da Petrobras, e enfrenta  processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Câmara.