O governo federal está usando todas as armas para conter a inflação. Entre elas, uma ressurreição disfarçada do bom e velho controle de preços. Nos tempos em que o economista Antônio Delfim Netto carregava a pasta da Fazenda debaixo do braço, a piada recorrente entre os consumidores era de que o supermercado mais barato do Brasilficava na praia de Botafogo, no Rio. 

O endereço coincidia com o da Fundação Getulio Vargas, responsável pelo cálculo dos índices de inflação. Agora, é possível atualizar a anedota e dizer que o melhor lugar do País para abastecer o carro é o gabinete de Edison Lobão, ministro de Minas e Energia. 

 

Sua Excelência determinou na quarta-feira 10 que a BR Distribuidora, empresa controlada pela Petrobras, reduza os preços da gasolina e do etanol entre 6% e 10%, numa maneira de reduzir os preços dos combustíveis. Ele disse acreditar que o sacrifício da BR, a maior distribuidora do Brasil, vai reduzir o gasto dos motoristas em todo o País. 

 

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Para não perder mercado, as concorrentes serão forçadas a fazer o mesmo. No fim da história, haverá uma boa desinflada dos índices de preços, nos quais os combustíveis ocupam uma posição muito relevante. Não foi a primeira medida de força do ministro Lobão, esgrimindo o potencial de sua pasta contra o dragão. Dias antes a artilharia foi verbal. No dia 3 de maio, Lobão disse em Brasília que a Petrobras iria segurar os repasses do aumento dos preços internacionais do petróleo para a gasolina “até não aguentar mais”. 

 

A decisão não é inédita e tem seus problemas. O mais grave deles é que sua eficácia não é garantida. Nos velhos tempos do ministro Delfim Netto, os postos praticavam preços definidos por Brasília, válidos para todo o território nacional. Os aumentos nos combustíveis costumavam ser anunciados de surpresa no fim do dia, e em geral provocavam longas filas nos postos. Não poucos motoristas saíam de casa à noite para encher o tanque ainda  aproveitando o “preço velho”. 

 

Atual-mente, com a liberalização que começou no governo Collor de Mello e só foi concluída em 2002, cabe aos proprietários dos postos definir quanto vão cobrar. Ou seja, apesar de a BR Distribuidora estar abrindo mão de uma generosa fatia de sua margem de lucro, nada impede que muitos deles considerem que esse abatimento é uma enorme gentileza com a categoria, e não repassável à distinta freguesia.

 

A atitude das autoridades mostra o paradoxo vivido por empresas estatais de economia mista, como a Petrobras, quando estão sujeitas a um governo com apetite intervencionista. Falemos da petrolífera. Ela não apenas é a maior companhia brasileira e uma das dez maiores do mundo em seu setor de atividade. 

 

Também não é apenas a ação mais negociada na bolsa, com algumas centenas de milhares de acionistas no Brasil e no Exterior. Também é uma estatal, ou seja, uma empresa que pertence a todos os cidadãos brasileiros. E será nos bolsos deles, motorizados ou pedestres, que vai parar a fatura dessa intervenção na bomba de combustível.